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Crítica | Déjà Vu

por Fernando Campos
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De acordo com o Wikipédia, deja vu é uma “uma sensação desencadeada por um fato presente que faz com que quem o sofra lhe pareça estranhamente que já presenciara aquela específica situação”. Baseado nesse conceito, Tony Scott baseou seu filme, que marca o terceiro encontro entre o diretor e Denzel Washington. Apesar da premissa interessante, será que a obra conseguiria explorar esse efeito na mente do público?

O longa mostra o agente da Agência do Tabaco, Álcool e Armas de Fogo, Doug Carlin (Denzel Washington), sendo chamado para recuperar provas após a explosão de uma bomba em uma balsa localizada em Nova Orleans. Após descobrir algumas pistas, Carlin é convidado a colaborar com uma nova divisão da CIA. Lá, ele descobre então um meio de viajar no tempo, o que possibilita que evite que a explosão ocorra.

Tentando construir sua história com realismo, o roteiro, escrito por Bill Marsilii e Terry Rossio, demora até que consiga levar sua história adiante, reservando um grande período de tempo no início para estabelecer o protagonista e apresentar seus conceitos sobre tempo. Portanto, o primeiro ato preocupa-se em destacar a personalidade despojada de Carlin e o quanto ele é bom como investigador, estratégia importante para colocá-lo de forma consistente na posição de herói. Já o segundo ato concentra-se em expor a lógica temporal do longa, ou seja, tornar compreensível a ideia das linhas temporais e como as ações tomadas pelos personagens podem interferir nelas, recurso necessário do roteiro para o entendimento da obra, mas acaba resultando em alguns diálogos expositivos. 

Porém, a partir do terceiro ato, a obra cresce de maneira significativa. Os conceitos sobre tempo passam a ser vistos nas ações dos personagens, deixando de ser algo apenas teórico. Portanto, o longa adquire uma interessante atmosfera de urgência, uma vez que, inicia-se uma corrida contra o tempo para impedir o ataque terrorista e cada ato dentro da história ganha uma enorme importância, podendo interferir em toda a linha do tempo vista até então. A partir daí, o filme passa a brincar constantemente com a expectativa do público, incitando dúvida a todo momento sobre até que ponto o protagonista está conseguindo alterar os fatos ou se o destino dos personagens é mesmo inalterável, resultando em diversos deja vus na mente de quem assiste, já que tudo o que acontece parece familiar, justificando a proposta do longa.

A direção de Tony Scott brinca ainda mais com o espectador, optando por algumas rimas visuais, através da edição que repete momentos chave do filme e dos planos detalhe utilizados para que o público grave na memória objetos que serão mostrados posteriormente, visando justamente dar a sensação de que aquelas cenas já foram vistas antes. Além disso, a fotografia apresenta planos mais fechados e uma câmera levemente inquieta, dando realismo ao longa e evitando que adquira um tom fantasioso, algo que não combinaria com a proposta da obra.

No elenco destacam-se Denzel Washington, construindo em Carlin um agente irreverente, despojado e com uns constante senso de justiça, e Paula Patton, que destaca como Claire é uma boa pessoa, mas também um pouco ingênua. Já Val Kilmer não tem muito material para explorar, sendo competente em seu papel mesmo assim, enquanto Jim Caviezel contracena muito bem com Washington, mas o roteiro dá a ele apenas uma cena para mostrar seu potencial, limitando-se no final do filme a atirar e fazer cara de mau. 

Além da lentidão da primeira metade, o longa também não está isento de outras falhas, como a tecnologia implausível utilizada para viajar no tempo, uma falha do roteiro, uma vez que, se a intenção era trazer realismo ao filme a máquina utilizada deveria ser crível, o que não é. Outro ponto negativo é a falta de audácia da obra em debater alguns temas propostos, como, por exemplo, até que ponto é ético vigiar alguém, explicitado pela cena onde agentes veem Claire tomando banho e são contestados por sua colega, mas não há nenhum aprofundamento no tema, limitando a obra em sua história e impedindo que haja um subtexto realmente interessante.

Déjà Vu não está isento de problemas, principalmente na metade inicial do longa, mas o terceiro ato é tão bem construído e cria um ritmo tão intenso que a sensação final é a de uma obra bastante satisfatória. Mas o filme destaca-se principalmente por conseguir brincar muito bem com as expectativas de quem assiste, causando com eficiência na mente do público o efeito deja vu, “uma sensação desencadeada por um fato presente que faz com que quem o sofra lhe pareça estranhamente que já presenciara aquela específica situação”.

Déjà Vu (Idem) – EUA, 2006
Direção: Tony Scott
Roteiro: Bill Marsilii, Terry Rossio
Elenco: Denzel Washington, Paula Patton, Val Kilmer, Jim Caviezel, Adam Goldberg, Bruce Greenwood, Elden Henson, Erika Alexander
Duração: 128 min

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