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Crítica | Dishonored 2

por Guilherme Coral
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estrelas 5,0

O primeiro Dishonored é, sem dúvidas, não apenas um dos melhores games de 2012, como um dos melhores a utilizar mecânicas de stealth. A nova IP publicada pela Bethesda e desenvolvida pelo Arkane Studios foi muito bem recebida tanto pela crítica quanto pelos jogadores, sendo louvada pela versatilidade oferecida em suas missões e imersiva ambientação nesse universo steampunk, inspirado claramente na Inglaterra vitoriana. Após o lançamento de três pacotes de conteúdo adicional, também bem recebidos, era de se esperar, portanto, que uma continuação logo viria. Eis que recebemos Dishonored 2, um game que consegue melhorar todos os aspectos do original, expandindo sua mitologia e nos entregando uma história bastante original, que perfeitamente se encaixa com o que vimos anteriormente, além de, novamente, justificar o seu título.

A trama se passa quinze anos após os eventos do primeiro jogo. Na cerimônia de homenagem à assassinada imperatriz Jessamine, um golpe de Estado realizado por sua irmã perdida, Delilah Copperspoon, e o duque de Serkonos, tira Emily Kaldwin do trono. O protetor real e pai da imperatriz, Corvo Attano, no processo, tem seus poderes drenados pela vilã e cabe ao pai ou a filha retomarem o poder antes que seja tarde. Ao escolhermos um dos dois personagens o outro é congelado pela magia de Delilah e nos resta somente embarcar em uma viagem a Karnaca, ao sul de Dunwall, para acabar com cada um dos apoiadores da nova governante e descobrir uma forma de derrotá-la definitivamente.

Os desenvolvedores de Dishonored 2 adotaram a ousada estratégia de transformar dois dos DLCs do primeiro game em prelúdios para a história dessa continuação. Em The Knife of DunwallThe Brigmore Witches controlamos o assassino Daud enquanto ele tenta descobrir o mistério por trás de Delilah, isso durante os eventos de Dishonored. Tal escolha poderia limitar o público alvo desse segundo, visto que nem todos entenderiam toda a história por trás da antagonista. Estamos falando, porém, de detalhes que apenas melhoram a experiência e não a tornam excludente, visto que todas as informações dessas duas expansões são oferecidas através de cutscenes, diálogos e livros que encontramos na sequência. O que ganhamos, no fim, é uma bela coesão entre um jogo e outro, conectando esses dois cenários de maneira dinâmica e envolvente.

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A estrutura do game segue de forma idêntica ao primeiro, algo que, verdadeiramente, não precisava mudar. O jogo é dividido em missões, nas quais, em cada uma, eliminamos os principais apoiadores de Delilah, desde o inventor Kirin Jindosh até o próprio duque de Serkonos. Interlúdios entre cada missão ocorrem no navio Dreadful Whale, onde encontramos alguns detalhes de lore, além de aprofundar a relação entre Corvo/ Emily e seus aliados. A diferença principal entre esse e seu antecessor é a escassez de recursos, não permitindo que façamos melhorias em nosso equipamento ou compremos munição entre uma missão e outra – tudo deve ser encontrado ao longo da história ou comprado nos mercados negros espalhados por Karnaca.

O aspecto mais interessante de Dishonored 2, que melhora o conceito apresentado no original, é a maneira como o mundo ao seu redor vai sendo moldado de acordo com suas ações. Vemos pequenas mudanças, como a forma como seus aliados se comportam até alterações mais substanciais, como a maior presença de focos de infestação de bloodflies, que substituem os ratos nesse cenário mais tropical – essas são uma espécie de Febre Amarela do inferno, atacando qualquer um que chegue perto dos ninhos e colocando seus ovos em pessoas ou cadáveres. Se você já achava os ratos do primeiro game perturbadores, espere até se deparar com esses monstrinhos. Evidente que o final também é diferente, de acordo com nossas ações, que são definidas pelo número de pessoas que matamos e a abordagem mais silenciosa ou puramente descarada adotada ao longo do game.

Entramos, portanto, naquilo que faz essa nova franquia ser tão apaixonante: a liberdade que ela nos oferece. Essa sequência simplesmente melhora a fórmula do primeiro, oferecendo infinitas possibilidades de como podemos passar por cada situação. Corvo e Emily contam com diferentes poderes entre si, indo desde o teleporte até a possibilidade de conectar um inimigo a outros, fazendo com que o destino de um seja compartilhado por aqueles outros. Com isso podemos usar não somente os poderes de forma individual para vencer determinada situação, como realizar combos diversos, o que transforma cada jogo em uma experiência essencialmente única e divertida. Além disso, as missões apresentam cenários diversificados, os quais exigem novas abordagens, seja para evitar os soldados mecânicos de Kirin Jindosh ou despistar as bruxas seguidoras de Delilah.

Dessas missões devo louvar particularmente A Crack in the Slab, que tira nossas habilidades usuais e nos oferece um mecanismo de controle do tempo, possibilitando que transitemos entre o passado e presente de uma, outrora gloriosa, mansão que caíra na ruína. Esse trecho do game é uma verdadeira obra de arte, garantindo não somente criativos desafios, como interessantes desdobramentos da trama, ao passo que nossas ações no passado repercutem diretamente no presente. Vemos aqui o melhor que a série tem a oferecer, se encaixando perfeitamente com seu mecanismo de causa e consequência, o que já é brilhantemente trabalhado através das criativas maneiras alternativas de se eliminar, sem matar, cada um dos principais alvos do jogo – ouso dizer, até, que algumas dessas soluções “pacíficas” chegam a ser piores do que a morte em si, o que, naturalmente, influencia toda a atmosfera sombria do game.

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Tal clima mais “dark”, claro, também é estabelecido pela evidente preocupação com os detalhes demonstrada pelo Arkane Studios. Pichações na parede, jornais que encontramos, livros, diálogos entre os NPCs de cada local que visitamos, todos ajudam a construir esse universo, que sabe se aprofundar na via steampunk da franquia, além de mergulhar no seu lado mais sobrenatural. Dito isso, é bastante claro que o Outsider, a entidade sobrenatural que dá a Corvo e Emily seus poderes, conta com mais voz aqui, tendo mais diálogos e estando mais diretamente ligado à trama principal. Por falar em diálogos, dessa vez o/a protagonista também fala ao longo da história, tanto nas conversas quanto durante as missões, trazendo comentários diversos a cada situação – sua personalidade, aliás, é moldada pelas nossas ações de forma substancial.

Os gráficos, por sua vez, mantém o padrão estético criado no primeiro jogo, tendo suas texturas melhoradas, apresentando, também, maior fluidez nos movimentos – esses se tornam mais realistas em razão da animação dos braços do personagem que vemos na tela. É preciso notar, também, as belas ou trágicas paisagens que encontramos ao longo dessa jornada, repletas de detalhes que nos envolvem, tornando tona a experiência consideravelmente mais imersiva. Isso, aliado das mudanças na interface tornam esse um jogo mais bonito de se ver, a tal ponto que, mais de uma vez, paramos apenas para contemplar a riqueza de cada cenário. Evidente que tais mudanças melhoram a jogabilidade em si, especialmente nos menus, que se tornaram mais orgânicos, intuitivos.

Dishonored 2 é a prova de como uma nova franquia pode ser tão apaixonante quanto aquelas clássicas que acompanhamos desde os primórdios dos video-games. Melhorando consideravelmente as mecânicas do primeiro jogo, introduzindo dezenas de novos poderes para explorarmos, uma ambientação diferente e, claro, possibilitando mais alternativas para cada situação, Dishonored 2 é um game que nos compele a terminar uma segunda vez logo após ser “zerado”. Esse universo steampunk sobrenatural nunca esteve tão envolvente e divertido, fazendo dessa uma experiência obrigatória para qualquer um que aprecie uma boa história de vingança.

Dishonored 2
Desenvolvedor:
Arkane Studios
Lançamento: 11 de novembro de 2016
Gênero: Ação em primeira pessoa
Disponível para: PS4, Xbox One, PC

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