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Crítica | Curtas de Charles Chaplin (1914) – Parte 2

por Luiz Santiago
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O presente bloco de textos traz críticas para sete curtas-metragens de Charles Chaplin lançados entre janeiro e maio de 1914.

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Carlitos e a Sonâmbula

estrelas 4

O roteiro de Carlitos e a Sonâmbula se perde um pouco abrindo várias janelas narrativas no decorrer da projeção e não fechando-as a contento; mas a precisão técnica com que a montagem é feita (algo raro nos primeiros curtas de Chaplin) e os ótimos blocos cômicos fazem-nos superar tranquilamente essa linha pouco louvável do roteiro e aproveitarmos bem o filme.

O início é lírico e bastante sutil. Quase engana o espectador, porque mostra uma realidade que não vai ser a linha principal da obra dali para frente. Carlitos está num parque e começa a paquerar uma mulher, que, de início, parece-lhe muito simpática, mas diante de sua aproximação, fecha a cara e se afasta. O problema não ultrapassaria a confusão do parque se a mesma mulher não estivesse no hotel em que Carlitos está e se ela não fosse sonâmbula.

Com vários elementos recorrentes na filmografia de Chaplin temos nesse curta comportamentos absurdos, maridos atrapalhados e fracos, polícia bufona, surpresas quase impossíveis como a repentina chuva que temos da reta final; tudo isso recheado com uma atmosfera simples e quase irônica, interpretada daquela maneira inesquecível que bem conhecemos de Charles Chaplin.

Carlitos e a Sonâmbula (Caught in the Rain) – EUA, 1914
Direção: Charles Chaplin
Roteiro: Charles Chaplin
Elenco: Charles Chaplin, Mack Swain, Alice Davenport, Alice Howell
Duração: 16 min.

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Carlitos e a Patroa

estrelas 4

Dialogando com o próprio cinema e a fotografia, Carlitos e a Patroa é um ponto metalinguístico muito interessante nesse começo de carreira de Chaplin. Todo o curta é ambientado em uma pensão e conta com filmagens em internas e externas, onde a temática do flerte – presente na quase totalidade dos filmes do diretor – volta de maneira mais elegante, uma paquera que não parece forçada demais e que alcança resultados muito bem vindos do início para o final da obra.

O garotinho que faz as fotografias e depois as projeta em uma pequena “Sessão de Cinema” é um espetáculo à parte. Ele aparece pela primeira vez ainda quando Carlitos estava na cozinha, seguindo sua amada e sendo seguido pelo copeiro bigodudo, seu antagonista. Quando o filme passa para as tomadas externas, o menino ganha destaque, registrando momentos constrangedores e engraçados que geram uma nova briga, uma sucessão de pandaria que tem mais ou menos o menos o modelo de finalização de Carlitos Dançarino, mas derivado de uma situação bem mais interessante e com algumas boas surpresas em jogo.

Carlitos e a Patroa (The Star Boarder) – EUA, 1914
Direção: George Nichols
Roteiro: Charles Chaplin, Craig Hutchinson
Elenco: Charles Chaplin, Minta Durfee, Edgar Kennedy, Gordon Griffith, Alice Davenport
Duração: 16 min.

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Carlitos Banca o Tirano

estrelas 3,5

Se Carlitos fosse um vilão, o seu modus operandi seria exatamente como este que temos em Carlitos Banca o Tirano. O filme é praticamente toda a execução da vingança do Carlitos Tirano contra Mabel, que não quis ficar com ele — na verdade ela o deixou porque ele a derrubou da bicicleta — e voltou a namorar com o rapaz com quem estava no início do filme. Esses amores rápidos e facilmente termináveis dos curtas de Chaplin dizem muito sobre o próprio diretor, que via nas relações humanas, especialmente as amorosas, um fio tênue e facilmente quebrável e que só a muito custo se tornava forte o bastante para conseguir sobreviver aos anos de relacionamento.

Como nenhuma de suas personagens parecem maduras o bastante para isso, os namoros e a troca de parceiros acontecem várias vezes e é isso que vemos neste curta. Na primeira parte, temos a “separação” e o início da vingança de Carlitos, que com uma agulha, consegue furar o pneu o carro de seu concorrente (!). A segunda parte é centrada numa corrida de carros, algo que no início é bastante interessante mas que vai ficando cada vez mais tediosa e longa, com a mesma sequência de acontecimentos e os mesmos focos cômicos, muitas vezes refigurando coisas que já haviam sido feitas. O bom é que as situações são realmente engraçadas, mas, mesmo assim, chega uma hora que enjoam.

Carlitos Banca o Tirano (Mabel at the Wheel) – EUA, 1914
Direção: Mabel Normand, Mack Sennett
Roteiro: Charles Chaplin
Elenco: Charles Chaplin, Mabel Normand, Harry McCoy, Chester Conklin, Mack Sennett, Dave Anderson, Joe Bordeaux, Mack Swain, William Hauber
Duração: 18 min.

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Carlitos e o Relógio

estrelas 4,5

Os primeiros minutos de Carlitos e o Relógio nos lembram bastante o casual encontro no parque que colocara o personagem na trilha de uma sonâmbula com um marido ciumento, resultando em uma terrível estadia num hotel qualquer dos Estados Unidos (Carlitos e a Sonâmbula). O ambiente é o mesmo: um parque. Só que desta vez temos uma bela e engraçada sequência de casais namorando em todos os lugares, cenas observadas quase que como uma criança por Carlitos.

Após o encontro inicial com um casal qualquer — o antagonista bigodudo aparece mais uma vez — Carlitos vai dar uma volta pelo local mas sempre retorna para perturbar os seus “colegas” da abertura do filme. Ao passo que novos casais aparecem e um roubo acontece, o roteiro do filme fica mais divertido e as situações complicadas, com direito à clássica sequência em que o protagonista consegue jogar todo mundo em um lago e sai de braços dados com a mulher que o estava paquerando.

O curta brinca com o namoro em público e os encontros proibidos no parque, ao mesmo tempo que insere uma distração engraçadíssima, envolvendo todos os pombinhos e dando-lhes um bem vindo banho de água fria.

Carlitos e o Relógio (Twenty Minutes of Love) – EUA, 1914
Direção: Joseph Maddern, Charles Chaplin
Roteiro: Charles Chaplin
Elenco: Charles Chaplin, Minta Durfee, Edgar Kennedy, Gordon Griffith, Chester Conklin, Josef Swickard, Hank Mann
Duração: 20 min.

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Bobote em Apuros

estrelas 3,5

Aqui, Carlitos vira Ministro da Groenlândia em um lado de sua vida e trabalha como garçom em outro. O assumir das duas identidades é o que vai colocar o personagem “em apuros”, como diz o título, embora não seja algo nada estranho a ele ou nada que não tenhamos visto vir de um filme de Chaplin antes.

Talvez o fato de o filme ser um pouco mais longo (é divido em duas partes, inclusive) tenha dado maior segurança a Chaplin para que trabalhasse alguns elementos cômicos que lhe eram muito caros, mas que, exatamente como vimos em Carlitos Banca o Tirano, não possuem medida de tempo em tela e acabam chateando o espectador pelo teor de repetição. O filme é divertido e traz situações muito boas dentro do bar e fora dele, mas o roteiro e a direção abusam um pouco da paciência do espectador.

Bobote em Aputos (Caught in a Cabaret) – EUA, 1914
Direção: Mabel Normand
Roteiro: Mabel Normand, Charles Chaplin
Elenco: Charles Chaplin, Mabel Normand
Duração: 22 min.

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Carlitos Dançarino

estrelas 3,5

Duas lições muito importantes são aprendidas em Carlitos Dançarino. A primeira é “não confie em trompetistas”. E a segunda, “não brigue por uma garota numa balada”. É claro que o nosso herói vagabundo de bengala, chapéu e sem bigode (pois é!) aprende isso na marra e do jeito menos civilizado possível, o que gera uma confusão enorme no local e termina com a lição de moral aprendida.

O curta é divertido, falhando apenas nos quesitos técnicos comuns ao cinema silencioso, e também – mas de forma mais sutil – na ligação entre a primeira e a segunda parte da história. De qualquer forma, temos uma ótima exploração cômica dos três paqueradores e suas reações ao verem que a garota de quem estavam a fim dava atenção para outro homem. É um filme simples, uma pequena “crônica de um baile” que termina com uma reconciliação entre os “brigões maduros”. E quem se dá bem, no final das contas, é o gordinho clarinetista e de bom coração. Eis aí mais uma lição aprendida!

Carlitos Dançarino (Tango Tangles) – EUA, 1914
Direção: Mack Sennett
Roteiro: Mack Sennett
Elenco: Charles Chaplin, Ford Sterling, Roscoe ‘Fatty’ Arbuckle, Chester Conklin, Minta Durfee
Duração: 12 min.

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Carlitos Entre o Bar e o Amor

estrelas 3,5

A primeira parte de Carlitos Entre o Bar e o Amor é a mais engraçada e a mais interessante que a segunda. Todas as sequências desse bloco de abertura são filmadas essencialmente dentro de um bar pequeno, onde o vagabundo Carlitos bebe e provoca outros frequentadores, sempre mais fortes e menos espertos que ele. Toda a graça e uso de comédia física típicas dos curtas de Chaplin são vistas aqui: cacoetes, maneirismos, expressões faciais grotescas, slapsticks de boa qualidade e bem contextualizados no ambiente em que acontecem.

O curta desanda quando temos a inserção do tal “amor” do título. Trata-se, na verdade, de um flerte que custa bastante para o vagabundo, principalmente porque ele está bêbado e as consequências do que vai marcar todo o segundo bloco do filme mostram muito bem isso.

Chaplin não tinha um timing perfeito para gags, como Buster Keaton tinha, mas seu trabalho com situações absurdas encantam e divertem. Uma pena que seus roteiros dessa fase inicial (quase tudo o que ele escreveu e dirigiu em 1914, na verdade) sofram da falta de melhor exploração para uma história única. Ao invés disso, apostam em eventos de duas partes, onde a primeira recebe muita atenção e é bem realizada; já a segunda, na maior parte das vezes, se desprende do mote inicial do curta e quase nunca constitui um bom término para a comédia.

Carlitos Entre o Bar e o Amor (His Favorite Pastime) – EUA, 1914
Direção: George Nichols
Roteiro: Craig Hutchinson
Elenco: Charles Chaplin, Roscoe ‘Fatty’ Arbuckle, Peggy Pearce, Frank Opperman
Duração: 16 min.

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