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Crítica | Doctor Who: As Estrelas Passam Silenciosas, de Dan Abnett

A derrocada de uma civilização.

por Luiz Santiago
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Equipe: 11º Doutor, Amy, Rory
Espaço: Planeta Hereafter
Tempo: c. 10.000.675 (inverno)

Este é um “livro de Natal”. Ou deveria ser. Ou é um “livro de Natal”, só que de forma disfarçada… O fato é que o Doutor promete levar Amy e Rory para passar o Natal em Leadworth (a mesma vila que conhecemos em The Eleventh Hour) mas a TARDIS se materializa em outro lugar, em um planeta parecido com a Terra, um lugar em processo final de terraformação chamado Hereafter (pois é, “na outra vida“. Os nomes dos lugares e dos personagens desse livro são ótimos, todos possuem um significado bastante incomum para nomes de lugares e pessoas). Há muita neve ali e o Doutor tenta compensar o erro geográfico — ao menos na teoria –, dizendo que onde quer que eles estivessem, com certeza era Natal.

Esta aventura se passa em uma era em que a humanidade buscava por novos planetas para habitar, uma vez que a Terra não era mais capaz de sustentar a vida. A primeira vez que isso apareceu em Doctor Who foi em The Ark e ao longo dos anos este conceito de diáspora humana em busca de um novo lar se espalhou tanto na TV (Frontios) quanto em áudio (The One Doctor) e outros livros (Réquiem Infinito, A Guerra Bem-Educada). Em todos esses casos, temos um grande perigo para a população, impedindo que a humanidade prospere em seu novo lugar. No caso de As Estrelas Passam Silenciosas, os problemas são o inverno cada vez mais rigoroso, a morte de cidadãos das vilas e o gado sendo destroçado.

Dan Abnett escreve uma caracterização muito boa para o 11º Doutor e esta é a primeira coisa que se destaca como qualidade no livro. Os diálogos rápidos cheios de interrupções, as piadinhas nas entrelinhas e uma série de referências ao passado do Time Lord garantem momentos inspiradores e nostálgicos ao longo da trama, como o casaco de pele do 2º Doutor; a citação de Jamie e Victoria por ocasião de The Ice Warriors; o planeta Castrovalva e o feioso Jagrafess de The Long Game. A ligação desse Doutor com “momentos soltos” de sua própria timeline se reflete aqui também, seguindo o tom dramático da 6ª Temporada (esta aventura se passa depois de The Girl Who Waited), trazendo também ingredientes para olharmos a relação de Amy e Rory de maneira um pouco mais carinhosa.

No começo do livro temos a separação do trio em dois caminhos. Amy e o Doutor são levados pelos nativos (Morphans) até a vila e Rory é perseguido por Ice Warriors, tentando fugir em meio às árvores e encontrando uma garota que fora deixar flores no túmulo do pai. Através dessas duas duplas, o autor consegue manter um texto bonito, apresentando conceitos como o respeito à vida e luta pela sobrevivência, coisas boas de humanos com humanidade… Em pouco tempo, porém, esse contexto não consegue mais segurar a história no mesmo nível. Ela clama por maior força e isso vai piorando com a progressiva revelação e participação dos vilões, alguns apenas de passagem (como os ratos bizarros que Amy encontra nos dutos) ou a outra “criatura de olhos vermelhos” de quem Rory havia ouvido falar o tempo todo, achando que eram os Ice Warriors: os Transhumans.

A partir do momento que estes personagens entram em cena, o livro vai se preparando para o final, mas não da melhor forma possível. Se a batalha fosse apenas contra os Ice Warriors e o contexto permanecesse em questões diplomáticas ou de crítica a alguns costumes locais, a coisa poderia ter melhor final. Todavia, os Transhumans (raça de elite de humanos que usaram de biotecnologia para alterarem seu corpo e sobreviverem de maneira superior no novo planeta, escravizando os “humanos inferiores”) exigem um outro tipo de abordagem, o que acaba desviando o texto para um novo tom narrativo do qual o autor não consegue dar conta a tempo, além de se tratar de uma linha textual bem menos interessante que aquela até então em voga.

O acordo com os Ice Warriors, que por sugestão do Doutor vão para o planeta Atrox 881, é a parte positiva do desfecho, mas não podemos dizer o mesmo da finalização para os colonos e para os Transhumans, agora adormecidos e entregues à vontade dos Morphans para acordarem-nos quando (e se) desejarem. A despedida e o carisma de grupo no final, típicos de uma aventura natalina, são calorosos e nos tocam de uma forma positiva, mas não garantem um grand finale para o livro. O leitor, no entanto, encontrará beleza necessária para votar a obra positivamente, depois da derradeira imagem lírica que sustenta o título do livro e nos convida a pensar sobre a vida, o Universo, o Natal e tudo mais.

Doctor Who: As Estrelas Passam Silenciosas (The Silent Stars Go By) — Reino Unido, 29 de setermbro de 2011
BBC New Series Adventures

Autor: Dan Abnett
Editora: BBC Books
320 páginas

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