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Crítica | Curtas Pixar – Parte 3 (2010 a 2018)

por Ritter Fan
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  • Acesse aqui nossas críticas sobre os outros curtas da Pixar.

Muitos esquecem que a Pixar, além de nos cativar com seus longa-metragens, tem a longa tradição de exibir um curta antes de seus filmes nos cinemas, mantendo vivos os velhos costumes cinematográficos. Confiram, então, abaixo, as críticas de todos os curtas do estúdio lançados entre 2010 e 2018!
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Dia & Noite

Exibido antes de Toy Story 3 nos cinemas, Dia & Noite nos traz a interação das manifestações corpóreas do dia e da noite, inicialmente enciumadas uma da outra. Teddy Newton, que dirige o curta, nos traz algo extremamente simples, mas que capta nossa atenção pela criatividade do que nos é mostrado. Misturando a computação gráfica com animação tradicional, vemos o que se passa dentro do dia e da noite funcionando como onomatopéias, sentimentos e mais de cada um deles, como se fosse colocado em imagem seus sentimentos.

A mistura do 2D com o 3D funciona perfeitamente, brincando com nossa percepção, ao passo que, dentro deles a imagem ganha mais profundidade, enquanto que fora ela permanece bidimensional. De forma divertida, Newton nos entrega uma história sobre amizade, fraternidade, com o Dia e Noite bem representando irmãos ou amigos que constantemente brigam, mas que logo se enxergam como semelhantes.

De forma simples e eficiente somos cativados pelo que vemos em tela, mesmo com a história não trazendo uma linha de diálogo sequer. De fato, se houvesse texto falado, claramente a obra perderia um pouco de seu brilho, já que sua mensagem é passada com clareza e de forma impactante sem a necessidade dos dois personagens conversarem. Certamente um memorável curta da Pixar Animation Studios.

Dia & Noite (Day & Night) — EUA, 2010
Direção: Teddy Newton
Roteiro: Teddy Newton
Elenco: Wayne Dyer
Duração: 6 min.
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La Luna

Sinceramente, não entendo ao certo o que a Pixar almejou criar aqui. Embora traga um twist interessante ao fim, La Luna, exibido antes de Valente, não apresenta muito mais que isso, sendo mais “bonitinho” do que qualquer outra coisa. Dito isso, o conceito apresentado é interessante: acompanhamos um menino, seu pai e avô em um pequeno barco. Quando a lua cheia aparece no céu, os três sobem para sua superfície e, ao chegarem lá, começam a limpar o chão das estrelas brilhantes que o preenchem. No fim, descobrimos que seu objetivo era transformar a Lua cheia em minguante.

Visualmente falando, a obra é um espetáculo à parte, com cores vivas e vibrantes, que rapidamente captam o nosso olhar. Em termos de conteúdo, porém, é um filme praticamente vazio, que parece nos enrolar com brigas entre o pai e o avô, dependendo demais do ponto de virada ao fim do curta. Todo o conceito apresentado é, então, desfavorecido por algo que beira o totalmente esquecível.

La Luna é, portanto, apenas um filme visualmente belo, mas que nada acrescenta. Muito aquém de outros trabalhos da Pixar, que misturam conceitos criativos com narrativas verdadeiramente engajantes. Tudo o que nos prende aqui é a curiosidade em relação ao que essa família está fazendo e mais nada.

La Luna — EUA, 2011
Direção:
 Enrico Casarosa
Roteiro: Enrico Casarosa
Elenco: Krista Sheffler, Tony Fucile, Phil Sheridan
Duração: 7 min.
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O Guarda-Chuva Azul

O Guarda-Chuva Azul, curta da Pixar exibido em conjunto com Universidade Monstros, certamente é um melhor filme do que o longa-metragem o qual acompanha. Trata-se de uma simples história de amor, mas contada de maneira tão única que nos deixa totalmente vidrados no que acontece. Em meros sete minutos, Saschka Unseld, que escreve e dirige a obra, nos apresenta a uma trama, aos seus personagens, cria humor, tensão, drama e romance e, em todo o processo, nos mantém absolutamente cativados pelo que vemos em tela.

Descrito por Unseld como uma declaração de amor à chuva, o curta utiliza técnicas foto-realistas de iluminação, sombreamento e composição, emulando o live-action, que se contrapõe aos rostos que aparecem em objetos inanimados. A trama gira em torno de um guarda-chuvas azul que, na multidão de guardas-chuvas pretos se apaixona por um vermelho. Chega a ser incrível observar como nos vemos engajados por algo tão simples, mas é justamente essa simplicidade que garante a identidade do curta, que consegue humanizar até elementos como sinais de trânsito e tampas de bueiros.

Embora não tenha sido indicado ao Oscar de Melhor Curta de Animação, O Guarda-Chuva Azul certamente era merecedor, nos trazendo uma trama comum, revestida por uma narrativa sem igual!

O Guarda-Chuva Azul (The Blue Umbrella) — EUA, 2013
Direção:
 Saschka Unseld
Roteiro: Saschka Unseld
Elenco: Sarah Jaffe
Duração: 7 min.
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Lava

Lava é o curta-metragem musical em computação gráfica que antecede Divertida Mente e que foi originalmente mostrado no Hiroshima International Animation Festival, em 2014. O filme, dirigido e escrito (composto, melhor dizendo) por James Ford Murphy, animador veterano da Pixar que trabalha por lá desde Vida de Inseto, conta a inusitada história de um vulcão – sim, um vulcão! – solitário no Pacífico ao longo de milhões de anos.

Ele canta aos céus desejando uma companheira e é essa música que ouvimos pelas vozes de Napua Greig e Kuana Torres Kahele, ao som de um ukulele. Simplicidade e beleza são a chave desse pequeno filme que assombra por ser diferente e ao mesmo tempo tão bonito. Não há uma efetiva história aqui, apenas uma narrativa cantada com pouquíssimos acontecimentos que são também previsíveis. Murphy trabalha planos gerais verdejantes e tomadas espetaculares da força do vulcão e reúne os fragmentos com a canção que, porém, é mais falada do que cantada, faltando um pouco de ritmo.

De toda forma, Lava, com toda sua simplicidade, encanta e serve como perfeita introdução a Divertida Mente.

Lava — EUA, 2014
Direção: 
James Ford Murphy
Roteiro: James Ford Murphy
Elenco: Kuana Torres Kahele, Napua Makua
Duração: 7 min.


Os Heróis de Sanjay

O que exatamente aconteceu aqui? O mais novo curta da Pixar, que foi exibido mundialmente antes de O Bom Dinossauro, é o pior curta original da produtora desde seu nascedouro (leiam as críticas dos demais curtas da Pixar, aqui). Exagero? Olha, acho que não.

O desenho, que lida com o choque entre modernidade e tradição, alienação e religiosidade, tem excelente premissa que é jogada no lixo com um roteiro (semi-autobiográfico) de Sanjay Patel, especialista em animação da produtora que vem trabalhando com a Pixar desde Monstros S.A. e que também dirigiu o curta. É, em termos narrativos, o equivalente a filmes de Michael Bay, ou seja, pouco cérebro e muita ação, algo nada característico dos curtas anteriores (ainda que Lavatambém não tenha sido fantástico, mas vale pelo inusitado pelo menos).

A redução do conflito entre o novo e o velho a super-heróis que, na mente do menino, são transformados em entidades hindus, mesclando conceitos, é de um reducionismo de trincar os dentes. Imprestável completamente? Certamente que não, até porque, para variar, a animação em CGI é “padrão-Pixar”, mas tamanha é a apatia do curta que nem mesmo o espetáculo visual funciona em sua plenitude. É como assistir a um esboço de ideia tida pelo estagiário da produtora. Uma pena.

Os Heróis de Sanjay (Sanjay’s Super Team) — EUA, 2015
Direção:
 Sanjay Patel
Roteiro: Sanjay Patel
Elenco (vozes): Brent Schraff
Duração: 7 min.
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Piper: Descobrindo o Mundo

Piper foi o curta da Pixar que antecedeu Procurando Dory nos cinemas. É uma animação que, mais do qualquer outra de memória recente, merece a classificação “técnica” de “fofa ao extremo” ao lidar com um filhotinho de borrelho que tem medo d’água e, por isso, tem dificuldades em se alimentar. Desde os primeiros segundos de projeção, com o pequeno querendo comida e sua mãe criando dificuldades para ensiná-lo a caçar, aquele sonoro “ahhhhhhh” acaba saindo involuntariamente de nossas bocas ou, dos mais contidos, no mínimo em pensamento. E, de fato, é isso exatamente isso que a Pixar faz aqui: sua mágica usual em criar algo ao mesmo tempo fotorrealista, mas levemente cartunesco que encanta plateias de todas as idades.

Mas o mais fantástico é que a câmera de Alan Barillaro, que também escreveu o simplíssimo roteiro, aproxima-se corajosamente do passarinho e, no processo, nos faz ver em detalhes seu mundo em que os grãos de areia são proporcionalmente grandes. É como colocar uma lente de aumento nas coisas corriqueiras da vida com o poder dos computadores da produtora por trás, mais uma mostrando por que não tem paralelo em CGI. As texturas e detalhes da areia, das penas do jovem borrelho, da água de que ele foge, da concha que ele caça e assim por diante são de tirar o chapéu.

A história em si, é terna e eficiente, ainda que o resultado final pareça muito mais algo que precisava ser continuado, como um esboço de uma obra completa, um pedaço do todo. Isso não detrai da experiência como um todo, pois ela é encantadora, mas, aqui, temos o clássico exemplo da forma sobrepujando a substância. Lindo e muito fofo, mas sem maiores significados.

Piper: Descobrindo o Mundo (Piper) — EUA, 2016
Direção:
 Alan Barillaro
Roteiro: Alan Barillaro
Duração: 6 min.
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Lou

Desde que, em 1984, a antecessora da Pixar debutou na área de curtas com The Adventures of André and Wally B., o mundo da computação gráfica nunca foi mais o mesmo. A empresa capitaneou a evolução da técnica, mantendo-se firme à frente de seus concorrentes. Com o tempo, concorrer ao Oscar na categoria (e ganhar) tornou-se algo tão corriqueiro para a empresa quanto Meryl Streep ser indicada na categoria de Melhor Atriz ou Atriz Coadjuvante. LOU, que foi originalmente exibido no festival South by Southwest, depois precedendo Carros 3 nos cinemas, sucede Piper: Descobrindo o Mundo, que levou o Oscar em 2017, nessa missão.

O curta, que lida fundamentalmente sobre o bullying, lida com uma caixa de achados e perdidos de uma escola que abriga (ou é) uma simpática criatura formada pelos objetos aleatórios lá contidos. Notando que o valentão J.J. é que “dá sumiço” nos pertences de seus colegas, LOU (o nome é formado pelas letras faltantes na caixa – vide imagem) trata de fazer o garoto ver que sua atitude não compensa, sacrificando-se no processo. A história é bonita e edificante, mas a simpatia da “entidade” da caixa, de certa forma, abafa a abordagem mais séria do problema em si. Sim, o roteiro lida com o caráter cíclico da coisa, mas o frenesi da narrativa acaba deixando a lição razoavelmente para segundo plano. O que fica mesmo – como em todo curta da Pixar – é o magnífica apuro técnico, ainda que seu antecessor, o já citado Piper, seja ainda mais impressionante nesse quesito.

LOU tem o preciosismo técnico que aprendemos a esperar da empresa, mas falha ao deixar o “fofuchismo” sufocar um potencialmente bom roteiro. Ainda são sete minutos que passam voando e que divertirão e até podem fazer pensar, mas não é um curta particularmente memorável ou que quebre paradigmas como também aprendemos a esperar da Pixar.

Direção: Dave Mullins
Roteiro: Dave Mullins
Duração: 7 min.
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Bau

Tudo o que sabíamos sobre concepção é derrubado por Domee Shi com seu doce curta Bao, lançado juntamente com Os Incríveis 2 nos cinemas. Se achávamos que tinha alguma coisa a ver com cegonhas ou abelhinhas polinizadoras, a diretora e roteirista deixa evidente que, pelo menos os chineses (ou sino-canadenses, para ser mais exato) nascem do “bao” ou “baozi”, pãozinho de massa típico da China.

Lidando com a chamada Síndrome do Ninho Vazio, Shi nos apresenta a uma simpática mãe que “concebe” um filho a partir dos tais bolinhos, passando a cuidar da criança ao longo de todas as suas fases, que são abordas quase que em uma espécie de “montagem” clássica de treinamento ou crescimento que vemos por aí em tantos filmes. Mas a diretora cria algo extremamente relacionável, seja do lado dos pais – particularmente da mãe – seja no lado dos filhos, com a doçura e alegria de um bebê transformando-se quase que como um passe de mágica naquele amargor adolescente que tanto vemos por aí. E, claro, a culminação é na tal síndrome, em que a (não mais) criança deixa o lar e encontra o seu próprio par, o que é comicamente abordado com um momento surreal de “canibalismo” que encerra o lado fabulesco do curta.

Todo feito em computação gráfica como é a regra de tudo que sai da Pixar, Domee Shi é cuidadosa na retratação culturalmente correta de uma família de raízes orientais radicada no ocidente, sem tentativa alguma de tornar as aparências mais, digamos, universais. Como tem sido um padrão recente nos curtas da produtora, porém, o lado “fofura máxima” fala mais alto do que talvez seu conteúdo razoavelmente simples, o que acaba, mesmo com sua curtíssima duração, retirando um pouco da mensagem maior do filmete, ainda que ela esteja bem presente. É divertido e muito bonito, mas, assim como o ninho, um pouquinho vazio.

Direção: Domee Shi
Roteiro: Domee Shi
Elenco: Tim Zhang
Duração: 8 min.

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