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Crítica | Claymore – Vol. 1

por Guilherme Coral
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estrelas 4

A Europa medieval ou, ao menos, uma versão fantasiosa dessa, sempre estivera presente nos mangás japoneses. De BerserkVinland Saga, inúmeras temáticas foram abordadas pelos quadrinhos orientais, que, naturalmente, imprimem muito de sua própria cultura em suas obras. Claymore é uma dessas obras que facilmente poderia ser confundida, por um olhar menos cuidadoso, apenas como uma espécie de cópia do já citado Berserk.  Norihiro Yagi, contudo, que assina como roteirista e artista da obra, demonstra desde cedo que estamos falando de um mangá com identidade própria, que consegue nos proporcionar uma atmosfera única, que marca o leitor de imediato.

claymore-panini-1A base de sua linha narrativa é bastante simples e a originalidade da obra certamente não parte daí. A história é centrada em Clare, membro de uma organização sem nome que caça criaturas conhecidas como yoma por dinheiro. A protagonista é uma das guerreiras chamadas de claymore – parte humano, parte yoma que vagam por essas terras medievais solitariamente a fim de cumprir suas missões. Após salvar uma vila de um desses monstros, Clare acaba sendo seguida pelo jovem Raki, que acabara de perder toda sua família para a criatura. Juntos eles seguem essa jornada, enquanto o menino aprende mais sobre as claymore.

Norihiro Yagi faz um ótimo trabalho, neste primeiro volume, nos introduzindo a esse mundo de fantasia sombria. Embora acabe soando demasiadamente didático em algumas páginas, o autor consegue equilibrar a ação de seu mangá com essas “aulas” sobre a mitologia desse universo. Evidente que Raki está presente na história para atuar como nossa porta de entrada, o elemento com o qual nos identificamos, mas é gratificante enxergar como o texto faz sua mera presença dialogar com o passado de Clare, chegando ao ponto de colocar o garoto como uma espécie de manifestação da parte humana da protagonista (em um nível metafórico, é claro).

Mais que sobre sua trama em si, Claymore tem seu impacto definido pela sua atmosfera. Ouso dizer que essa chega a ser mais importante que a história. Há uma sensação única de solidão provocada pela obra de Norihiro – um clima tão marcante que me lembro claramente de ter sentido exatamente o mesmo há mais ou menos dez anos, quando assisti a adaptação para anime. É justamente isso que nos mantém fixados nessa história, visto que sem expor muito , o autor consegue nos aproximar de seus personagens, muito bem definidos pelo seus olhares profundos.

Naturalmente, como em todo mangá, a arte vai sendo refinada com o tempo, mas desde cedo já podemos perceber a importância dos olhos dos indivíduos retratados aqui, funcionando como perfeitos portões para a alma. Outro aspecto que chama a atenção de imediato é a limpeza de cada quadro – os rostos são definidos com poucos traços e sombras, garantindo uma forte identidade visual ao quadrinho, sem comprometer a diferenciação de cada personagem, tirando das claymore em si, que se diferenciam pelo corte de cabelo, o que, evidentemente, é uma escolha artística do autor, para que saibamos de imediato quando estamos vendo uma das guerreiras dessa misteriosa organização.

Esse primeiro volume é, também, bem caracterizado pela sua simplicidade, algo que podemos enxergar com clareza nas cenas de combate. Nelas, o artista não faz questão de colocar no papel cada movimento, de forma minuciosa, da personagem. Ao invés disso, trabalha com menos quadros que dizem mais cada um. Em outros termos, vemos ações resumidas, o que imprime um forte dinamismo à leitura. Infelizmente, em alguns pontos, acabamos ficando confusos com o que ocorre, mas é um problema pontual de um trecho bastante específico da edição.

O primeiro volume de Claymore, portanto, não é perfeito, mas nos introduz a um imersivo universo que se destaca mais pela sua atmosfera que pela trama em si. Estamos falando de uma história simples, mas com identidade, que tem o forte potencial de nos entregar algo novo através de uma premissa mais do que comum. Norihiro Yagi certamente nos entrega muito mais que apenas uma cópia de Berserk – temos aqui um clima forte de solidão em um universo que não perdoa nenhum de seus personagens e essa edição do mangá conseguiu perfeitamente nos introduzir a essa mitologia.

Claymore – Volume 1 — Japão, 2001
Roteiro:
Norihiro Yagi
Arte:
Norihiro Yagi
Editora (no Japão): 
Shueisha
Editora (no Brasil): 
Panini Comics
Páginas: 
192

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