Home TVEpisódio Crítica | Doctor Who 9X05 e 6: The Girl Who Died / The Woman Who Lived

Crítica | Doctor Who 9X05 e 6: The Girl Who Died / The Woman Who Lived

por Guilherme Coral
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estrelas 5,0

Atenção: Contém spoilers dos episódios comentados.

O papel do Doutor, as consequências de suas ações e seu próprio estado psicológico após centenas de anos de viagens são colocadas no centro do palco no arco composto por The Girl Who DiedThe Woman Who Lived. Nos dois episódios temos uma estrutura narrativa diferente, ainda que não inédita a Doctor Who, uma conexão marcada não por um vilão e sim por uma personagem e uma questão existencial acerca da imortalidade. Mantendo o nível de qualidade da nona temporada, os dois capítulos trazem uma abordagem que organicamente oscila entre a comédia, o espetáculo e o drama, enquanto mantém a coesão deste ano como um todo.

A Tardis pousa nas proximidades de uma vila viking e o Doutor e Clara são capturados pelos guerreiros (historicamente imprecisos, já que os vikings, de fato, nunca utilizaram capacetes com chifres) e levados para tal local. Lá descobrem que os moradores são aterrorizados por um farsante dizendo ser Odin, quando, na verdade, se trata de uma invasão Mire (não confundir com os Mire Beasts de The Chase, arco do Primeiro Doutor). Ao resolver toda a problemática ali enfrentada, o Time Lord, na tentativa de salvar uma menina local, Ashildr (Maisie Williams), acaba garantindo a ela imortalidade e anos após encontra uma mulher endurecida pelos anos da experiência.

O roteiro de Jamie Mathieson, em conjunto com Steven Moffat apresenta uma Ashildr bastante sonhadora, é uma peça estranha dentro daquela vila viking responsável por fazer o Doutor se sentir na obrigação de salvar os habitantes locais – eu sou o Doutor e eu salvo as pessoas – essas palavras são resgatadas por influência da menina e aqui se encontra o interessante contraste que aparece no segundo capítulo do arco. A mulher que sobreviveu é uma criatura fria, que abandonou seus sentimentos após perder inúmeras pessoas. Um tom mais sombrio se instaura – ainda que com momentos de alívio cômico bem inseridos. Maisie, então, se destaca ao máximo, nos trazendo uma interpretação que rivaliza seus melhores momentos em Game of Thrones. Conseguimos enxergar a dor por trás de seu olhar e de suas palavras e, em Capaldi, percebemos a angústia de um homem que sente que abandonara alguém, transformando uma ingênua e inocente menina em uma criatura sem emoção.

Da mesma forma que Clara tenta convencer seu companheiro no primeiro episódio, temos o Doutor tentando salvar o espírito de Ashildr no segundo. Ele é a única pessoa que sabe como ela se sente, mas como ele pode fazer ela enxergar? A tensão, portanto, passa para o espectador, aspecto bem mantido pela parceria da mulher com o leonino. O curioso é como a trama envolvendo essa relação secreta atua em segundo plano, o foco realmente é a psiquê da personagem e, é claro, do Senhor do Tempo, afinal, ele enxerga a si próprio nela. E nessa dinâmica, o texto de Catherine Tregenna cria uma atmosfera quase claustrofóbica, sentimo-nos tão presos quanto a própria viking e aos poucos entendemos não só o lado do Doutor quanto o dela própria.

No fim, contudo, Tregenna resgata a ideia por trás da figura do Time Lord e o porquê dele viajar com humanos, cujas vidas são tão curtas em comparação a sua própria. O amor do Doutor pela vida é colocado mais uma vez no centro do palco e sabiamente a roteirista insere Clara nos momentos finais apenas, como um suspiro de alívio para o espectador, que, enfim, enxerga o perigo de se colocar dois imortais viajando lado a lado. O ser humano é necessário e somente assim a humanidade do Doutor pode (e deve) ser mantida, caso contrário, corre o risco de se tornar o que a mulher que sobreviveu se tornara.

Com essa motivação central, esse questionamento, mais uma história da nona temporada de Doctor Who se encerra, deixando-nos uma personagem que torcemos para seu reaparecimento (ainda que seja improvável, considerando o horário da atriz e o fato dela não poder crescer dentro da série). Capaldi e Williams oferecem um verdadeiro show, com uma química palpável, que apenas exalta o talento dos dois atores. Um arco verdadeiramente intimista que sabe exatamente onde manter seu foco.

Doctor Who 9X05 e 6: The Girl Who Died / The Woman Who Lived (Reino Unido, 2015)
Showrunner:
Steven Moffat
Direção: Edward Bazalgette
Roteiro: Jamie Mathieson, Steven Moffat (The Girl Who Died) e Catherine Tregenna (The Woman Who Lived)
Elenco: Peter Capaldi, Jenna Coleman, Maisie Williams, Rufus Hound, David Schofield, Ian Conningham
Duração: 48 min e 45 min, respectivamente

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