Home QuadrinhosEm Andamento Crítica | Capitão América: Steve Rogers #1 [A chocante revelação sobre quem ele realmente é]

Crítica | Capitão América: Steve Rogers #1 [A chocante revelação sobre quem ele realmente é]

por Luiz Santiago
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estrelas 3

SPOILERS! SPOILERS! SPOILERS!

Dia 25 de maio de 2016: o dia em que a Marvel e o roteirista Nick Spencer levaram todos os fãs do Capitão América à loucura — e não de um jeito bom. A revista Capitão América: Steve Rogers é uma nova publicação da Casa da Ideias (malucas) e traz Steve Rogers em mais uma série solo e novamente com carinha sem rugas, após ter sido rejuvenescido pela criança-cubo-cósmico chamada Kobik — conforme os eventos vistos em Vingadores: Impasse, de 2016.

Desde que Rogers envelhecera, em decorrência dos acontecimentos de O Prego de Ferro (clique aqui para saber mais), o manto do Capitão América ficou a cargo de Sam Wilson, o Falcão. Após a saga Impasse, tanto Rogers quanto Wilson mantêm o título, cada um agindo em frentes diferentes, o primeiro mais ligado à S.H.I.E.L.D. e o segundo, aos Vingadores. É nesse novo momento que entra a série Capitão América: Steve Rogers, que estreou com uma das mais polêmicas e questionáveis revelações da Marvel nas últimas décadas sobre um personagem bem estabelecido e importante como o Capitão América.

capitao america

A edição traz arte de Jesus Saiz e cores de Joe Caramgna, ambos com trabalho bem interessante, principalmente do meio para o final da revista. Os desenhos se dividem em dos estilos, um de finalização mais suja e de traços grossos, com forte contraste entre luz e sombras, exposição de branco como reflexo e misto de realismo e impressionismo nos desenhos, gerando uma sensação estranha, mas visualmente bonita. O segundo estilo ocorre no flashback da história e possui uma finalização austera, quase clássica, com traços de lápis e técnicas de retrato que caem muito bem à época retratada (o ano de 1926) e serve de grande contraste para o estilo mais ‘solto’ usado para retratar o presente.

A trama não muda muita coisa do que esperamos de uma edição de início de série. A maioria delas possui um padrão simples de apresentação dos (novos e velhos) personagens, estabelece o protagonista nesta nova fase, apresenta uma ou outra explicação em caráter didático e, do meio para frente, dá as cartas para um cliffhanger que irá alavancar o drama dali em diante. Nesse ponto, Spencer é preguiçoso aqui. Não há esforço algum para fugir desse aparato clichê de apresentação e, embora estejamos falando de uma boa revista, ela tinha muito para ser melhor construída. Contudo, olhando friamente para o que preenche essa estrutura narrativa, entendemos o por quê da escolha.

Basicamente a exploração de elementos da infância de Steve Rogers foram mantidos. O que se acrescentou aqui foi a presença da Hydra...

Os elementos da infância de Steve Rogers foram basicamente mantidos. O que se acrescentou aqui foi a presença da Hydra…

Temos em cena a Nova Hydra, liderada pelo Caveira Vermelha e já com alguns membros ilustres como Elisa Sinclair, Battlestar Johngaltica (uma hacker), Robbie Dean Tomlin e alguns seguidores facilmente manipuláveis pelo discurso de supremacia e excelente retórica do Caveira — destaque para a discussão de condições sociais e a facilidade (não pré-disposição) de entrada para o mundo do crime. Também aparece aqui, pela primeira vez, os Novos Mestres, que é mais uma reunião cômica e patética do que um grupo de vilões com o objetivo de ascender como guerreiros neonazistas e “colocar ordem neste mundo podre“. Liderado pelo Barão Zemo e composto pelos ridículos Inferno (Richard Dennison), Homem-Planta (Samuel Smithers) e Tigre Voador, os Novos Mestres são apenas uma ideia de grupo que nos faz rir, mas que serve de motor para a revelação chocante no final.

O que vale realmente a pena nesta edição é a adequação correta do discurso do Caveira Vermelha em nosso tempo, sem que o personagem soe anacrônico ou mesmo repetitivo. Não que as ideias defendidas por ele sejam outras. Mas vocês sabem que existem inúmeros arranjos e aplicações para uma ideologia, especialmente se ela abraça diversas camadas de uma civilização como Estado, sociedade civil (ou vida pública) e vida pessoal. Dessa forma, fica fácil entender e gostar da crítica de Nick Spencer ao ódio étnico, centrado, aqui, nos imigrantes europeus.

Quero só ver o que vão inventar para tirar da nossa memória essa infâmia.

Quero só ver o que vão inventar, no futuro, para tirar da nossa memória essa infâmia cometida pelo Capitão: o assassinato de Jack Flag.

Talvez como um tipo de revisitação ao cânone do Bandeiroso, surgem aqui velhos companheiros, a Redentora (Kath Webster) e Jack Flag (Jack Harrison). A participação deles é interessante, fraterna, patriota e equilibra forças para o lado do Capitão, enquanto este luta contra um grupo de membros da Hydra para resolver o caso de um jovem-bomba em um trem. Como já comentei, o esqueleto da edição é clichê, mas no final das contas, os valores discutidos por ela têm seu valor.

É na reta final, no entanto, que a grande polêmica aparece. Como viram acima, o Capitão mata Jack Flag e, como veem na página abaixo, a última página da revista, ele diz HAIL HYDRA, duas coisas que dizem, sem dizer, que ele é membro da organização. Quanto aos meandros do tipo: “é um clone, é um sósia, é controle mental, é um robô, um impostor“… nada disso cabe aqui. Nick Spencer deixou bem claro em entrevista que o homem que vemos aqui é, de fato, o Steve Rogers que a gente conhece desde 1940… No mesmo dia, Tom Brevoort, coeditor da revista, disse à Time que a próxima edição irá fazer com que esta nova informação se encaixe na linha do tempo do ex-herói até agora e que a ideia disso tudo vem sendo cozinhada desde o final de 2014. Pois é. Essa eu quero ver.

O que não fica claro na história é se o Picolé-Nazi foi Hydra o tempo inteiro e estava só esperando o momento certo para sair do ovo… ou se essa é uma “coisa de agora”. A primeira possibilidade é a mais falha de todas, a meu ver. Talvez se colocarem a explicação algo como “evento recente” seja melhor de engolir, se bem que nem eu, que não dou muita bola para o personagem, jamais perdoarei a Marvel por cometer uma heresia dessas.

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E então vem a pergunta final: por quanto tempo isso vai durar? Porque, sinceramente, eu duvido que isso seja algo definitivo. Não estou acreditando nem que a editora tenha dado o aval para uma bobagem dessas, imagine só a manutenção! Em termos de drama, convenhamos, a coisa toda funciona que é uma beleza. Pensem bem. Claro que parece novela e tudo, mas não é nada diferente do que a maioria dos quadrinhos mainstream vêm apresentando nos últimos anos (e quero até ressaltar, antes que alguém venha xingar minhas gerações futuras: eu disse maioria e mainstream, não totalidade).

Alguns leitores estão levantando a tese de que “é preciso ser aberto a riscos e a novas propostas“. Bem, olhando apenas para o que foi feito aqui em produção de uma história com roteiro e arte em pauta, não há dúvidas de que o material foi bom. Nada genial ou inesquecível ou necessário… apenas bom. Mas não podemos nos esquecer de que há um cânone a ser levado em conta. O Capitão América é um personagem de grande peso, tanto para a nona arte quanto para o imaginário popular, isso tem de ser valorizado. Ou a trama que virá para sustentar isso será tremendamente boa e poderosa… ou isso será a maior bola fora da Marvel desde há muito tempo.

O que vocês acham de tudo disso? Podem desabafar à vontade.

Captain America: Steve Rogers #1 (EUA, 25 de maio de 2016)
Roteiro: Nick Spencer
Arte: Jesus Saiz
Cores: Jesus Saiz
Letras: Joe Caramgna
Capa: Jesus Saiz
34 páginas

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