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Crítica | Braven

por Ritter Fan
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Imaginem vocês um experimento pioneiro em que um filme seria escrito e dirigido por um computador dotado de inteligência artificial. Nessa fase “beta”, muito provavelmente, o resultado não seria um filme como Cidadão Kane ou Os Sete Samurais, mas sim algo bem mais básico e rasteiro, um padrãozão da indústria. Braven poderia muito facilmente ser essa criação cibernética nesse cenário hipotético. Não há nada no filme, do título até a trilha sonora, passando pelo elenco, direção de arte ou efeitos especiais que não pudesse ser feito por um computador criado por uma encubadora de universidade com esse propósito.

Afinal, a produção canadense dirigida pelo dublê e coordenador de dublês Lin Oeding, em seu primeiro longa, é um “copia e cola” de todos os arquétipos dos filmes de “pancadaria” do tipo que marcaram mais especificamente os anos 80. Está tudo lá: o cara durão e invencível, a família em perigo, o vilão vilanesco até a alma, ambiente isolado e, claro, todo tipo de instrumentos mortais à disposição. E que fique muito claro que não estou dizendo que essas característica necessariamente resultam em um filme ruim, mas sim que, para que ele realmente se destaque hoje em dia, há a necessidade de um “algo a mais”, de elementos que vemos, por exemplo, em O Protetor, De Volta ao Jogo ou até mesmo Busca Implacável.

Infelizmente, não há nada parecido em Braven, nada que torne a experiência cinematográfica diferente ou particularmente memorável, além de ser um filme B protagonizado por Jason Momoa, nome da moda, mas que, como ator, se pensarmos friamente, não sabe fazer papel algum diferente do seu estereótipo padrão de “bárbaro sarado e grunhidor” sem um pingo de carisma como seus colegas oitentistas ou mesmo os protagonistas dos três filmes mais recentes e no mesmo espírito que citei acima. No entanto, isso não quer dizer que Braven não divirta daquele jeito bem rasteiro e simplista que volta e meia temos até vergonha de afirmar que é tudo o que queremos em determinado momento.

O fiapo de história, resultante de um roteiro de Michael Nilon e Thomas Pa’a Sibbett é linear: Joe Braven (Momoa) e seu pai (Stephen Lang) que sofre pelo começo dos sintomas de demência, vão para a cabana da família em região montanhosa para conversar sobre o que fazer em razão da doença, sem saber levando Charlotte (Sasha Rossof), filha de Joe, escondida no carro, e acabam se envolvendo com uma gangue de traficantes de drogas liderada por Kassen (Garret Dillahunt) que quer recuperar um carregamento que o amigo e funcionário (Brendan Fletcher) traidor de Joe deixara por ali. Tudo é uma desculpa truncada e falsamente complexa, claro, para começar uma guerra campal com os traficantes de um lado e com os Braven de outro, o que poderia ser evitado completamente se os envolvidos pensassem de maneira serena e não sentissem coceira no gatilho (ou no arco e flecha…).

O resultado é aquela pancadaria divertida com uma fotografia de Brian Andrew Mendoza que faz bom proveito do cenário naturalista gelado e do ambiente fechado da cabana montanhosa. Claro que as presenças físicas de Momoa, daquele seu jeito que já nos acostumamos, Lang, também seguindo seu padrão de personagem, ainda que com o detalhe da demência levando a alguns momentos diferenciados e Dillahunt, caladão, mas carismático como sempre, ajudam nesse divertimento que deixa muito sangue manchando a neve, com direito a algumas mortes criativas.

Dentro da proposta, o filme cumpre sua função, mas tem um começo arrastado demais, com um roteiro que insiste em vagarosamente demais estabelecer cada personagem e cada situação em detalhes completamente desnecessários, como o didatismo da função de Weston (Fletcher) e a pancadaria de bar resultante do problema mental do pai de Joe, que simplesmente não funciona bem como catalisadora da viagem para a cabana. Outras conveniências são risíveis, como a imbecilidade completa de Kassen que se recusa a evitar o derramamento de sangue de maneira completamente irrazoável mesmo para um vilão de sua categoria e a conveniência de virar os olhos representada pelo fato de Charlotte (Jill Wagner), esposa de Joe, ser instrutora de tiro com arco, algo que obviamente será utilizado mais para a frente.

A fita não faz muito uso de efeitos especiais, mas, quando faz, é um desastre completo, ao ponto de ser constrangedor. São, basicamente, duas ou três sequências filmadas em chroma key que parecem ter sido feitas pelo estagiário que serve o cafezinho da equipe de efeitos. Fica tão gritante que esses momentos arrancam o espectador violentamente da imersão cinematográfica, detraindo muito da experiência. E o pior é constatar que seria perfeitamente possível encontrar soluções no roteiro para evitar as peripécias exageradas que tornam os efeitos necessários, especialmente o patético momento final do embate entre Joe Braven e Kassen.

Repensando a analogia inicial, creio que a I.A. atual já seja capaz de fazer um filme menos rasteiro que Braven. Talvez a melhor comparação sejam com blocos de montagem tipo Lego, com uma criança tentando fazer algo diferente apenas com o mesmo tipo de bloco e de uma cor só. Pode até ficar bacaninha, mas não dá a menor vontade de deixar montado por muito tempo…

Braven (Idem, Canadá – 2018)
Direção: Lin Oeding
Roteiro: Michael Nilon, Thomas Pa’a Sibbett
Elenco: Jason Momoa, Garret Dillahunt, Stephen Lang, Zahn McClarnon, Jill Wagner, Sala Baker, Brendan Fletcher, Teach Grant, Sasha Rossof, Fraser Aitcheson, James Harvey Ward, Patrick Kerton, Steve O’Connell, Tye Alexander
Duração: 94 min.

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