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Crítica | Canibais (2013)

por Guilherme Coral
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estrelas 3

Eli Roth já tem seu nome ligado a filmes com violência explícita há algum tempo. Diretor de O Albergue e sua primeira sequênciaCabana do InfernoBata Antes de Entrar seus filmes procuram abordar  os desejos mais sombrios do ser humano, geralmente com bastante gore a fim de garantir um maior impacto  no espectador. Em Canibais, Roth volta seu olhar para os filmes italianos do gênero, produzidos no final dos anos 1970/ início dos 1980, como Holocausto Canibal, o qual fora banido por mostrar a morte de animais de verdade, mais especificamente uma tartaruga e que conta com um filme fictício sendo filmado dentro dele, cujo nome é justamente The Green Inferno, nome original da obra aqui criticada. Acima de tudo, a obra aqui criticada é uma homenagem a esses longa-metragens, não somente pelo teor violento de suas cenas, como pela atmosfera criada.

Justine (Lorenza Izzo) é uma jovem estudante americana que acaba se envolvendo com um grupo de ativistas da faculdade que planeja viajar para o Peru, especificamente para uma porção da floresta Amazônica que está prestes a ser desmatada por uma corporação visando a exploração do gás natural no local. Na volta da viagem, porém, o pequeno avião  no qual se encontram sofre uma pane e acaba caindo no meio da mata. Lá o grupo inteiro é capturado por uma tribo indígena, a mesma que eles procuravam salvar do desmatamento. Pouco sabiam eles, contudo, dos hábitos canibais desse povo.

Como de costume na grande maioria dos filmes de terror, o roteiro de Guillermo Amoedo e Eli Roth gasta um tempo considerável nos momentos antes da crise estourar. O problema é que grande parte das sequências que nos são trazidas não acrescentam em absolutamente nada na progressão narrativa. Mesmo a mensagem que o diretor procura passar através de sua obra em nada é influenciada através desse trecho inicial, nos passando a nítida impressão de que não se passa de uma pura enrolação. É evidente que Roth e Amoedo pretendiam explicitar o despreparo e a ingenuidade desses ativistas, mas já conseguimos enxergar tudo isso conforme avançamos na trama.

Passando por esse penoso início, que evidencia as péssimas atuações presentes no filme, chegamos ao que realmente importa: a captura do grupo pelos canibais. Aqui a homenagem aos cults italianos se mostra de forma mais evidente. A violência é explícita e não discrimina qualquer um, independente de gênero ou etnia. Tudo é mostrado de forma visceral e chega a provocar risos de nervosismo no espectador. Através da direção de Roth, que sabiamente foca nos sobreviventes, ocultando o que se passa fora da gaiola na qual se encontram, uma expectativa rapidamente é formada no espectador, o que é salientado pelo nosso não entendimento do que os indígenas falam. Dessa forma, não sabemos exatamente o que irá acontecer a seguir e a tensão formada nos prende às imagens exibidas.

Existe, porém, uma inconstância nesses momentos mais tensos, o ritmo estabelecido por Roth não consegue se manter, por já causar o maior choque nos primeiros momentos da captura. A sensação que nos é passada é que o longa não sabe encontrar sua linguagem de fato, visto que oscila entre o gore e cenas que buscam esconder esse fator. Faltou uma decisão mais firme do diretor em nos chocar e, graças a isso, a sensação de adrenalina no espectador logo vai passando.

A direção de arte segue o caminho óbvio com um foco considerável nas cores quentes, que ocupam o espaço visual na aldeia no qual os ativistas estão sendo presos. O verde da floresta que os rodeia passa a representar, portanto, uma espécie de libertação, ao ser contraposta com o amarelo e o vermelho presente nos indígenas, o que é algo irônico se considerarmos o título original do filme. A verdade é que, apesar dos deslizes cometidos ao longo da narrativa, sentimos um grande alívio quando vemos, enfim, somente a paisagem natural.

Há quem diga que Roth defende o imperialismo e o colonialismo em virtude da forma como retrata a população indígena local, mas isso é uma constatação rasa e ingênua. Quem conhece a filmografia do diretor sabe que essa não é sua intenção e é muita ingenuidade acreditar que as grandes corporações precisam de uma justificativa, além do lucro, para desmatarem as florestas ao redor do mundo. Temos aqui um filme cujo maior intuito é chocar o espectador através de uma temática que retoma filmes dos anos 1970/80. A intenção de Roth não é defender a prática dessas grandes empresas e sim mostrar como as pessoas podem ser controladas, enganadas e, em virtude disso, defenderem uma causa sem o menor preparo, tanto em termos de conhecimento de mundo, como psicológico. Dois exemplos claros disso é a cena exagerada do menino que precisa de um banheiro para urinar, quase não conseguindo fazer isso na mata e, é claro, o plot twist que ocorre na metade da história. Além disso, o realizador procura evidenciar essa questão nos momentos finais e acaba seguindo por um rumo mais politicamente correto ainda que totalmente irreal.

Canibais é um filme que diverte o apreciador de filmes gore e que traz imediatas lembranças de obras como Holocausto Canibal. Eli Roth, contudo, tenta encontrar uma linguagem para sua obra sem, de fato, conseguir e nos traz um amontoado de cenas que parecem ter sido filmadas cada uma com um diferente intuito pelo diretor. Com uma violência explícita, na maioria das sequências, esse definitivamente não é um longa-metragem para ser visto por todos, mas, quem já conhece e gosta da filmografia do diretor, certamente deve assistir esse daqui, apesar de seus muitos deslizes.

Canibais (The Green Inferno) — EUA, 2013
Direção:
 Eli Roth
Roteiro: Guillermo Amoedo, Eli Roth
Elenco: Lorenza Izzo, Ariel Levy, Aaron Burns,  Daryl Sabara, Kirby Bliss Blanton, Magda Apanowicz, Sky Ferreira, Nicolás Martínez
Duração: 100 min.

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