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Crítica | Castanha

por Gisele Santos
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Em um primeiro momento, Castanha pode causar estranhamento. Afinal, o filme dirigido por Davi Pretto mistura ficção com realidade. O espectador não sabe se está diante de um documentário ou de um filme convencional. E é assim que o longa segue por uma hora e trinta e cinco minutos, causando momentos de perturbação, emoção e melancolia.

A fita acompanha a vida do ator João Carlos Castanha (interpretando ele próprio) que vive em Porto Alegre com a mãe idosa e sobrevive com pequenos papéis em peças de pouca repercussão e público e ainda do trabalho na noite GLBT como uma espécie de mestre de cerimônias de uma boate. No meio de tudo isso, Castanha ainda precisa driblar os problemas frequentes de saúde e o vício de seu sobrinho com o crack que assombra frequentemente a família.

Pretto mostra o cotidiano sem graça de Castanha com muita calma, por meio de planos bem abertos e lentos da vida em um bairro de classe média baixa da capital gaúcha. A extensão de algumas cenas, por vezes desnecessárias, demonstra o quanto a vida do protagonista é melancólica e sem atrativos. Mas quando ele se veste para a noite, quando incorpora seus personagens para a diversão de outros homens, Castanha se transforma, e a câmera de Pretto demonstra bem essa mudança com planos mais fechados e alguns poucos sorrisos do ator.

O elenco, que na verdade é composto pela família e amigos reais de Castanha, interpreta bem essa rotina de vida em frente às câmeras. Inclusive a mãe, Celina, que por vezes derrama sua preocupação com o filho e com o neto em momentos de pura emoção e simplicidade.

O resultado é ousado, ainda mais para as plateias nacionais acostumadas a filmes mais fáceis e frequentemente inspirados nas tramas novelescas das nove, mas Pretto merece nosso respeito pela proposta experimental de Castanha. Estar entre o documental e a ficção é o maior trunfo da obra, que encantou plateias nos festivais por onde passou, como Berlim, Copenhague, Edimburgo, só para citar alguns. Outra questão importante levantada por Pretto é o limite entre a atuação e a realidade: até que ponto Castanha é ele mesmo ou uma mera interpretação de um personagem? Apesar da coragem, o roteiro deixa mais perguntas do que respostas ao final.

Como gaúcha que sou ficou mais fácil entender alguns momentos da projeção. Por exemplo, os bairros citados no longa, os bares por onde Castanha se apresenta na noite e o mundo “marginal” que ele habita. Também por ser daqui, saí do cinema com muito orgulho da ousadia experimental de Pretto e com a esperança renovada de uma nova vida ao cinema gaúcho, que mostra tão pouco dos talentos desta terra.

Castanha (Brasil, 2014)
Direção:
Davi Pretto
Roteiro: Davi Pretto
Com: João Carlos Castanha, Celina Castanha, Zé Adão Barbosa, Francisco Jairo da Silva, Gabriel Nunes, Lauro Ramalho
Duração: 95 min.

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