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Crítica | Demolidor: Pecado Original

por Luiz Santiago
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SPOILERS!

Lançado pela Panini em um encadernado maluco e bagunçado chamado Demolidor #8, esse pequeno arco traz as edições #5 a 7 da revista Daredevil Vol. 4; além das edições #2 a 5 (!) da minissérie Noites Escuras (que tem oito números) e uma visão do futuro, O Rei de Vermelho, que deveria ter vindo juntamente com as edições do arco São Francisco, no mês anterior. Pois bem, esse arco, Pecado Original, traz algumas surpresas para o leitor e conseguiu, graças à competência de Mark Waid, fugir da babaquice da saga de mesmo nome e apresentar uma história interessante para o universo do Demônio Destemido.

Mas na verdade, Pecado Original é uma das duas histórias que este arco traz. A primeira, a edição #5, aborda a “morte” de Foggy Nelson, que precisa sair de cena para que possa continuar o tratamento contra o câncer, especialmente agora, que todos sabem quem é o Demolidor. O risco extra de ser sequestrado ou atacado por um vilão do Homem Sem Medo é um luxo que nem Foggy nem Matt querem correr e a inteligente forma que Waid faz essa “morte” acontecer é sensacional, mostrando não só uma saída em alto estilo como um modus operandi e uma preocupação tocante de Matt para com seu amigo.

O que sempre me chama a atenção nas revistas dessa fase de Mark Waid no Demolidor, e isso desde Um Novo Começo (2011), é como o autor consegue misturar as coisas mais trágicas, comuns e até bobas do cotidiano com a dupla vida de Matt e sua relação às vezes bem difícil com Foggy. Isso, somado ao fato de o Demolidor ser um herói bastante complexo, tanto em sua persona com superpoderes quanto em sua persona comum. Aqui em Pecado Original, Waid mais uma vez faz uso dessa interessante visão para mergulhar no passado e nos trazer uma informação que desde A Queda de Murdock tem levantado um grande número de perguntas, apostas e suposições.

Demolidor Pecado Original, Foggy Nelson, Homem-Formiga

Homem-Formiga dando uma mãozinha no tratamento de Foggy contra o câncer.

Afinal, por que Maggie abandonou o pequeno Matt e Jack “Batalhador” Murdock? A resposta não poderia ter vindo em um momento melhor ou com um melhor título, algo bastante simbólico para o protagonista. Talvez a revelação tenha parecido comum demais ou até “anticlimática” para uma parcela dos leitores, mas particularmente achei que caiu como uma luva no universo do Demolidor. Urbano, cotidiano, simples. Nada de uma ultra-master-blaster-plus-advanced trama com conspirações galácticas ou internacionais para dizer algo que infelizmente é muito comum, seja por motivos psicológicos, como no caso de Maggie e sua depressão pós-parto, seja por outros inúmeros motivos, que é o fato de algumas mães abandonarem os seus filhos — e percebam o problema moral aí embutido e que o autor consegue evitar muito bem.

Em apenas três edições vemos dois excelentes enredos mostrando o comportamento de Matt/Demolidor em relação às duas pessoas vivas mais importantes para ele. E o melhor de tudo é que tanto na trama que explica a “morte” de Foggy quanto naquela que explica o passado do herói, os coadjuvantes têm voz, conseguem dar a sua opinião sobre o caso, especialmente Foggy, que termina a edição #5 de uma forma que provavelmente irá emocionar alguns leitores.

E nas três edições, o trabalho artístico de Chris Samnee (#5) e Javier Rodriguez (#6 e 7) não faz feio ao roteiro de Waid. Ambos já estão trabalhando na revista a um tempinho e já possuem uma assinatura reconhecível em sua abordagem para o herói, mudando sensivelmente a cada edição, dependendo da necessidade. Nota-se, porém, que Samnee tem evitado mais os quadros limpos e minimalistas desde que Matt, Foggy e Kirsten mudaram-se para São Francisco. Isso até causa um pequeno choque quando lemos as edições ilustradas por Rodriguez e arte-finalizadas por Alvaro Lopez, especialmente as sequências em Wakanda. A cuidadosa e respeitosa representação da cultura local, o corretíssimo espaço para alguns quadros limpos e a excelente paleta de cores quentes escolhida por Rodriguez fazem essas edições as mais interessantes do arco, em termos artísticos.

Demolidor Wakanda

Dando um pulinho em Wakanda.

Um bom herói, definitivamente é definido pela equipe criativa que ele tem a sorte de receber — todos nós já vimos heróis furrecos ganharem abordagens simplesmente épicas nas mãos de grandes autores — e o Demolidor tem mais uma vez a sorte de contar com uma equipe assim. Pena que, como já sabemos, não vai durar mais muito tempo, já que no último 1º de julho de 2015, a Marvel anunciou a reformulação de seu universo (here we go again…) e o Demolidor passará para a pena de Charles Soule e para as tintas de Ron Garney… E eu ainda prefiro não comentar sobre aquele “aprendiz”, seja o Gambit, seja o “filho do Stick“.

Demolidor #5 a 7: Pecado Original (Daredevil #5 a 7) — EUA, 2014
No Brasil: Demolidor #8, Panini, 2015
Roteiro: Mark Waid
Arte: Chris Samnee, Javier Rodriguez
Arte-final: Chris Samnee, Alvaro Lopez
Cores: Javier Rodriguez

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