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Crítica | Chico Bento Moço #14 e 15: Ajuste de Contas e A Assombração do Laboratório

por Luiz Santiago
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As edições #14 e 15 da revista Chico Bento Moço foram publicadas nos meses de setembro e outubro de 2014, ambas com roteiros de Petra Leão. Na edição de setembro, tivemos a continuação não consecutiva do arco envolvendo Anna e Genesinho (com o lance da gravidez, etc.) e no segundo, o aproveitamento do hype vindo com o Halloween para a exposição de uma história de terror.
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Ajuste de Contas

Jack Rumble, o irmão de Anna, vem ao Brasil para ver como a irmã está e, fazendo jus ao título da edição, ajustar as contas “de homem para homem” com Genesinho, que não quer assumir a paternidade do filho que Anna espera sem que ela faça um teste de DNA.

Depois de muitas leituras nós ficamos calejados e aceitamos comprar a ideia de determinadas aventuras como forma de vermos, dentro de determinado padrão, o seu desenvolvimento. Mas isso não significa que estejamos felizes com o resultado, como é o meu caso em relação a esse arco vai-e-volta. Tudo bem que existe toda uma questão moral em Anna não querer fazer o teste de DNA, mas… o que custa? Ela faria, provaria que o bebê é realmente de Genesinho e… pimba! Acabou o problema e a frescura do playboy mimado.

A outra questão é o fato de Anna ter um irmão 16X16, um soldado de elite, que de alguma forma só agora (podemos assumir que se passaram dois meses desde a chegada dela ao Brasil, certo?) veio saber o que estava acontecendo. Não cola, não funciona bem. Mas se toparmos aceitar, o restante até que se encaixa de maneira razoável.

Não há brilhantismo algum em Ajuste de Contas, mas o roteiro não é mal escrito. Existem muitos momentos insossos, destacando-se “a caça do gato ao rato” (lembrem-se de A Briga do Chico com a Rosinha e vejam que temos exatamente a mesma estrutura narrativa) feita por Jack a Genesinho, mas a história é, na medida do possível, fiel ao seu mundo. Não existem desprezíveis absurdos sobrenaturais (Perdidos no Pantanal) ou vergonhosas investidas em gêneros consagrados (Mundos em Conflito).

Conflitos humanos, amizade, brigas, maldade e bondade são vistos no decorrer da história, sentimentos e comportamentos comuns a qualquer núcleo narrativo com o propósito da revista Chico Bento Moço. Não é nada original e não se constrói sem tropeços, mas no fim das contas, funciona e acaba agradando.

Chico Bento Moço #14: Ajuste de Contas (Brasil, setembro de 2014)
Roteiro: Petra Leão
Arte: Lino Paes, José Aparecido Cavalcante
Arte-final: Diversos
Páginas: 98

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A Assombração do Laboratório

Convenhamos que o roteiro de A Assombração do Laboratório não é uma novidade e nem se esforça para trazer coisas realmente interessantes para o gênero em que se localiza (é uma edição de Halloween, gente!), mas Petra Leão consegue fazer um trabalho positivo ao misturar nuances de O Iluminado e Poltergeist com o drama da fantasma (nada camarada) que assustava os rapazes solitários no laboratório da UFA.

Sejamos francos e objetivos: o ponto realmente bom do texto é, curiosamente, aquilo que Petra Leão normalmente usaria de forma ruim em uma edição fora do horror: o sentimentalismo. Mesmo sendo uma revista “sombria”, há amizade (Chico e Cia. Ltda.) e flerte (Bombeta com qualquer fêmea / Vespa e Fran / Fran e Chico…), sem contar o sentimento de pertencer a um grupo que marca a fantasma Velentina e seu “caso não resolvido” na dimensão dos vivos.

Mais uma vez, a trama se ajusta melhor quando vista no todo e é necessário um bom esforço para gostar dela, diferente de histórias como a excelente A Primeira Semana, onde o leitor se sente tão animado e feliz com a qualidade do enredo que não quer parar de ler e fica chateado quando acaba. Isso porque, nesta edição, há coisa infantil demais, boba demais, fraca demais para o mundo de um universitário, especialmente no caso do Chico Bento, que até então se mostrava um personagem bastante maduro, não apenas um jovem de bom coração e com uma grande necessidade de ajudar todo mundo.

A relação do Chico com os fantasmas aqui não é estranha porque isso faz parte da vida dele desde quando era criança, como ele mesmo diz, citando a Vó Dita e tudo mais. Estranho é vermos um Chico moço ter diálogos de um Chico criança, e o mesmo vale para os seus amigos da faculdade. Sinceramente, me parece que Mauricio de Sousa e Marina Takeda e Sousa, os supervisores dos roteiros da CBM, deram ouvidos à estupidez de alguns leitores que reclamaram na internet sobre o “tom adulto” das primeiras edições desta série e forçaram os autores a trilharem um caminho mais… idiota… nas edições. É a única explicação que eu tenho para isso.

Para mim, infelizmente, Chico Bento Moço está entrando em um limbo. Já estou na trilha das “últimas chances” para ver se a coisa melhora de verdade, caso contrário, mais uma produção nacional que terei de cortar da minha lista de leituras mensais porque a série, que começou boa demais, descambou para um modelo cada vez menos inteligente e fora do mundo que pretende retatar.

A Assombração do Laboratório #15 (Brasil, outubro de 2014)
Roteiro: Petra Leão
Arte: Lino Paes, Roberto Martins Pereira
Arte-final: Diversos
Páginas: 98

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