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Crítica | Doutores Clássicos, Novos Monstros – 1ª Temporada

por Luiz Santiago
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A série Classic Doctors, New Monsters, produzida pela Big Finish e lançada em 28 de julho de 2016 (este volume 1) é parte de um projeto de reformulação de Doctor Who em áudio, ligando a Série Clássica à Nova Série. A intenção aqui é indicada imediatamente pelo título: fazer com que os Doutores de número 5 a 8 enfrentem vilões que só foram vistos pela primeira vez após o revival do show em 2005. Ou quase.

Os monstros que fazem parte deste volume são: Weeping Angels (em Fallen Angels, com o 5º Doutor); Judoon (em Judoon in Chains, com o 6º Doutor); Sycorax (em Harvest of the Sycorax, com o 7º Doutor) e, finalmente, Sontarans (em The Sontaran Ordeal, com o 8º Doutor).

Abaixo, um pequeno trailer com trechos desses quatro episódios.

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Fallen Angels

estrelas 4

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Equipe: 5º Doutor
Espaço: Reino Unido / Itália
Tempo: 2015 / 1511

De todos os personagens da Nova Série visitados neste primeiro volume da Classic Doctors, New Monsters, os que mais chamam a atenção e os que mais alta expectativa causam no espectador são os Weeping Angels. Eu ainda lamento profundamente que eles não tenham vindo em uma aventura com o 6º Doutor, mas talvez esse sonho se realize no futuro. O lado positivo da coisa é que Peter Davison está muito bem nessa aventura e lidou de forma muito interessante, cômica e ao mesmo tempo… nervosa, com  esses inesquecíveis “vampiros de energia temporal”.

A história se torna ainda melhor quando percebemos que ela possui um paradoxo, de onde partem os pontos de vista diferentes entre o Doutor e o casal em lua-de-mel, Joel e Gabby. A mudança do Reino Unido para a Itália, o encontro dos recém-casados com uma grande personalidade renascentista vivendo e produzindo maravilhas em 1511; a relação entre mecenas, igreja e artista; o modo de vida da Itália Renascentista… tudo isso se junta para fazer de Fallen Angels um drama que elenca bem os vilões e expõe as mudanças temporais de modo inteligente, como acontecera em Blink.

Aliás, existe uma meia-frase do Doutor aqui que traz algo que conhecemos primeiro vindo de sua décima encarnação. Fiquei bastante feliz que o roteiro de Phil Mulryne botou em cena a parte teórica e carregada e deixou a definição cômica e intraduzível como verdadeira criação do 10º Doutor. Seria muito ruim se ele tivesse mudado isso.

Ao final da história o espectador não sabe muito bem por quê falta algo em Fallen Angels. Praticamente tudo em aspectos técnicos funciona bem no episódio, o roteiro é divertido e sabe mexer com o horror causado pelos Anjos… mas tem algo que atrapalha a nossa total imersão na obra. Penso que a ligação muito próxima entre o que acontece aqui e o já citado Blink tire de nós a expectativa total para novidades, até porque, vemos o 5º Doutor utilizar um truque um pouco parecido com o que já víramos o 10º Doutor utilizar, só que à distância. Pensando bem, acredito que este seja mesmo o motivo da impressão de “falta” ao final.

Mesmo que não arrisque em terrenos verdadeiramente novos para esses vilões, essa abertura de Classic Doctors, New Monsters entretém e mata um pouco a saudade de vermos os Weeping Angels em ação. Mesmo com a repetição de certos motivos conhecidos por nós, ainda existe o elemento humano, uma marca emotiva e bastante peculiar, o que torna esse cenário uma descoberta interessante, ao menos sob esses novos pontos de vista.

Classic Doctors, New Monsters: Fallen Angels (Reino Unido, 2016)
Direção: Barnaby Edwards
Roteiro: Phil Mulryne
Elenco: Peter Davison, Sacha Dhawan, Diane Morgan, Matthew Kelly, Joe Jameson, Dan Starkey
Duração: 65 min.

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Judoon in Chains

estrelas 3,5

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Equipe: 6º Doutor
Espaço: Reino Unido / Planeta Marte
Tempo: 19 de Maio de 1884

Os Judoons são criaturas que precisam de um bom escritor para dar corpo a suas aventuras, caso contrário, a trama se torna um vai-e-vem de obediência forçada a leis e tentativas de prisão e extermínio que tornam tudo um pouco chato e contribui para o aparecimento de alguns clichês que já conhecemos dos vilões mais famosos de Doctor Who, os Daleks e os Cybermen. Neste encontro do 6º Doutor com os “policiais espaciais” em Judoon in Chains, parte desse problema foi evitado, mas fortaleceu-se a impressão de repetição em relação ao episódio Smith and Jones, o que não é necessariamente algo ruim, mas certamente pesa contra a criatividade da história.

O ponto de maior destaque é a nova representação de um Judoon, uma exposição mais emotiva, pessoal e perfeitamente aceitável para essa espécie, algo mais próximo da excelente reformulação dos Daleks em O Efeito de Propagação do que da estranha reformulação de um Sontaran (Strax) em A Good Man Goes to War. É na pessoa do Capitão Kybo, um Judoon afetado por uma espécie invisível, mas senciente, de um planeta em processo de terraformação, que a trama avança para um agradável território de novidades sobre a personalidade desses semi-rinocerontes.

O roteiro apresenta bem o Doutor e o coloca em ação de forma cômica, ao mesmo tempo que nos lembra de que o assunto em questão é sério, já que estamos falando de um Judoon acusado de deserção. Nesse ponto, algumas ações lembram o já citado episódio da 3ª Temporada da Nova Série, com algumas mudanças especiais. O problema disso é que fora a necessidade dos Judoons de deslocar um prédio de um lugar para outro a fim de conseguir jurisdição da Proclamação das Sombras, a permanência em Marte não traz muita emoção local, o que acabou me parecendo um desperdício de oportunidade. E ainda há a “bagunça organizada” causada pelo flashback. Não creio que esta tenha sido a melhor opção para narrar a história do Capitão Kybo, muito embora o final dela, depois que nos acostumamos com todo o processo, acabe nos acalentando.

Judoon in Chains nos oferece uma nova perspetiva para os Judoons, aqui, encontrando-se com o 6º Doutor. Colin Baker mantém o seu alto nível de interpretação e a despeito dos “senões” do roteiro, a Big Finish logra fazer um trabalho técnico admirável, especialmente na edição e mixagem de som. Eu realmente espero que possamos ver, no futuro, a colônia de “Novos Judoons”, onde quer que eles a tenham se instalado.

Classic Doctors, New Monsters: Judoon in Chains (Reino Unido, 2016)
Direção: Barnaby Edwards
Roteiro: Simon Barnard, Paul Morris
Elenco: Colin Baker, Nicholas Briggs, Kiruna Stamell, Trevor Cooper, Tony Millan, Sabina Franklyn, Nicholas Pegg, Barnaby Edwards
Duração: 61 min.

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Harvest of the Sycorax

estrelas 3,5

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Equipe: 7º Doutor
Espaço: The Blood Bank
Tempo: Futuro distante

Das histórias contidas nesta primeira temporada de Classic Doctors, New MonstersHarvest of the Sycorax é a mais engraçada, mesmo que o cenário e os temas paralelos de seu enredo sejam bastante aterradores.

Protagonizada pelo 7º Doutor, a aventura se estabelece em um futuro distante do planeta Terra, onde a empresa Pharma Corps conseguiu encontrar a cura para todas as doenças — ou o que ela considera doença — e todos vivem em estado quase permanente de dopagem. Neste cenário, os invasores Sycorax querem que os humanos abram um misterioso cofre, mas esta tarefa parece não ser de conhecimento de ninguém. Enquanto isso, centenas de pessoas são assassinadas. A chegada do Doutor nesse estabelecimento espacial chamado The Blood Bank é que acaba mudando o rumo das coisas.

Desde os primeiros minutos da aventura o roteiro coloca o seguinte problema: mesmo em uma era onde não havia doenças, a presença dos Sycorax ameaçava os seres humanos daquela base e foi deles a ideia de que alguns deveriam ser infectados com um vírus para o qual não havia cura, algo manufaturado para criar um certo “controle pelo medo”. Curiosamente, outras pessoas são imunes ao mal, e mais para frente descobrimos que os vilões de fato imunizaram alguns milhares de pessoas poque precisavam de escravos e indivíduos que pudessem abrir o misterioso cofre.

Todo o conceito de violência por parte dos monstros e o mistério por trás do cofre são bem executados no episódio. O espectador acompanha com bastante interesse os primeiros minutos, quando o problema é apresentado e o Doutor aparece em cena. É engraçado notar que já aqui ele conhecia os Sycorax e seu modus operandi, e o comportamento do 7º Time Lord lembra, da melhor maneira possível, o comportamento do 10º quando encontrou esses estraga-Natal em The Christmas Invasion.

A trama vai se tornando um pouco mais repetitiva e mais maçante à medida que os próprios vilões — e isso é uma armadilha ingrata, não é mesmo? — ganham espaço, estendem o discurso para outras coisas além de pedidos breves e mostram algumas coisas de sua cultura e comportamento, coisas que acabam ficando soltas na história, como por exemplo, a “estátua” que Zanzibar encontra em uma espécie de templo dos Sycorax. Mesmo assim, o resultado dessa pequena saga é positivo, traz um 7º Doutor tirando sarro dos vilões o tempo inteiro e fazendo coisas que garantirão uma série de gargalhadas no espectador, mesmo que, como já disse no começo, o cenário e eventos aqui expostos não sejam exatamente convidativos.

Classic Doctors, New Monsters: Harvest of the Sycorax (Reino Unido, 2016)
Direção: Barnaby Edwards
Roteiro: James Goss
Elenco: Sylvester McCoy, Nisha Nayar, Jonathan Firth, Rebecca Callard, Giles Watling, Alex Deacon
Duração: 63 min.

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The Sontaran Ordeal

estrelas 3

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Equipe: 8º Doutor
Espaço: Planeta Drakkis
Tempo: Time War, através do tempo

Parece que os eventos ligados à Time War se tornaram quase que uma obrigação nas histórias do 8º Doutor desde que o grande evento apareceu efetivamente na tela, em The Day of the Doctor. E não é para menos. As possibilidades de enfrentamento entre personagens aumentam grandiosamente quando essa poderosa guerra é o plano de fundo e só o fato de ver esta encarnação mais romântica do Doutor lutar com todas as suas forças para fugir, para não fazer parte do conflito, é um exercício doloroso e interessante de se ver.

Em The Sontaran Ordeal, estamos no planeta Drakkis, em um momento que parece ser os primeiros anos da Time War. O Doutor ainda tem alguma esperança de que a guerra não chegue ao belo planeta que acabou de conhecer, mas suas expectativas são frustradas pelo seu próprio povo, os Time Lords. Há uma relação interessante entre o impacto que os Senhores do Tempo possuem nessa história e a visão que se teria deles no futuro, como vemos em The Night of the Doctor. Ao final, o 8º Doutor é “rejeitado” como alguém que trouxe algo muito ruim para aquele povo, mesmo que este desfecho seja de confraternização.

A parte menos chamativa da história é a presença dos Sontarans. É impossível não se incomodar com a estranheza destes não serem vilões novos, mas estarem na série desde a era do 3º Doutor, no arco The Time Warrior. Talvez a produção da BF os escalou como “novos” pelo fato de serem a versão “avançada” dos guerreiros, como conhecemos na Nova Série, mas, mesmo assim, penso que a escolha fugiu totalmente da proposta da série. Seria mais interessante e inovador ver o 8º Doutor contra um vilão que realmente foi criado depois de 2005. Mas paciência.

O roteiro investe bastante no conflito de interesses entre uma mulher nativa, um Sontaran invasor e o Doutor, nunca chegando a um verdadeiro acordo quanto ao rumo a ser tomado. A “sorte” é que o trio protagonista formado por Paul McGann (8º Doutor), Josette Simone (Sarana) e Dan Starkey (Jask – um Sontaran que caiu em desgraça) está muitíssimo bem em cena, então o espectador tende a diminuir as linhas insossas do roteiro porque gosta dos personagens, entende seu desenvolvimento e se engaja na luta que estabelecem aqui. Não é a melhor saída — bom mesmo seria uma história com outro vilão –, mas ao menos é uma saída válida.

Mesmo sendo uma boa aventura, ao final de tudo, The Sontaran Ordeal é o mais fraco dos episódios dessa série de Doutores da Clássica versus os vilões da Nova Série. Em uma eventual segunda temporada, seria muito bom que a Big Finish tentasse expandir Universos, dramas e vilões de fato criados no revival, especialmente os da era do 11º e 12º Doutores.

Classic Doctors, New Monsters: The Sontaran Ordeal (Reino Unido, 2016)
Direção: Barnaby Edwards
Roteiro: Andrew Smith
Elenco: Paul McGann, Josette Simon, Dan Starkey, Christopher Ryan, Sean Connolly
Duração: 65 min.

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