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Crítica | Chico Bento Moço #9 e 10: Perdidos no Pantanal

por Luiz Santiago
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O que deu na editora Mauricio de Souza para permitir que Petra Leão assumisse o roteiro de Chico Bento Moço das mãos de Flávio Teixeira de Jesus, que vinha fazendo um trabalho excelente na série? É incompreensível que se tire um roteirista que elencava elementos de maturidade e cotidiano NORMAL de um jovem universitário para entregar a alguém que comete um arco estúpido e inteiramente distinto de tudo aquilo que vinha sendo trabalhado em CBM até a edição passada.

Que o universo do Chico Bento era (em tempos dele criança) pontuado por aparições folclóricas e impossibilidades comuns de verossimilhança, isso sabemos. Até a Graphic Novel de Gustavo Duarte, Pavor Espaciar, brincou com esse fato. Em Chico Bento Moço, também tivemos aparições misteriosas, como o Reitor Fantasma e o “anjo” milagroso em Vila Abobrinha. Mas cada uma dessas aparições e mistérios, sejam para o Chico criança ou para o Chico moço, vinham acompanhadas de um significado orgânico na história narrada. Os arcos em andamento (ou as pequenas histórias dos Almanaques) tinham espaço para esse tipo de inserção, o que não acontece no enredo de Perdidos no Pantanal.

Na edição #8 dessa série, intitulada Mistério na Roça, observamos como se concluiu o impasse da grande geada no sítio dos pais de Chico, algo que já vinha sendo estruturado antes. Não houve barra forçada ou estranhezas narrativas. Naquela ocasião e na forma como foi construída, a aparição e a ajuda divina faziam sentido. No final desta edição temos a multiplicação dos pães e Chico e os pais caminhando abraçados em direção à porca da casa na fazenda. Entendemos, portanto, que usando o sentido lógico de cliffhanger de todas as edições da série até o momento, a edição #9 começaria com a volta de Chico para Nova Esperança ou para algum momento de convivência do jovem nessa cidade, um ponto de partida simples mas que vinha funcionando muito bem até então.

Mas Perdidos no Pantanal começa com a HORROROSA mistura de fotografias do Pantanal com a arte de José Aparecido Cavalcante. Essa mistura de fotografia e desenhos não funcionou bem em nenhum momento da trama, apesar dos esforços do artista em escolher paisagens e momentos simpáticos da história para adicionar os desenhos. Dessa introdução no melhor estilo Globo Repórter, temos o BIZARRO “acidente” de avião e então, em um vergonhoso flashback, entendemos como Chico e seus amigos chegaram até ali.

Eu simplesmente não vou entender a necessidade de fazer uma aventura longe de Nova Esperança se a edição anterior já tinha sido longe da cidade! Cadê a lógica do “lá e cá” obedecida maravilhosamente até a edição #8? Depois, qual é a graça de colocar uma imitação constrangedora de LOST? Esse fan service acabou saindo pela culatra, porque elementos folclóricos brasileiros misturados com a mitologia dessa série americana não só não combinaram como também forçaram uma situação inteiramente distante, inaplicável e inaceitável para Chico Bento Moço, pelo menos nessa fase da revista ou no modo como a trama foi concebida.

Sequestrada pela colocação e fotografias, a arte é apenas mais um tropeço na história e ainda sofre com terríveis problemas de dimensões entre os personagens durante as edições. Estava demorando para estragarem uma série que ia tão bem das pernas até agora. Mas enfim, fizeram. Uma verdadeira lástima.

Chico Bento Moço #9 e 10: Perdidos no Pantanal (Brasil, 2014)
Roteiro: Petra Leão
Arte: José Aparecido Cavalcante
Arte-final: Diversos
98 páginas (cada número)

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