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Crítica | Cidades de Papel

por André de Oliveira
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John Green arrebatou a crítica, o público e os corações do mundo inteiro em 2014, quando teve seu livro mais famoso, A Culpa é das Estrelas, adaptado para as telonas. Depois de arrecadar em bilheteria vinte e cinco vezes mais o valor de seu custo, o filme fez com que Green alavancasse mais ainda sua carreira literária e, também, com que outra adaptação rapidamente começasse a ser desenvolvida. Como não se mexe muito em time que está ganhando, Cidades de Papel chega contando com grande parte da equipe por trás de A Culpa, principalmente os roteiristas Scott Neustadter e Michael H. Weber.

Esta nova adaptação conta a história de Q e Margo, dois adolescentes da cidade de Orlando que se conhecem desde criança. Amigo na infância mas afastado na adolescência, Q tenta lidar com o amor reprimido que sempre sentiu pela menina, sustentado sempre por superlativos, como qualquer adolescente faz: “a menina mais legal de todas”, “a criatura mais linda que Deus criou”, “a menina que vive as aventuras mais épicas de todas”. Em uma noite aparentemente comum, eis que Margo surge na janela de Q e o convida para ajudá-la a realizar uma lista de tarefas. Acreditando que finalmente se reaproximará de sua musa, o garoto vive aqueles momentos sem saber que esta é a última noite que a verá. No dia seguinte, ele acorda e descobre que a garota simplesmente desapareceu. Desesperado para tentar entender a ligação entre a noite que viveram juntos – que foi a última que Margo passou em Orlando – e seu desaparecimento, Q embarca numa busca para descobrir o paradeiro da jovem.

Nat Wolff e Cara Delevingne estão muito à vontade como os protagonistas, assim como o restante do elenco, que parece ter sido todo escolhido a dedo (principalmente Austin Abrams, que dá vida a um Ben engraçado sem jamais parecer forçado). Q (Wolff) é a personificação da segurança, do planejamento, do discurso pensado, da introspecção; Margo é a inquietação, o questionamento, a afobação e a imprevisibilidade da juventude. Através do contraste entre os dois personagens, a direção comum de Jack Schreier vai nos mostrando, sem arriscar em nenhum momento, a desconstrução e a desmistificação dos protagonistas: Q quer casar, ter filhos e uma carreira bem sucedida – tudo isso antes dos 30! –; Margo acha esse o pensamento mais patético do mundo (olha o superlativo adolescente aí mais uma vez) e quer viver todas as experiências que a vida tem a oferecer, para assim, se descobrir como pessoa e traçar seu rumo.

É importante ressaltar que os fãs mais ferrenhos do livro – assim como eu – deverão ir com calma, se não podem se decepcionar um bocado com a adaptação de Cidades de Papel. Os roteiristas Scott Neustadter e Michael H. Weber tomaram muito mais liberdade com este roteiro do que com o de A Culpa é das Estrelas (até porque Cidades não chega com o alarde e expectativa que A Culpa tinha), chegando a alterar até algumas das mensagens do material original. E, ao tomar essa liberdade, principalmente no desfecho (que se afasta bastante da obra literária), eles acabaram pecando no cuidado com outros aspectos que dariam muito mais força à história: a investigação das “migalhas” deixadas por Margo é mostrada de forma simplista, mecânica e rápida, o que dá aquela sensação de “fácil demais”; também não há paciência para desenvolver ou amadurecer o mistério (no livro, somos apresentados a diversas possibilidades, inclusive uma possível morte da menina). O final agridoce do livro está lá, mas a direção de Schreier é tão simplória que quando os acontecimentos decisivos vão chegando, o espectador não se sente chegando a um clímax, as coisas simplesmente acontecem, sem muito alarde ou demonstração de relevância.

Mesmo sabendo que a linguagem literária é uma e a do cinema é outra, não vejo outra alternativa a não ser fazer aquele velho discurso: Cidades de Papel é mais um caso de adaptação aquém da obra original, que só deverá satisfazer por completo aqueles que não tiveram contato com o excelente livro de John Green. A essência da história original está lá? Está, mas com tantas modificações, é inevitável sentir que ela ficou um tanto perdida em meio a todos os outros ensinamentos e reflexões que Q tira de sua aventura.

(Fica a dica da excelente canção Smile, de Mikky Ekko, que embala o trailer oficial e tem muito a ver com a história, mas não toca no filme)

Cidades de Papel (Paper Towns) – EUA, 2015
Direção: Jack Schreier
Roteiro: Scott Neustadter e Michael H. Weber (baseado no livro de John Green)
Elenco: Nat Wolff, Cara Delevingne, Justice Smith, Austin Abrams, Halston Sage, Griffin Freeman.
Duração: 109 min.

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