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Crítica | Debi & Lóide 2

por Ritter Fan
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estrelas 1

Ah, continuações… O que seria de Hollywood sem elas? Tudo hoje em dia precisa continuar ou ser refeito ou ganhar prelúdios. E, normalmente, na gigantesca maioria das vezes, não há nenhuma razão orgânica para isso. E, muitas vezes, ninguém nem imagina que algo possa ser desenterrado dos profundos baús das produtoras para gerar uma sequência. Mas, 20 anos depois, foi justamente o que fizeram com Debi & Lóide, considerado um “clássico” do besteirol estrelando Jim Carrey e Jeff Daniels.

Faz todo sentido não é mesmo? A comédia surpreendentemente fez sucesso em 1994, gerando um tenebroso prelúdio e uma série animada que não sobreviveu muito tempo e ajudou a alavancar a carreira careteira de Jim Carrey e a colocar Bobby e Peter Farrelly – os Irmãos Farrelly – no mapa dos diretores desejáveis. Além disso, olhemos para as carreiras desses diretores depois de Débi & Loide: com exceção de Quem Vai Ficar Com Mary?, de 1998, eles amargaram fracassos seguidos em filmes geralmente medíocres. Jim Carrey até conseguiu, de certa forma, sair de seu mundinho de caras e bocas, para demonstrar que sabe atuar fora de sua zona de conforto em filmes como O Show de Truman, O Mundo de Andy e Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, esse último, talvez, seu melhor trabalho. Mesmo assim, no cômputo geral, é uma carreira com mais baixos do que altos.

Essa conjunção astral negativa e mais o aniversário de 20 anos do original resultaram em uma continuação que ninguém nunca pediu e cuja existência é absolutamente descartável. No entanto, talvez a forma mais justa de se categorizar Debi & Lóide 2 seja da seguinte maneira: se você gostou incondicionalmente do primeiro e não espera, em uma continuação, nada diferente, então é provável que você goste do segundo. E o contrário é também verdadeiro: se o primeiro filme não lhe apeteceu, o segundo também não funcionará.

É que o roteiro, escrito por seis pessoas (inclusive os Farrelly) não arrisca, não sai do terreno conhecido. E nem mesmo tenta. Não fosse a dupla principal 20 anos mais velha, seria, literalmente, uma semi-cópia do primeiro. Isso é necessariamente ruim? Em meu livro, sim. E vejam: pouco importa se você gostou ou não do primeiro; mas usar material requentado deveria ser tudo que uma continuação não poderia ser. Por isso disse que você só vai gostar do segundo, tendo gostado do primeiro, se você não quiser nada além do que o primeiro ofereceu. O besteirol está todo lá, mas não um besteirol com frescor e cheiro de novo. É, sem tirar nem por, exatamente o mesmo besteirol despropositado do primeiro, com algumas atualizações aqui e ali, para não tornar muito óbvio o fato de que os roteiristas apenas usaram sinônimos em sua avalanche de gags sem graça (ou com graça, se você tiver gostado do primeiro).

Sobre ter ou não ter graça, vale dizer que, na sessão comercial comum em que assisti ao filme, o máximo que ouvi foram risadas forçadas, de pouquíssima duração, com exceção de um solitário espectador que, apesar do tamanho, deveria ter a idade mental de Lloyd (Jim Carrey) e Harry (Jeff Daniels) e ria até da rolagem dos créditos ao final. Não que somente seja possível apreciar essa fita se você for uma criança pouco exigente. Nada disso. Dependendo de seu estado de espírito, o filme até pode proporcionar três ou quatro bons momentos que o farão esboçar um sorriso. Mas essas poucas situações ou já apareceram no trailer ou são versões pretensamente atualizadas das melhores gags do filme original.

A trama é o primeiro filme repaginado. Harry, que precisa de um transplante de rim, descobre que tem uma filha que foi levada para adoção e, depois de tirar Lloyd do sanatório onde passou os últimos 20 anos (em uma das poucas piadas eficientes, mas que está no trailer), os dois partem em outra road trip atrás da moça. Lloyd se apaixona pela foto da filha de seu amigo e, ao longo do passeio, descobrimos que Penny (Rachel Melvin) também está sendo perseguida pela máfia.

Repararam na preguiça do roteiro? Até mesmo a estrutura narrativa é idêntica, com alterações aqui e ali para disfarçar a completa falta de originalidade. Além disso, apesar dos esforços de Carrey e Daniels, os dois estão visivelmente cansados, talvez até mesmo envergonhados de encarnarem seus clássicos personagens. Tudo parece difícil, forçado e, infelizmente, repetitivo ao extremo.

E os Irmãos Farrelly, de certa forma, parecem ter perdido o timing de comédia que eles uma vez tiveram. Cada gag mais elaborada é telegrafada minutos ou segundos antes, fazendo com que qualquer elemento de surpresa seja irritantemente esvaziado. O que vemos são quase-piadas acontecendo a quase todo momento e falhando sempre.

Vinte anos se passaram e Debi & Lóide conseguiu piorar. É mais uma prova que a moda da continuação é uma praga que assola Hollywood. Uma praga que só agrada quem não exige absolutamente nada mais do que ver o filme que gostou novamente, só que de maneira um pouquinho diferente.

Espero que mais 20 anos se passem para “ganharmos” Debi & Lóide 3…

Debi & Lóide 2 (Dumb and Dumber To, EUA – 2014)
Direção: Bobby Farrelly, Peter Farrelly
Roteiro: Bobby Farrelly, Peter Farrelly, Bennett Yellin, John Morris, Mike Cerrone, Sean Anders
Elenco: Jim Carrey, Jeff Daniels, Rob Riggle, Laurie Holden, Rachel Melvin, Steve Tom, Don Lake, Patricia French, Kathleen Turner, Gregory Fears, Bill Murray
Duração: 110 min.

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