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Crítica | Carros 3

por Davi Lima
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O princípio Pixar de moldar universos para estimular a realidade, especialmente quanto ao tempo, é o que revigora a franquia em Carros 3. Faz-se, assim, o protagonista Relâmpago Mcqueen em sua essência, como racer, na perspectiva do esporte evoluir tecnologicamente na indústria automobilística, e tudo que a envolve a verossimilhança disso, o centro de mudança temporal. Não há mais a referência familiar ou nostálgica que a Pixar tem da história do cinema, existe uma conversa com um passado do mundo Carros, ou com o primeiro filme em si. 

Diretamente é uma narrativa de conflito nostálgico da Pixar com sua dependência empresarial, com novas políticas sociais que clamam no discurso do tempo, mesmo que sendo tratada de maneira secundária. Em constante impregnação associativa, até mesmo pela trilha sonora de Randy Newman e recapitulação de storytelling de viagens interestaduais dos EUA, em que o antigo artista conceitual Brian Fee se torna o diretor, o espaço de viagem torna-se relevante, com canções que acompanham assim como o primeiro filme Carros se apresentou ao público. Corrida, GPs, carros, viagens, esse foi o mundo que o diretor John Lasseter queria através de uma homenagem criar o seu mundo de carros como seres dominadores, em que o diretor de fotografia Jeremy Lasky ao longo da franquia evoluiu em tornar mais palpável na recriação digital de paisagens, especialmente no último filme em que a medida comparativa é direta ao seu primeiro trabalho de Radiator Springs, e ao mesmo tempo que a narrativa sobre o tempo anseia para que o espaço seja mais apreciado.

Porém, agora, o efeito do tempo, não da corrida em si, como mote para compreensão de essência de um carro, quanto a oportunidades e como se define um bom treinamento para racers, tudo isso eleva o patamar de um novo universo visual. Aplica-se um cuidado maior de remasterização, o 3D e a fotografia se dispõem a mais dramatização, planos abertos, maciez de pneus na pista, um senso de realismo que “fisicaliza” o tempo no mundo em que carros não envelhecem por rugas, e sim cansaço ou aparatos visuais tecnológicos. Relâmpago Mcqueen quando se desvencilha de sua capa tecnológica e brilhante, quando rasga-se essa película tecnológica, não apenas mostra-se sua libertação física da modernização visual e tecnológica, e sim seu número de corrida. Por causa do diretor Brian Fee, criado dentro da Pixar para conceituar artisticamente as animações, a direção em unidade se preocupa em evidenciar mais dos movimentos, dos conceitos físicos que estruturam os carros. 

Então, o acidente na corrida, a ambientação das pistas antigas e os centros de treinamentos vão agregando a decisão do protagonista quanto a crença no melhor treinamento exclusivamente para ele, como sua decisão de se aposentar. O filme progressivamente ao mesmo tempo que dar novas chances para Mcqueen dar a volta por cima como carro mais velho, e todas as piadas de ancião, etc, que nada combinam com o visual de Relâmpago, ao mesmo tempo contam a história das corridas, determinando o conflito alternativo de se perder a essência no tempo quando ela está confundida apenas com o esporte, apenas como racer. Por isso a treinadora Cruz Ramirez, feminina, mulher, em seu conflito sobre oportunidades de ser corredora cresce à espreita, é a virada do meio do filme. Porque quanto mais se vai para o passado o presente se revela, pois como o treinador de Doc Hudson chamado Smokey disse: a verdade corre rápido.

Assim, Ramirez é a quebra da emulação da jornada do herói que se torna a do ancião, é a contrapartida amenizada dentro da história que foca no drama de Relâmpago Mcqueen. Toda a conclusão burocratizada de comprar empresas, de passar o bastão que compartilha vitória e o aprendiz se tornar mestre é a dificuldade de cisão completa com a emulação do primeiro filme, conservando o ciclo. Toda a obra parece defraudar o espectador quanto a volta por cima, quando na verdade a temática do esporte é sobre oportunidades dentro do desenvolvimento tecnológico. A oportunidade de escolher parar e de impulsionar outro racer. Por isso é possível ver a diferença, a falta de ciclo que o filme tenta querer enfiar como justificativa da enganação saudável de trocar a expectativa tardia, como Mcqueen mesmo fala.

Carros 3 é isso, uma obra assumidamente tardia dentro dos parâmetros familiares de cisão. Uma franquia, assim como Mcqueen, fadada a velhice de brinquedos trocados por videogames, que dar um último suspiro no retorno às origens da Pixar para evidenciar seus olhares modernos afunilados, eufemizados, mas relevantes dentro da empresa da Disney.

Carros 3 (Cars 3) – EUA, 2017
Direção: Brian Fee
Roteiro: Kiel Murray, Bob Peterson, Mike Rich
Elenco: Owen Wilson, Cristela Alonzo, Chris Cooper, Nathan Fillion, Larry the Cable Guy, Armie Hammer, Ray Magliozzi, Tony Shalhoub, Bonnie Hunt, Lea DeLaria, Kerry Washington, Bob Costas, Margo Martindale
Duração: 102 min.

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