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Crítica | Doctor Who 8X09: Flatline

por Luiz Santiago
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Os desafetos de Clara Oswald devem estar em uma crise interna quase mortal após a exibição de Flatline, o segundo e último episódio que o já amado Jamie Mathieson escreveu para essa 8ª Temporada de Doctor Who.

A história apresenta os Sem-Ossos (Boneless), criaturas em 2D vindas de um outro Universo (de cara, isso cheira a Missy, não?) e que testam as estruturas humanas de uma região da cidade de Bristol, RU, experimentando o formato humano para em seguida tomá-lo como “recipiente”, trazendo, então, o 2D para a terceira dimensão.

A ideia do episódio é completamente ligada à ficção científica clássica e nos lembra bastante os grotescos vilões da Série Clássica que tanto amamos. E de uma forma bem estranha, esses vilões também nos lembram os Isolus de Fear Her, com a diferença de que os Isolus não eram necessariamente um ‘vilão’ como os Boneless.

Essa estrutura inteiramente sci-fi do episódio ganha um ar sinfônico da metade da projeção para frente, graças a épica partitura de Murray Gold, que torna os eventos ainda mais densos do que são e ajuda a criar a grotesca e medonha atmosfera gerada pelos Sem-Ossos, com destaque para o momento em que eles chegam à esfera 3D. Com o Doutor preso em um TARDIS encolhida por fora e a missão de não deixar o diminuto grupo de serviço comunitário morrer, todo o drama volta-se para Clara, que assume o papel de “Doctor” no episódio, com direito a portar o psychic paper e a sonic screwdriver do 12º Doutor.

A relação entre o Time Lorde e a “garota impossível” aparentemente voltou ao normal após o final de Mummy on the Orient Express, mas um olhar mais atento nos mostra que nem tudo está tão ‘normal’ assim. O slogan “não confie em ninguém” está fazendo real sentido a cada novo episódio da temporada e mais mentiras estão sendo contadas, ao passo que, pela primeira vez, o Doutor se dá conta – ou pelo menos é a primeira vez que ele demonstra – de que algo muito grande está por trás de Clara e possivelmente Danny Pink – percebam que Clara refirma que “está ok” para Danny que ela viajasse com o Doutor, mas Danny sequer sabe que ela está viajando novamente. Duas forças distintas agem sobre clara nessa temporada (provavelmente Danny e Missy). Uma dessas forças quer aproximá-la do Doutor, a outra quer afastá-los. Mas quem é quem/qual?

O roteiro não só aborda essa temática de transferência e percepção do Doutor para Clara e a complexa relação entre eles, como também joga com realidades que já foram complicações para o Doutor no passado, trazendo, por exemplo, um termo-chave de sua 3ª encarnação, a constatação da TARDIS como algo “transcendentalmente dimensional”. Além de tudo, temos aqui mais alguns fatos novos a respeito da nave, como o fato de que se ela se materializasse na Terra com sua densidade original, o planeta inteiro seria esmagado (provavelmente por causa do Olho da Harmonia, um dos mais complexos e inteligentes modelos de fonte de energia que eu já vi em ficção científica).

E desse ponto em diante, temos demonstrações de outros desafios de dimensões de TARDISes em existência física e espaço-temporal vindas da Série Clássica, como o encolhimento da nave em Planet of Giants, Carnival of Monsters e Logopolis; o salto de dimensões em The Space Museum; o problema de realidade da TARDIS em universos ou Terras paralelas como em The Mind Robber e Inferno; ou até mesmo um universo void de duas dimensões que o 4º Doutor visitara em Warriors’ Gate.

Depois de Flatline, temos um paradoxo de percepção em relação à temporada. Se por um lado ficamos mais ou menos confortáveis em crer que Missy é a mulher que deu o telefone da TARDIS para Clara (provavelmente ela estava em outra forma ou bem disfarçada) – e tiro essa percepção da cena final, quando ela disse ter “escolhido bem” a garota impossível –, ficamos confusos em relação ao próprio papel de Clara, de Danny, de Missy como pessoas que interagem com o Doutor. Embora pareça fácil especular nesse sentido, temos algumas contradições e atalhos que trazem mais perguntas do que respostas. Pela primeira vez na série, me sinto “desamparado” em relação ao sentido geral das coisas, mesmo que esteja adorando a construção dramática toda até esse momento.

Diferente do episódio anterior, Flatline tem um elenco pequeno e um tipo de organização textual que abre as janelas e as portas da dúvida para o final da temporada. Faltam apenas três semanas e nada de concreto quanto aos mistérios tivemos até então. É tempo de temer ou esperar pelo melhor? Eu estou otimista, mas não descarto o medo. Aguardemos em Rassilon que tenha iluminado Steven Moffat para a escrita do arco finale.
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Breves comentários e outras referências

a) Assim como no episódio anterior, temos cenas de caráter bastante claustrofóbico, um outro motivo cênico bastante recorrente na temporada.

b) A sugestão de Clara para o Doutor tirar a TARDIS dos trilhos do trem foi sensacional. Ótima lembrança de A Família Addams!

c) Clara se apresentando a Rigsy como “Doctor” e o 12º dizendo “Don’t You Dare!” e chamando ela de “Doutora em mentiras” são momentos de interessante alívio cômico no episódio.

d) E aquele velho odioso que sobreviveu ao ataque dos Boneless e derrubou a TARDIS nos trilhos? Por quê não o mataram ao invés dos outros dois homens não odiosos do serviço comunitário?

e) A TARDIS no “modelo de cerco” fica tremendamente parecida com a Pandorica. E pensando bem, faz total sentido que seja mesmo parecida, afinal, ela deveria “selar o Doutor” em proteção máxima — embora mortal!

Doctor Who 8X09: Flatline (Reino Unido, 2014)
Direção: Douglas Mackinnon
Roteiro: Jamie Mathieson
Elenco: Peter Capaldi, Jenna Coleman, Samuel Anderson, Joivan Wade, John Cummins, John Cummins, Christopher Fairbank, Michelle Gomez
Duração: 45 min.

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