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Crítica | Doctor Who: A Guerra Bem-Educada, de Gareth Roberts

por Luiz Santiago
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Equipe: 4º Doutor, Romana II, K9
Espaço: Planetoide Barclow
Tempo: 58º Segmento do Tempo (pós ano 10.000.000)

Este livro marca o final da série literária Virgin Missing Adventures, cujo objetivo era publicar histórias que completassem contextos não muito bem explicados ou deixados em aberto nos arcos da TV. Iniciada em 1994 com Ópera Gótica, aventura do 5º Doutor, a série chegou a este 33º volume e com ele encerrou seu contrato com a BBC, que retomaria a franquia de publicação de livros e criaria a linha BBC Past Doctor Adventures. Esta nova fase teria 75 volumes publicados, no período entre 1997 e 2005.

Situada entre os arcos The Horns of Nimon e The Leisure Hive, esta aventura tem todos os aspectos possíveis de finalização de série, com um evento final que não vemos se concluir, mas que sabemos ter continuação no Universo expandido da série, no conto Special Occasions: 1. The Not-So-Sinister Sponge. De uma forma geral, o ambiente de guerra em que o Doutor, Romana II e K9 II chegam não causa nenhum impacto e o livro não parece ter coisas muito interessantes no começo. Aos poucos, porém, percebemos que essa guerra guarda, nos dois lados do “front frio”, surpresas desagradáveis, de modo que os 176 anos em que não se dispara um único tiro deixam de ser uma boa desculpa para uma “guerra bem-educada”.

Aqui, temos os humanos colonizando o planeta Metralubit, com 2000 anos de paz, que se quebram com uma guerra contra Chelonia (planeta nativo de tartarugas humanoides) que chega a matar 2/3 da população. No desenvolvimento, entende-se que esse cenário foi desenhado pelos seres gestalt chamado The Darkness (ou The Hive), moscas evoluídas que possuem habilidades telepáticas e telecinéticas e que se alimentam de corpos mortos. Por mais inverossímil que seja, o leitor percebe que o fato da trama se passar em um futuro muito distante pode perfeitamente ter dado a esses insetos capacidades que não possuem em nossa era. Isso, e o fato de que essas moscas não precisam ser da Terra, embora tal informação não esteja especificada na obra.

Metralubit conheceu outras guerras, com um intervalo de dois mil anos entre elas, e dentre esses intervalos, uma nova civilização se ergueu e desenvolveu os Femdroids, liderados por Galatea. O Black Guardian, que não desiste do Doutor desde a saga da Chave do Tempo, tomou uma tropa dentre os Chelonianos de um passado distante, que exigiram para si o planeta Barclow, colocando os humanos de Metralubit e as tartarugas ninjas de Chelonia na tal guerra bem-educada que o Doutor irá conhecer, onde os líderes dos dois lados protelam qualquer ação e deliberam sobre o evento, o que demora os citados 176 anos até que as moscas satânicas voltem a atacar novamente e todo o ciclo volte a acontecer. A diferença, desta vez, é que o Doutor está em cena.

A descrição para o que as moscas fazem, a inconstância do líder humano e o tipo de “guerra fria” entre as duas raças na primeira parte da aventura é mito interessante. Quando um míssil “perdido” aparece e todos, inclusive o leitor, ficam chocados, o texto passa a trilhar caminhos bélicos cada vez mais firmes, lembrando-nos um pouco de O Dispositivo da Morte.

Também é adorável imaginar Romana vestida como um amálgama do e do Doutores. No começo da aventura ela mexe no guarda-roupa do Doutor e pega algumas peças aleatórias, o que a faz ficar realmente muito bonita e garbosa, como é possível ver na arte da capa do livro. Outro destaque inesperado aqui é a ação de K9, que vira Presidente e tem algumas das linhas mais engraçadas — não por querer, claro — da história. O broche que Romana usa na roupa, “K-9: The logical choice“, em campanha para o “amigo” é em um só tempo, espirituoso e elegante.

As páginas finais são de tirar o fôlego. O Black Guardian faz de tudo para pressionar o Doutor a liberar o enxame de moscas no século 26, período de expansão da humanidade pela galáxia, e exterminar a nossa espécie. Ou isso, ou o Time Lord ficará para sempre preso, exilado no Time Vortex, algo que certamente faria o Doutor enlouquecer, como o próprio Guardião supõe, em um solilóquio épico. O Doutor, porém, toma uma atitude arriscada e praticamente mortal. Romana e K9 sabem e alertam sobre o perigo, mas nenhum dos dois vê muita alternativa. “Servir” o Black Guardian não é uma opção. A força com que a história termina, a bela cumplicidade entre o Doutor e Romana e a coragem de ambos se colocarem fora do tempo é algo inesquecível e finaliza essa história de forma épica, talvez com um elefante de nostalgia no peito do leitor. E talvez alguns ninjas cortando cebolas roxas nas proximidades.

Doctor Who: A Guerra Bem Educada (The Well-Mannered War) — Reino Unido, 17 de abril de 1997
Autor: Gareth Roberts
Editora: Virgin Books
293 páginas

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