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Crítica | Blade Trinity

por Fernando Campos
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Em determinado trecho da crítica de Blade II, comento que o longa consegue ser melhor que seu antecessor em todos os fatores, mesmo que o primeiro seja bom. Ao assistir Blade Trinity, é triste constatar que o longa consegue absolutamente o oposto, uma vez que não apenas falha em alcançar o nível dos filmes anteriores, como também peca na execução de tudo o que propõe.

A história mostra como, diante do implacável Blade (Wesley Snipes), os líderes dos vampiros iniciam várias ações para tentar neutralizar o caçador. Primeiramente, ressuscitam o vampiro Drácula (Dominic Purcell), a criatura terrível que foi a origem de sua raça e, depois, iniciam uma campanha difamatória contra seu algoz, incentivando o FBI a ir atrás dele. Com tantas ameaças pela frente, Blade se une aos Nightstalkers, uma legião de caçadores de vampiros liderada por Abigail (Jessica Biel) e Hannibal King (Ryan Reynolds).

Tematicamente falando, Blade Trinity é o filme mais vazio da trilogia. O roteiro não desenvolve nenhum subtexto interessante e sequer traz reflexões sobre o mundo dos vampiros, pelo contrário, foca em interações com o mundo dos humanos, através da trama envolvendo o FBI, que não acrescenta ao longa, como a inútil cena da entrevista com um psicólogo e um policial no início.

Em Blade Trinity, o roteiro foca totalmente no engrandecimento de Blade, algo exemplificado na fala inicial do longa, em que Hannibal King diz “Tudo começou com Blade e termina com Blade. O resto é figuração”. No entanto, a estratégia se mostra desnecessária, visto que conhecemos o personagem de filmes anteriores, dando a sensação de que a obra tenta reforçar algo já comprovado, como se temesse a indiferença do público.

Entretanto, o longa não precisaria ter um subtexto ou um roteiro rico se, ao menos, fosse divertido, porém, falha até nisso. As coreografias são lentas e pouco inventivas, enquanto o arsenal utilizado pelo protagonista também parece limitado aqui. Já o arco e flecha utilizado por Abigal é uma novidade para a trilogia, mas a personagem não tem nenhuma grande cena com o objeto.

Aliás, diante de um vilão do quilate de Drácula, até havia potencial para grandes momentos de ação, contudo, a obra jamais consegue entregar um momento memorável entre antagonista e herói. No que diz respeito às cenas de luta, são momentos genéricos, incapazes de representar o real poder dos dois personagens, como na cena em que eles simplesmente correm entre prédios; já quando dialogam, as falas não passam de ‘‘um dia a sede sempre vence’’ por parte do vilão.

Infelizmente, tudo o que envolve o Drácula é extremamente decepcionante. O visual do personagem é ridículo, vestindo uma calça de couro com uma camisa aberta que lembra mais um dançarino de salsa do que o rei dos vampiros. Dominic Purcell até tenta construir uma voz imponente para o personagem, mas não consegue transmitir qualquer imponência, sensualidade ou ímpeto violento, ou seja, falha em construir qualquer característica marcante de um vampiro.

Entretanto, Drácula não é o único vilão ruim do longa, visto que o grupo de vampiros, composto por Danica Talos, Asher e Grimwood, é extremamente estereotipado e, pior ainda, são usados em momentos de gags. Porém, ao analisar os mocinhos, percebemos que definitivamente não há nenhum personagem bem escrito no longa. Abigail sugere ter um passado complexo que jamais é explorado e Hannibal King não passa de um alívio cômico sem graça. Esses elementos impedem o elenco de fugir de interpretações apenas razoáveis.

Aliás, assim como o passado de Abigail, o roteiro parece predisposto em criar situações e abandoná-las logo sem seguida, como, por exemplo, o diálogo em que King questiona Blade sobre o que fará caso elimine todos os vampiros, visto que também é um deles, mas a obra sequer resgata o tema no decorrer da projeção. Além disso, quando Drácula diz que Blade é uma evolução dos vampiros, a fala parece apenas uma frase de efeito jogada em um momento de maior dramaticidade, visto que é uma mensagem distinta da postura do protagonista.

Dito tudo isso, fica claro que Blade é o único personagem digno de nota aqui, ocorrendo mais pelo conhecimento que já temos sobre o protagonista e interpretação de Wesley Snipes do que por mérito do roteiro. Em contrapartida, a forma com que Whistler é morto merece críticas, acontecendo de maneira quase banal e demonstrando total desrespeito com um personagem tão importante nas obras anteriores.

Se não bastasse escrever um roteiro tão limitado, David S. Goyer também dirige o longa com igual desinspiração. A escolha por rodar tantas cenas diurnas é errada e a direção de arte não constrói nenhum cenário interessante, resultando em uma obra que não consegue criar qualquer atmosfera intimidadora ou atraente. Para piorar, nos poucos momentos em que Goyer tenta empregar algo diferente, como nas time lapses, eles parecem meros exercícios técnicos, não encaixando em nenhuma estratégia da fotografia. Já a montagem apresenta cortes demais na ação e, aliada a enquadramentos fechados demais, impedem o público de ter um entendimento maior das cenas.

Com um roteiro tão fraco e uma direção tão comum, David S. Goyer não só falhou em dar uma conclusão digna para Blade, que vinha de dois bons filmes, como enterrou qualquer possibilidade do personagem ter continuidade no cinema nos anos seguintes. O caçador de vampiros merecia um final digno.

Blade: Trinity — EUA, 2004
Direção:
David S. Goyer
Roteiro: David S. Goyer
Elenco: Wesley Snipes, Kris Kristofferson, Parker Posey, Jessica Biel,  Dominic Purcell, Ryan Reynolds, John Michael Higgins, Callum Keith Rennie, James Remar, Natasha Lyonne
Duração: 113 min.

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