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Crítica | Cavaleiro de Copas

por Rafael W. Oliveira
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O cinema de Terrence Malick chegou a um ponto onde existe uma barreira para quem poderia permanecer em cima do muro acerca de suas obras. Tal impedimento surge como consequência ao ápice sensorial A Árvore da Vida, que solidificou para Malick um estilo de filmagem e técnica à favor dos discursos metafísicos que viria igualmente acompanhar Amor Pleno, quebrando aqui o longo espaço de tempo que o cineasta levava entre um filme e outro, e entre discussões aqui e acolá, pode-se questionar se tal intensidade na atividade é colaborativa para Malick, especialmente quando chegamos em Cavaleiro de Copas.

Tudo o que existe para que possamos identificar algo como “um filme de Terrence Malick” está aqui em igual abundância com A Árvore da Vida e Amor Pleno (e que já havia sido pincelada em O Novo Mundo): a metafísica refletida na forte estética, o caos das imagens como referência ao caos na vida do ser humano, o fluxo constante de frames aliados a discursos proferidos em off sobre existencialismo e a redenção no divino… Toda a identidade de Malick está aqui, mas desta vez pouco parece preencher as necessidades da obra diante das frivolidades com a qual o diretor inunda seu filme.

Claro que, como o sensível criador de ambientações humanistas que é, Malick sabe como estabelecer seus personagens e abraça-los com a forma de suas temáticas, seja o núcleo familiar em Árvore da Vida, seja a busca incessante pelo amor de Amor Pleno. Aqui, Rick (Christian Bale) é um ator de Hollywood bem-sucedido financeiramente, sempre rodeado mulheres, festas e bebidas, mas que em dado momento passa a questionar as facilidades dessa vida e sua rara capacidade em preencher o difícil relacionamento com o pai (Brian Dennehy) e o irmão (Wes Bentley), além da ex-mulher (Cate Blanchett). Assim, Rick vai questionando o sentido de sua vida enquanto se relaciona com diversas mulheres ao longo do caminho.

Cavaleiro de Copas, mais do que nunca, necessita da posição de cada espectador para ser entendido em suas impressões metafísicas, filosóficas e estéticas, ou repudiado como um filme tão vazio e frívolo quanto o protagonista e sua jornada. Não há, claro, como negar que Malick ainda impressiona, E MUITO, com sua linguagem tão arrojada, corajosamente desprendida de conceitos convencionais para sua narrativa, desafiando aqui a percepção do público sobre uma sucessão de imagens que muito parecem saídas de um sonho límpido, tirando a realidade do que se passa na tela ao mesmo tempo em que mantém firme a humanidade dos rostos que passeiam pela tela. O cinema de Malick é desafiador, para o bem ou para o mal.

Mas isso basta para Cavaleiro de Copas, cuja superficialidade no estudo das relações e a busca pela redenção divina como consequência, parece fazer questão de se manter no mesmo terreno banal como as dúvidas do protagonista? Existe a impressão de que temos o olhar certo para a temática errada, uma vez que o constante passeio pelos devaneios e indagações do protagonista não abre margens para grandes leituras ou interpretações consistentes, o que denota a própria limitação do material de Malick.

Assim, não há como definir se o filme carece de ambição (ou sofre com o excesso dela) ou pesa a mão na simplicidade discursiva do roteiro em rodeios de Malick, que 40 anos após sua primeira tomada nos cinemas, enfim cai de vez na obviedade.

Cavaleiro de Copas (Knight of Cups) — EUA, 2015
Direção:
 Terrence Malick
Roteiro: Terrence Malick
Elenco: Christian Bale, Cate Blanchett, Natalie Portman, Brian Dennehy, Antonio Banderas, Freida Pinto, Wes Bentley, Isabel Lucas, Teresa Palmer, Imogen Poots
Duração: 118 min.

 

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