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Crítica | “Dictator” – Scars on Broadway

por Velho Chato
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O Scars on Broadway está de volta em 2018! E você aí se pergunta: Scars on quem??? É claro que muita gente não sabe a importância – ou mesmo a existência – desse nome, claro, mas pode acreditar nisso: estamos falando aqui de um baita acontecimento na história do rock’n’roll mundial! O Scars on Broadway é o projeto paralelo de ninguém menos que Daron Malakian – o malucaço e espetacular guitarrista da cultuada banda de “metal alternativo” System of a Down!

O System todo mundo conhece, né? Vindos da turma do enfadonho new metal dos anos 2000, eles chocaram o mundo ao provar a para si e para a crítica que não tinham nada a ver com aquilo e apresentaram uma discografia simplesmente fora de qualquer classificação possível! Sério: os caras me decidem misturar música regional armena com um heavy metal do mais bruto e escabroso possível e a coisa ainda acaba dando certo, mas muito certo!

Trazendo letras engajadas (e até engraçadas), com mensagens de cunho fortíssimo sobre assuntos como política, revolução, guerra e até zen-budismo, a banda logo se tornou sensação mundial e, em seu primeiro disco, já abalaram as estruturas do rock como não se via fazendo no mainstream desde os tempos de…sei lá, o Nirvana!

  • Tempos estranhos

E como na vida nem tudo são rosas – muito menos na trajetória de bandas de rock como essas, podemos dizer que hoje são tempos estranhos, mas bem estranhos, para os lados do System of a Down.

Sério: a banda não lança nada, nem um material de inéditas, desde o longínquo ano de 2005, completando então hoje (2018) nada mais nada menos do que 13 anos sem lançar uma mísera musiquinha de trabalho sequer! E o mais estranho disso tudo é que a banda simplesmente se recusa a encerrar suas atividades. Eles não se permitem jogar a tolha e dar o game over de vez nisso tudo! Ou, pelo menos, não no palco: mesmo dando seus “tempos” e tirando seus “recessos” como fazem todas as outras bandas do estilo, eles logo se reúnem e agendam novas toneladas de shows e festivais pelo mundo afora. Sempre. Como num passe de mágica.

Sobre o porquê dessa história toda e os motivos que levaram a coisa a estar como está, muito pouco se fala a respeito, obviamente. Os caras sempre se mantêm numa postura bastante discreta sobre o tema e se recusam a entrar em detalhes ou picuinhas sobre qualquer um de seus integrantes e em qualquer um de seus depoimentos ou aparições públicas. De toda forma, é possível, sim, se perceber, nas entrevistas (e nas entrelinhas), que a banda passa por um sério período de divergências criativas e que estas ocorrerem, muito geralmente, entre Daron, já apresentado, e Serj Tankian, o vocalista – sabidamente as duas grandes forças motrizes por trás do System of a Down.

Serj já não se encontra mais na mesma página criativa que seu parceiro Daron, isso é fato. Mesmo a banda tendo seguido firme com os shows e as turnês, no estúdio, realmente, as coisas não vingaram de forma nenhuma. Alguns dos membros da banda até chegaram a soltar alguns tweets sobre uma possível volta da banda ao estúdio em 2017, mas o tempo acabou passando e nada se lançou, nada se criou dali – a despeito da enorme expectativa dos fãs de todas as partes do globo. Ao que consta, o vocalista Serj, já passado da faixa dos seus 50 anos de idade, não se encontra mais inclinado a fazer música pesada novamente. Já Daron se manteve roendo o osso e não quis, de maneira alguma, largar o espírito do bom e velho rock’n’roll. Cansado de esperar pelo parceiro dar algum sinal verde para as composições, ele resolveu arregaçar as mangas e formar sozinho o Scars on Broadway.

  • O Álbum

Dictator, o segundo álbum da banda, chega, então, sob as mais gigantescas expectativas possíveis – expectativas estas geradas principalmente pelo fato do próprio guitarrista ter dito que ali haveria material que fora originalmente composto para constar num novo disco do System of a Down, e não do Scars on Broadway. Malakian conta, também, que foi ele mesmo quem gravou tudo ali sozinho, tendo composto e executado todos os instrumentos do álbum, assim como todas as vozes! Como o trabalho com o System não se desenvolveu, e as pessoas já começavam a perguntar por um novo trabalho do Scars on Broadway também, ele decide, então, lançar as novas-velhas músicas que foram compostas originalmente no ano de 2012.

Já em Lives, o primeiro single divulgado, podemos sentir claramente um gostinho estranho de System of a Down “requentado” pairando, aquele mesmo já sentido no primeiro disco do projeto. Se no System tínhamos as inconfundíveis alternâncias entre o peso do heavy metal Ocidental com as belas melodias do Oriente, em Dictator nós temos isso tudo também – apenas apresentado de uma forma, infelizmente, bem menos inspirada.

No início do disco, em temas como Angry Guru, Ditactor e Fuck and Kill, percebemos rapidamente a tendência do músico em brincar coma junção dos versos pesados, acelerados, junto aos refrões vigorosos e cheios de melodia – assinatura inconfundível de seu trabalho desde tempos imemoriais. O guitarrista – e agora, vocalista, baixista e baterista – sempre fora um artista dos mais inventivos de sua geração e o que percebemos aqui, infelizmente, é uma derrocada, um claro desgaste desse potencial criativo ocorrido com o passar dos anos. As composições simplesmente já não chegam mais tão inspiradas como foram no passado.

Para os que esperavam se deparar com algo com o selo de qualidade System of a Down, é melhor tirar o cavalinho da chuva – pois será possível se divertir de verdade apenas com algumas poucas canções aqui. Em Never Forget, Malakian entrega uma faixa com sabor de trilha sonora à lá Quentin Tarantino, brincando com órgãos num estilo vintage, retrô, que chegam a ser interessantes. Os vocais melódicos junto à bateria destruidora no refrão soam muito bem, compondo uma bela faixa, uma ótima faixa – a melhor do disco, inclusive.

Em Talkin Shit, na sequência, somos presenteados com os ótimos solos do guitarrista remetendo às origens na tradicional música armena – não sem as tradicionais bases pesadíssimas e distorcidas retumbando ao fundo. De forma geral, o que se nota aqui é que, mesmo com o louvável esforço de Malakian em entregar um trabalho consistente e que consiga fazer jus à enorme base de fãs de ambas as bandas, o tiro acaba saindo pela culatra, literalmente. Tudo soa, de fato, como “restos” de trabalho do System of a Down – daquelas músicas só pra encher disco mesmo – e a comparação aqui se torna simplesmente impossível de ser evitada.

  • Conspirando

Teoria da Conspiração ou não, ao fim da audição de Dictator, podemos perceber que algumas peças do quebra-cabeças do System of a Down acabam, finalmente, por se encaixar: nota-se facilmente que Daron Malakian perdeu o impulso criativo de outrora, com seu poder de fogo claramente se esvaindo ao prazo de validade.

Ouso concluir que foi precisamente essa falta de inspiração que motivou Serj – e talvez todos os outros membros da banda – a impedir que tais composições viessem a formar a base do que seria o tão aguardado novo disco do System. Talvez não fosse pra acontecer mesmo. Talvez eles realmente se preocupam com a arte (e não apenas o dinheiro) no final das contas e não quiseram manchar o seu legado. Simples assim.

De toda forma, como já explicado, as expectativas para o novo álbum eram invariavelmente imensas então, não teve jeito: Dictator entra seguro para a lista de decepções do ano, sem dúvidas. Uma pena. E você? Gostou do novo trabalho? Ainda tem fé no System of a Down? Deixe sua opinião nos comentários e até a próxima!

Aumenta: Never Forget
Diminui!: Assimilate

Ditactor
Artista: Scars on Broadway
Lançamento: 29 de Julho de 2018
País: EUA
Gravadora: Interscope
Estilo: Metal Alternativo

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