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Crítica | Bling Ring: A Gangue de Hollywood

por Guilherme Coral
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estrelas 3

Baseado no artigo de Nancy Jo Sales para a Vanity Fair, Bling Ring: A Gangue de Hollywood nos traz a história de um grupo formado por quatro garotas e um garoto que roubavam propriedades de valor das casas de astros de Hollywood. Novamente a diretora, Sofia Coppola, nos conta uma história sob o ponto de vista de cidadãos privilegiados, apostando nesse olhar minucioso sobre seus problemas emocionais e psicológicos, discretamente criticando não somente eles como o mundo ao seu redor. Essa sua obra, contudo, traz problemas consideravelmente maiores que as suas anteriores.

Embora toda essa gangue seja objeto de estudo de Coppola, o filme claramente mantém o foco maior em Marc (Israel Broussard), um rapaz que acabara de entrar em uma nova escola e acaba conhecendo Rebecca (Katie Chang), de quem rapidamente vira amigo. Não demora muito para que comecem a praticar pequenos roubos, aproveitando de carros deixados abertos na rua, o que acaba escalando para invasão de propriedade de famosos, junto de Nicki (Emma Watson), Chloe (Claire Julien) e Sam (Taissa Farmiga). O que não esperavam era se tornarem eles próprios celebridades após serem descobertos.

Por mais que, claramente, retrate cada um dos personagens como criminosos, evidenciando o erro de seus atos, Coppola se abstém de grandes julgamentos acerca de seus comportamentos. A intenção de humanizar seus personagens é evidente e, através de tal escolha narrativa, entendemos o porquê de cada um deles fazer aquilo, por mais fúteis que sejam as suas motivações. A diretora/ roteirista deixa que nós próprios formemos a opinião sobre esses indivíduos retratados, permitindo, portanto, que nos identifiquemos com eles, por mais surreal que isso possa parecer.

Chega a ser curioso observar como realmente ficamos preocupados que eles sejam pegos em flagrante e, nesse quesito, nós próprios abrimos um diálogo interno, visto que não sabemos se devemos “torcer” por eles ou não. Evidente que isso é fruto da narrativa estabelecida pela realizadora, que mantém a possibilidade de serem presos como constante através do medo verbalizado de Marc, que repetidas vezes funciona como a voz de cautela dentro dessa gangue. O simples fato de sabermos, desde o início, que eles serão descobertos, é claro, também influencia nesse fator, criando em nós a dúvida de quando isso irá acontecer.

Coppola também brinca com nossa percepção e expectativa ao utilizar enquadramentos que nos fazem sentir como se estivéssemos no lugar de uma testemunha de tais atos. Por vezes a câmera é posicionada à distância, como se alguém enxergasse os crimes de longe, ou toma lugar, emulando webcams e câmeras de segurança, abrindo, portanto, a questão: eles estão sendo observados por terceiros? Isso dialoga com a despreocupação do grupo em relação aos sistemas de segurança internos das casas invadidas, ingenuidade essa, que, claro, acaba custando a eles suas liberdades.

A obra, porém, falha em desenvolver cada um de seus personagens, praticamente se dividindo em dois únicos atos: antes e depois de serem pegos. Não existe qualquer evolução desses indivíduos que acompanhamos, a única diferença sendo que realmente descobrimos quem cada um deles é no momento da crise. A mudança, portanto, ocorre da água para o vinho, questão justificada pelo roteiro, mas que nos faz questionar a necessidade de inúmeras sequências dentro da obra, visto que muitas são repetitivas e não acrescentam em absolutamente nada. A intenção de Coppola se mantém clara: a de expor suas personagens por baixo de suas máscaras, além de jogar a hipocrisia delas em tela, mas isso acaba perdendo o impacto pela ausência de gradação em seus desenvolvimentos (ou ausência deles).

Apesar disso, todo o elenco consegue nos convencer do início ao fim, com o destaque indo para Emma Watson, que, aqui, desempenha seu papel mais distante de seus anteriores. Ela nos entrega o retrato da hipocrisia e superficialidade, com o seu sonho único sendo aquele de ser reconhecida, se tornar famosa. Seja através do olhar ou linguagem corporal, a atriz verdadeiramente surpreende, mostrando toda a sua pluralidade e que é capaz de se destacar fora do seu lugar comum.

É uma grande pena que essa personagem, assim como os outros do elenco principal, sejam desperdiçados em uma trama rasa, que, apesar de ser retratada com a emblemática visão de Sofia Coppola, não consegue nos cativar verdadeiramente. Bling Ring: A Gangue de Hollywood é muito mais forma do que substância, com uma bela premissa, bem executada, mas que carece de qualquer desenvolvimento apropriado de personagens – um filme que diverte e só.

Bling Ring: A Gangue de Hollywood (The Bling Ring) — EUA/ Reino Unido/ França/ Alemanha/ Japão, 2013
Direção:
Sofia Coppola
Roteiro: Sofia Coppola (baseado no artigo de Nancy Jo Sales)
Elenco: Katie Chang, Israel Broussard, Emma Watson, Claire Julien, Taissa Farmiga, Georgia Rock, Leslie Mann, Carlos Miranda
Duração: 90 min.

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