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Crítica | Comando para Matar

por Ritter Fan
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A carreira oitentista de Arnold Schwarzenegger é, sem dúvida alguma, uma festa de testosterona, de pancadaria sem fim, de personagens basicamente imortais e invencíveis. É Conan, o Bárbaro em 1982, sua continuação em 1984 e O Exterminador do Futuro, um das mais marcantes ficções científicas já feitas, no mesmo ano, além de Jogo Bruto em 1986, O Predador e O Sobrevivente em 1987 e Inferno Vermelho em 1988. Seus filmes inesquecíveis não pararam por aí, claro, entrando com vontade na década de 90 até o interesse por esse tipo de adrenalina musculosa em celuloide desaparecer.

Um dos marcos da filmografia do multi-premiado Mr. Universo que viria a tornar-se governador da Califórnia, ainda que longe de ser uma de suas melhores produções, é Comando para Matar, de 1985, em que, armado apenas com sua força descomunal e sua capacidade de manejar quaisquer tipos de armas (até canos…), seu personagem John Matrix, o “comando” do título, faz terra arrasada de seus inimigos que sequestram sua filha para forçá-lo a assassinar o presidente de uma república das bananas chamada Val Verde. Em toda a sua construção e desenvolvimento, além da retratação do herói invencível, Comando para Matar é um antecessor de Busca Implacável, filme de 2008 que estabeleceu Liam Neeson quase que como um novo Schwarzenegger.

Assim, para que o espectador tenha a mínima chance de apreciar esse “exército de um homem só” em cena matando todo mundo e destruindo tudo em seu caminho para recuperar sua filha da mão de um pretenso ditadorzinho que usa o afetadíssimo Bennett (Vernon Wells), ex-comando da unidade de Matrix, como seu músculo e estrategista, é necessário mergulhar no espírito da coisa e da época. Em 1985, a patrulha do “politicamente correto” ainda não existia (é emblemática a primeira frase de Matrix no filme, olhando uma revista teen da filha: “deveriam chamá-lo logo de ‘Girl George’ para ninguém ter dúvida”) e o público apreciava fitas descerebradas e sem roteiro com protagonistas truculentos dizimando seus inimigos enquanto solta frases de efeito. É mais ou menos a versão oitentista do público de hoje que aprecia filmes vazios de ação cheios de efeitos especiais quase cartunescos.

Tendo isso em mente, e lembrando-se da crueza dos efeitos especiais da década de 80 – apesar dos incríveis avanços da época, que serviram como trampolim para a computação gráfica de hoje – Comando para Matar é, em todos os níveis, uma obra para ser encarada como puro divertimento do tipo “desligue seu cérebro” em que atuações e roteiro são aspectos irrelevantes. Muito mais importante do que uma estrutura lógica, é a capacidade de Matrix de arrebentar correntes com suas próprias mãos, segurar um sujeito de cabeça para baixo com apenas uma mão e sobreviver a uma queda de um avião comercial como se estivesse pulando três degraus de uma escada. Schwarzenegger faz o super-herói sem poderes que não se abala com nada e usa seu sotaque, sua musculatura impressionante e seu onipresente carisma para encantar determinado tipo de público, um público que procura exatamente o que ele oferece.

E há algum mal nisso? Mas claro que não! Comando para Matar – para mim a carga de nostalgia obviamente afeta meu julgamento, confesso – é um filme descompromissado com qualquer traço de verossimilhança e que só existe para suprir a necessidade de explosões, tiros e mortes dos espectadores. Lógico que há exemplares dessa “categoria”, como Duro de Matar, que oferecem algo mais, que estabelecem um personagem humano em uma situação improvável. Mas Schwarzenegger, no auge de sua forma física cinematográfica, não poderia ser alguém “do povo” como Bruce Willis brilhantemente é na pele de John McClane. O “governator” era, nesses filmes, o símbolo máximo do herói de ação por excelência, sem nenhum tipo de verniz ou qualquer tentativa de se embutir no roteiro aspectos mais nobres ou lições especiais (a única do filme é “o que um pai não faz por sua filha”, que não é, afinal de contas, de todo má). Como bônus, o espectador ainda pode testemunhar Alyssa Milano como Jenny, a filha de Matrix, em seu segundo papel no cinema, então com apenas 13 anos e uma ponta do tipo “piscou perdeu” de Bill Paxton (que também fizera uma ponta em O Exterminador do Futuro).

A direção de Mark L. Lester, cuja carreira é repleta de filmes de qualidade duvidosa, é burocratica e sem qualquer polimento, exatamente como se deve esperar de filmes assim. Mas não se engane: ele sabe dirigir ação e não se esquiva de usar ao máximo sua estrela para obter os melhores efeitos dramáticos e, por dramáticos, eu quero dizer aqueles “socos no ar” que o espectador que entra na brincadeira dará aos borbotões vendo os 90 minutos de matança. E, por incrível que pareça, a trilha sonora composta por James Horner é muito eficiente em evocar essa qualidade transcendental super-heroística de John Matrix, misturando notas exageradas e chamativas nos momentos corretos, ao mesmo tempo que trabalhando breves leit motifs para o personagem quando não está em ação contendo até mesmo um certo ritmo caribenho.

Comando para Matar provavelmente não funcionará para todo mundo, mas Schwarzenegger chuta bundas com classe aqui nessa semi-trasheira que diverte sem comprometer.

Comando para Matar (Commando, EUA – 1985)
Direção: Mark L. Lester
Roteiro: Steven E. de Souza
Elenco: Arnold Schwarzenegger, Rae Dawn Chong, Dan Hedaya, Vernon Wells, James Olson, David Patrick Kelly, Alyssa Milano, Bill Duke, Drew Snyder
Duração: 90 min.

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