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Crítica | Crônicas dos Companions – 4ª Temporada (Parte 1) e Primeiras Aventuras

por Luiz Santiago
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Crônicas dos Companions - 4ª Temporada Parte 1 Primeiras Aventuras planocritico

Esta longa crítica traz episódios de três séries diferentes. Primeiro, dois episódios da série The Early Adventures (o final da segunda e o começo da terceira temporada). Depois, seis episódios da série The Companion Chronicles (os 6 primeiros da quarta temporada). E entre cada um desses seriados, episódios das Short Trips  de diversos momentos da série, tanto dos livros, quanto dos roteiros produzidos originalmente para a Big Finish.

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O 1º Doutor e Dodo seguem viajando sozinhos depois da partida de Steven. Em The Horror at Bletchington Station, que se passa na Inglaterra do século 19, ele apresenta a companion como sua neta para o dono de uma pensão e tenta fugir de um problema aparentemente grave dos trabalhadores da ferrovia. O espírito investigativo de Dodo, porém, faz com que a história siga por um outro caminho de ação plena e com que o Doutor fique e trabalhe para mandar a criatura perdida e sua nave ao seu destino inicial. Interessante perceber que aqui o Doutor está sentindo muito o peso de mais uma separação (a despeito de todos os problema que teve com Steven) e não consegue esconder isso de Dodo, que percebe a rabugice e vontade dele de fugir para um lugar longe de problemas. [Roteiro: Chris Wing. 3/5]
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The Age of Endurance

The Early Adventures 3X01

estrelas 2

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Equipe: 1º Doutor, Susan, Ian, Barbara
Espaço: Nave Espacial
Tempo: Futuro

O Doutor, Ian e Barbara se materializam em uma nave espacial cheia de portas fechadas e aparentemente sem tripulação. Uma busca inicial, após o reconhecimento do espaço, revela um corpo morto e Ian, sempre desconfiado, propõe maior cautela ou recuo para a TARDIS. O Doutor e seus companheiros seguem explorando e encontram uma equipe que os faz prisioneiros. Assim começa este absurdamente gigantesco arco, abrindo a 3ª Temporada das Early Adventures.

Considerando apenas a primeira impressão, é impossível crer que uma dinâmica tão interessante entre os “clones” da nave e os viajantes no tempo se tornaria uma história longa à beira da insanidade, sem motivo algum para isso. Notem que 130 minutos não é o recorde de um arco da Big Finish, mas nas vezes em que tivemos histórias maiores, havia um justificativa narrativa para isso. Aqui, tudo se resolveria tranquilamente em no máximo 90 minutos. O que ocorre depois disso — após um início e primeira parte de desenvolvimento muito bons –, é uma enrolação interminável entre a revolta dos “clones” e aqueles que os escravizavam.

Algo curioso aqui é o fato de o Doutor ficar muito esgotado após ter sua energia drenada do corpo, o que talvez tenha dado um início sem volta para uma mesma drenagem, que aconteceria de forma bem mais intensa, em The Tenth Planet. Ainda é possível gostar da mensagem de relatividade moral quando se trata de guerra (difícil confiar em um dos lados) e os dilemas morais sobre os tipos de vida que valem ou não valem a pena. No entanto, tudo acaba caindo sob o mesmo julgamento: poderia muito bem ser trabalhado em menos tempo, de modo que pelo menos 40 minutos da aventura é filler puro. Não dá pra perdoar uma coisa assim.

The Age of Endurance (Reino Unido, setembro de 2016)
Direção:
Ken Bentley
Roteiro: Nick Wallace
Elenco: Carole Ann Ford, William Russell, Jemma Powell, Rachel Atkins, John Voce, Gethin Anthony, Andy Secombe, Tom Bell
Duração: 130 min.
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Neptune (do livro Short Trips: The Solar System) coloca o 3º Doutor e Sarah Jane em uma aventura no planeta Netuno, em um passado distante. Toda a história tem a ver com um processo de invasão, domínio do território, pesquisas científicas de diferentes grupos, diferentes raças e ação do Doutor e Sarah para ajudar nesse processo e salvar a colônia. O roteiro é um pouco confuso, burocrático demais e o final muito insatisfatório, evento piorado porque esperávamos que OUTRA PESSOA aparecesse para validar o paradoxo anunciado um pouco antes o desfecho. [Roteiro: Richard Dinnick. 2/5]
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The Isos Network

The Early Adventures 2X04

estrelas 4,5

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Equipe: 2º Doutor, Jamie, Zoe
Espaço: Planeta Isos II
Tempo: Futuro

Perseguindo uma nave Cybermen depois dos eventos de The Invasion (dias depois), o Doutor, Jamie e Zoe vão parar em um planeta que não conhecem, Isos II, um lugar aparentemente deserto. Do início da perseguição até a materialização na superfície do planeta, a TARDIS passa por um desvio do fluxo temporal, causado pelos Cybermen, de modo que a chegada do grupo ali é puramente acidental (eles não traçaram nenhuma rota para lá), mas não desligada daquilo que antes estavam fazendo. E é claro que eles voltariam a encontrar seus perseguidos…

Nicholas Briggs escreve e dirige esse longo arco com a mesma intensidade vista no maravilhoso The Tomb of the Cybermen. A trilha sonora de Toby Hrycek-Robinson homenageia as aparições desses vilões na série clássica e boa parte das ações do Doutor, da base ainda existente no planeta e dos companions também lembram as jornadas cheias de atalhos que víamos na do 2º Doutor. O texto de Briggs separa os três protagonistas e mostra de maneira coerente e muito fluída a alternância e eventual ligação entre essas ações separadas, como um quebra-cabeça montado em locais distintos e depois completado pelo natural desenvolvimento dos fatos.

Não é frequente uma “besta coadjuvante” como as lesmas gigantes do planeta Isos II terem um bom papel em um episódio, especialmente no final da aventura, mas isso acontece aqui. Talvez pelo fato do autor não ter complicado demais o que precisava manter-se simples ou pelo fato de que essas lesmas funcionam bem em cada um dos momentos que aparecem. Há uma pequena falha na contextualização de origem e destino delas após deixarem os tripulantes da TARDIS em um lugar seguro, mas isso não altera o bom papel que tiveram ao longo da jornada. O mesmo vale para a equipe de resgate que lá foi deixada para responder as perguntas após o sinal de socorro ter sido restabelecido. Uma ótima maneira de terminar a 2ª Temporada das Primeiras Aventuras.

The Isos Network (Reino Unido, janeiro de 2016)
Direção:
Nicholas Briggs
Roteiro: Nicholas Briggs
Elenco: Frazer Hines, Wendy Padbury, Rachel Bavidge, Richard James, Kieran Hodgson, Nicholas Briggs
Duração: 120 min.
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A Home From Home, lançado em dezembro de 2014, não é uma adaptação de um conto de um livro. Trata-se de um áudio bônus que foi disponibilizado para assinantes juntamente com o arco The Rani Elite, e narra uma aventura basicamente centrada em Liz e Benton, em um pub na Escócia. O 3º Doutor entra na segunda parte, quando o filtro de percepção do pub já havia sido revelado pelo alien em cena. Depois do dilema ali surgido, algo precisava ser feito. A recusa do Doutor em chamar o Brigadeiro e o restante da UNIT para o local (medo de que eles explodissem tudo) e a tentativa de levar o caso do modo mais pacífico possível, são atitudes muito interessantes, até porque, trata-se de um imigrante perdido, situação que essa encarnação do Senhor do Tempo entendia muito bem. [Roteiro: Nick Wallace. 3,5/5]
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The Mists of Time

The Companion Chronicles – Bônus

estrelas 4

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Equipe: 3º Doutor, Jo
Espaço: Planeta Zayin Eight
Tempo: 2309 (?)

Esta edição das crônicas dos companions tem um caráter emotivo bastante forte, além de trabalhar bem com o ponto de vista do espectador, já que o enredo é uma história de “fantasmas”, que aparecem por cerca de uma hora e depois somem. Como sempre, nas histórias deste selo, há um momento do presente, de onde é criada uma ponte para o passado, local da história principal.

O Doutor e Jo chegam ao planeta Zayin Eight e se deparam com um lugar estranho, que em pouco tempo revelará alguns soldados batalhando, para depois fazê-los desaparecer em pleno ar. O Doutor fala de “fantasmas” e Jo diz que ele não acredita nisso, mas o Time Lord afirma que “há algo acontecendo” naquele lugar. Não demora muito para que eles se acomodem e as primeiras suspeitas se revelam verdadeiras. Existem mesmo “fantasmas” gerados através do pensamento das pessoas e a máquina que faz surgir esses fantasmas remota a um passado que envolve os Time Lords.

As interrupções e relações entre passado e presente não são exatamente bem feitas nessa edição, mas a história é si é muito boa. A ideia de mudança de percepção é a melhor sacada, especialmente no final. Os ouvintes mais atentos ou irão desconfiar ou já entender do que se trata, mas mesmo assim, o peso de descobrir o que realmente está acontecendo é bem grande. Jo, como sempre, é aquele tipo de bonequinha simpática que se faz ver e ouvir (pelo menos no Universo Expandido) e sua relação com um dos tripulantes perdidos no planeta é de um companheirismo ímpar. Como disse no início, há um caráter emotivo notável nessa aventura. E algumas interessantes surpresas ao longo do enredo.

The Mists of Time (Reino Unido, agosto de 2009)
Direção:
Lisa Bowerman
Roteiro: Jonathan Morris
Elenco: Katy Manning, Andrew Whipp
Duração: 57 min.
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Em Sphinx Lightning, um conto para assinantes publicado juntamente com The Secret History, o 3º Doutor e Jo se materializam em 1948, em Ember, uma vila inglesa comandada por um Exército em treinamento. No pátio de uma igreja — um dos edifícios desertos e marcados de balas — eles conhecem uma mulher chamada Emma, que está deixando flores em um túmulo. Quando alguns soldados chegam à cena, o Doutor os convence de que ele está trabalhando para o Primeiro Ministro; então ele, Jo e Emma esperam enquanto checam as informações com o centro de operações que recebe o codinome ‘Sphinx Lightning’. Infelizmente, eles vão se encontrar com alguns inimigos inesperados nesse processo e o Doutor, a despeito do clima de guerra, irá tentar exercer a sua clássica diplomacia (o forte dessa encarnação) para resolver o caso. [Roteiro: John Pritchard. 3/5]
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The Drowned World

The Companion Chronicles 4X01

estrelas 4

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Equipe: 1º Doutor, Steven, Sara
Espaço: Ely, Inglaterra
Tempo: 200.750 — 200.762 (?)

Eu já disse isso outras vezes, mas é sempre importante repetir: eu odeio Sara Kingdom. Não consigo entender como a BF deu a maior bola para uma mulher que, cega por ordens políticas, matou o próprio irmão. A forma como ela morre, em The Daleks’ Master Plan foi perfeita (e bem feita!) para a ação anterior da personagem. Quando percebi que a Big Finish havia achado um buraco (bom, nesse arco, o que não falta é buraco para encaixar outras viagens!) e colocado Sara como companion do Doutor, minha frustração foi enorme. Das histórias em que ela participou, pelo menos a qualidade é muito boa, mesmo eu tendo cada vez mais antipatia pela personagem, como aconteceu aqui.

Esta é a segunda parte dos fatos que conhecemos em Home Truths. A mente de Sara está ecoando em uma casa na ilha de Ely, e Robert vai fazer algumas perguntas para ela, depois de ter desistido de “exorcizá-la”. Bem menos confusa do que a primeira parte, essa história tem uma interessante força no presente, o que é estranho, já que os eventos atuais sempre dão suporte à história com o Doutor, no passado. De qualquer forma, a saga de salvamento (rápida demais) funciona mais ou menos bem, com Sara ao menos oferecendo sua vida para salvar algumas pessoas. É o mínimo que uma assassina em processo de remissão (se é que isso existe) poderia fazer, não é mesmo?

A parte final da história — a melhor do episódio — traz algo que reafirma a minha opinião negativa sobre essa personagem. O que ela exige de Robert é egoísta, mesquinho e uma chantagem das mais baixas e infames possíveis. Colocando-se na posição dele, eu jamais diria não para a proposta da casa-Sara. Mas nunca a perdoaria por ter feito essa proposta. A prova de que ela continua sendo de moral questionável, mesmo só com um eco de sua mente, está aqui. O bom de tudo isso é que Jean Marsh entrega uma interpretação belíssima, não dá para negar.

The Drowned World (Reino Unido, julho de 2009)
Direção:
Lisa Bowerman
Roteiro: Simon Guerrier
Elenco: Jean Marsh, Niall MacGregor
Duração: 75 min.
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Lant Land (do livro Short Trips: Life Science) se passa em um game de realidade virtual, onde o 5º Doutor, Tegan e Turlough acabam entrando, quando a TARDIS se materializa dentro de um apartamento deste mundo. A grande sacada do conto é confundir o leitor para o que é projeção e para o que é real. Em dado momento da história, Tegan e Turlough chegam a questionar se eles eram projeções ou pessoas reais… Uma forte camada de humor macabro (e com um pouquinho de suspense) torna o conto ainda melhor, pois os anfitriões dos viajantes, Simon e Joanne, teimam em trocar os nomes dos companions para outros “mais críveis” e não poupam críticas ao trio. Há uma certa semelhança dessa realidade com uma aventura do 1º Doutor, The Celestial Toymaker. O final é coroado pela revelação do jogo dentro do jogo. Ou de mais um apartamento na nossa realidade habitado por pessoas do jogo que fizeram download de seus avatares. Mind blow! [Roteiro: Jonathan Morris. 4,5/5]
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The Glorious Revolution

The Companion Chronicles 4X02

estrelas 4,5

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Equipe: 2º Doutor, Steven, Sara
Espaço: Londres / Escócia
Tempo: Novembro de 1688 / 1788

Paradoxo temporal, Revolução Gloriosa e visita de um Time Lord da CIA à Jamie em um tempo depois das aventuras do escocês ao lado do Doutor. Como é que isto poderia dar errado?

À parte a sempre maravilhosa interpretação de Frazer Hines, que faz o papel de Jamie e do 2º Doutor, temos aqui uma interessantíssima crônica de um companion, marcando um território interessante por parte dos Time Lords e com um final realmente inesperado — principalmente porque o espectador lembra da pisada na bola que os Senhores do Tempo deram com o Doutor, Jamie e Zoe em The War Games. A escolha de Jamie é a mais coesa dentro dos fatos que ele apresenta, e isso toca o espectador, porque são dois caminhos muito importantes para ele, todavia, não há outro modo além do favorecimento do momento atual. E claro, o bom humor e descrédito dele após perder novamente a memória vem bem a calhar.

A trama com a Revolução Gloriosa e o seu paradoxo é, na verdade, uma desculpa esfarrapada do Time Lord, mas o espectador gosta disso. Aliás, a versão paralela da História da Inglaterra, o excelente momento de raiva de Jamie, quando narra para o Doutor os detalhes da tal “Revolução Gloriosa” (para quem?), o disfarce dele e do Doutor para pegar o corpo do rei… tudo funciona muito bem e liga fatos com ficção de maneira louvável, sem atropelos, sem forçar muito a barra e dando espaço para diferentes personagens aparecerem e deixarem sua marca. Uma das melhores crônicas dessa série!

The Glorious Revolution (Reino Unido, agosto de 2009)
Direção:
Nigel Fairs
Roteiro: Jonathan Morris
Elenco: Frazer Hines, Andrew Fettes
Duração: 68 min.
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Romana II quer férias. O 4º Doutor recebe sinais dispersos de energia pelo Universo e não dá a mínima atenção para os pedidos da companion, que lembra um pouco da passagem deles por Paris, em City of Death. Esse é o tema central de Breadcrumbs, adaptação da BF para o conto homônimo do livro Short Trips: Transmissions. A trama anda às voltas com um complicado paradoxo temporal, e nesse meio tempo, não se furta em colocar o Doutor e Romana constantemente brigando. Eles fazem uma aposta e tudo se torna ainda mais divertido, porque há paradoxo envolvido e o resultado disso irá interferir nas versões finais dessa aposta. Ele deixa a companion em Paris, da primeira (e segunda?) vez e segue sozinho — porque “não precisava dela” — em busca de seus sinais de energia pelo Universo. O final, mesmo que um pouco confuso, é engraço e inteligente. [Roteiro: James Moran. 4/5]
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The Prisoner of Peladon

The Companion Chronicles 4X03

estrelas 4

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Equipe: 3º Doutor
Espaço: Planeta Peladon
Tempo: 3890

Cinco anos depois de aparecer com Jo em Peladon (sob o ponto de vista dos nativos), o Doutor retorna ao planeta, agora sozinho, e encontra o Rei Peladon governando sob os auspícios da Federação Galáctica. Como era de se esperar, a entrada do planeta na Federação trouxe modernidade e transformou as cidades em centros cosmopolitas, que, assim como toda grande cidade, não estão livres de problemas de administração, necessidades dos mais pobres e ocorrência de epidemias. A primeira impressão que temos — essa história é sob o ponto de vista do Rei Peladon, embora ele nunca tenha sido companion — é que seu reino é um lugar em desenvolvimento recente, mas já paga o preço que vem com esse desenvolvimento.

Dirigida por Nicola Bryant (Peri, da era do 6º Doutor), essa aventura tem como tema central a lealdade e levanta mais uma vez a necessidade de o Doutor precisar de alguém para acompanhá-lo ao longo das viagens, caso contrário, ele pode ser impessoal, frio ou não dar a devida importância para coisas muito, muito sérias. O Rei Peladon destaca muito bem isso na explosão de raiva que tem contra seu velho, amigo, e mesmo que tudo acabe bem entre eles, é fato que o Doutor saiu do planeta pensando no que ouvira.

O roteiro não tem uma grande força fora desse âmbito mais pessoal. Mesmo assim, seu trabalho com a declaração de guerra dos marcianos (Ice Warriors), a excelente colocação de um campo de refugiados em Peladon, a ameaça de guerra feita pelos golpistas do planeta e o desenrolar desse clima de conspiração interna (vista antes em The Curse e The Monster of Peladon) garantem bons momentos para o espectador. O presente da história é o Rei Peladon contando esse acontecido para sua filha, dando os conselhos que ela tentaria seguir, mas não saberia muito bem como, afinal, governar depende de muita coisa, principalmente daquilo que nenhum governante pode controlar: o contexto histórico e o espírito de uma época.

The Prisoner of Peladon (Reino Unido, setembro de 2009)
Direção:
Nicola Bryant
Roteiro: Cavan Scott, Mark Wright
Elenco: David Troughton, Nicholas Briggs
Duração: 65 min.
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Se você sempre se perguntou como é que o Doutor sabe de tanta coisa que acontece na Terra, como ele consegue detalhes específicos sobre lugares, pessoas, ou como e por quê a TARDIS tem um certo apreço por alguns espaços do planeta, talvez esse conto chamado Only Connect traga uma parte da explicação. A trama se passa no Reino Unido, com o 4º Doutor dirigindo um táxi. Ele então vai fazer uma viagem para James Willaker, um arquiteto que vive em pleno tédio pela repetição de seus dias no trabalho, e consegue estabelecer uma linha de conversa que acaba em uma confissão interessante para os dois lados. O Doutor fala um pouco sobre viagem no tempo, sobre coleta de informações, sobre conversar com pessoas e saber das coisas. O arquiteto fala algumas coisas sobre ele mesmo. Fala sobre o que conhece da História, de seu significado e importância, e ouve do Doutor uma aula de contexto histórico simplesmente fascinante. Criando conexões e com a máxima “conhecimento nunca é demais” o conto — do livro Short Trips: Transmissions — nos deixa pensando sobre o nosso papel no mundo e que legado ficará de nós, quando morrermos. [Roteiro: Andy Lane. 4/5]
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The Pyralis Effect

The Companion Chronicles 4X04

estrelas 3,5

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Equipe: 4º Doutor, Romana II
Espaço: Nave Espacial Myriad
Tempo: 5500 (?)

O 4º Doutor parece ter sido “escolhido” para enfrentar consequências de coisas que ele mesmo ou que outras versões de sua persona fez. Dramas como As Raízes do Mal e The Face of Evil são um exemplo disso, e agora, mais um episódio para essa coleção de “consequências e consertos”: The Pyralis Effect. É dito que “O Doutor” que a civilização da nave Myriad conhecera tinha o”cabelo branco e estava acompanhado por três companions“, portanto, sabemos ser o 1º Doutor, ou em companhia de Susan, Ian e Barbara ou Vicki, Ian e Barbara.

A presente aventura traz essa civilização — um dia salva pelo Doutor –, mas que agora à beira da extinção. Para não sucumbir em um planeta consumido pela degradação da natureza (e mensagem ecológica é rápida), eles fizeram um programa de clonagem e estão e uma nave, em busca de um lendário obelisco, procurando “invocar” o Doutor para ajudá-los nesse momento difícil. O que eles não sabem é que o obelisco não contém uma energia apta para ajudá-los. Ao contrário.

Intercalando momentos de desespero, algumas mortes e difíceis decisões — sem contar a força psicológica do ambiente — o roteirista George Mann trouxe boa cenas de humor, com o Doutor procurando por suas jelly babies e, ao final, pedindo para que Romana ajudasse arrumar K9, pois ele queria encontrar um lugar onde poderia comprar mais. É uma aventura de salvamento e aprendizado, com um pouco de enrolação na segunda parte, mas ainda assim, bem divertida.

The Pyralis Effect (Reino Unido, outubro de 2009)
Direção:
Lisa Bowerman
Roteiro: George Mann
Elenco: Lalla Ward, Jess Robinson
Duração: 79 min.
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Baseado em uma das melhores peças teatrais já escritas, um clássico do teatro do absurdo, concebido por Samuel Beckett, Esperando Godot (1952), esta aventura do 4º Doutor é pura genialidade. Intitulada Waiting for Gadot, esse pequeno conto fala sobre um câmera que foi “punido” pelo empregador, sendo enviado para filmar um pássaro raro em um lugar exótico. O Doutor aparece, anuncia que Gadot, o pássaro de dezenas de cores, está extinto, e vê a tristeza no olhar do câmera, que está profissionalmente acabado com isso. Viajando no tempo e fazendo o último exemplar da espécie aparecer para o cinegrafista (em um triste canto de acasalamento para uma parceria que jamais encontraria), o Doutor parte, deixando o homem maravilhado. Ocorre que o chefe do departamento queria algo “mais realista” e envia novamente o cinegrafista para filmar o “alien que aparecia do nada”. Aí começa o tormento desse profissional, que recebe a visita de outros Doutores ao longo do tempo (o 3º e o 5º são facilmente reconhecidos, pela descrição do narrador), mas nunca imaginou que se tratava da mesma pessoa. Ele queria mesmo era o 4º Doutor. Que parece nunca vir. E a espera continuou. Como na peça de Beckett. Genial! [Roteiro: John Dorney. 5/5]
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Ringpullworld

The Companion Chronicles 4X05

estrelas 4,5

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Equipe: 5º Doutor, Tegan, Turlough
Espaço: Nave Espacial
Tempo: Indeterminado

Para alguém que nunca foi exatamente fisgado pelas aventuras com o 5º Doutor na BF (e eu paguei a língua com isso, depois de iniciar a jornada nele na TV, que já em Castrovalva dá um show de interpretação), ouvir essa crônica é um tipo de enlevo necessário para seguir em frente, buscando novas aventuras, procurando se encantar novamente. O drama dialoga com a construção da História a partir de um outro parâmetro, a literatura de viagem, as crônicas de exploração ou mesmo as biografias, que são uma mistura de narração dos desejos do biógrafo ou do biografado com fatos, além de certos desvios para aquilo que “não deveria constar na história oficial”.

Turlough está pilotando uma nave pelo centro do Universo, uma região de limite que dá título à aventura. Ele tem ao seu lado um cronista, um escritor/novelista, que vai registrando suas ações, escrevendo um livro in loco sobre os eventos. Mas não é só isso. Há uma rede de escritores, que se ligam e mostram o trabalho geral armazenado em um banco de dados, de modo que é possível encontrar novelistas do futuro ou mesmo imaginar finais possíveis para uma história que está acontecendo no presente. Essa dualidade, esse tempo e a posição de Turlough nessa aventura entram em conflito e nos cedem um dos melhores finais de episódios com esse companion já vistos.

O ponto principal do roteiro é fazer com que a história do passado (com o 5º Doutor) e a aventura solitária do presente se liguem e formem um todo coerente, dentro da base de dados dos escritores. Nesse aspecto, sobra reflexões sobre o que é viajar com o Doutor, e também questionamento de suas atitudes e desobediência de suas ordens, que é o que acaba acontecendo nesse capítulo. Tirando a desnecessária confusão entre os blocos temporais, a história se constrói e se finaliza de maneira admirável. Uma esplêndida aventura!

Ringpullworld (Reino Unido, novembro de 2009)
Direção:
Neil Roberts
Roteiro: Paul Magrs
Elenco: Neil Roberts, Alex Lowe
Duração: 75 min.
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Bernice Summerfield and the Criminal Code

The Companion Chronicles 4X06

estrelas 4,5

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Equipe: 7º Doutor, Bernice Summerfield
Espaço: Paneta Shanquis
Tempo: Indeterminado

Benny é uma das mulheres mais fortes, bem resolvidas, empoderadas e bem construídas do Universo de Doctor Who. E como é bom ter uma história com ela e o Doutor, cada um seguindo um caminho de investigação, procurando um espaço para agir, juntando informações e impedindo, como é o caso dessa história, uma guerra intergaláctica.

Toda a narração da história é feita por Benny, que se lembra de eventos recentes (para ela), no planeta Shanquis, onde o Doutor estava para fazer alguns pronunciamentos em missão diplomática. Ela estava em um trabalho arqueológico. Não demora muito para os perigos que envolvem este lugar aparecerem, pois o Doutor será ameaçado por alguém portando uma arma, depois sequestrado, perseguido e finalmente preso. Nesse estágio, um ato que ele achara completamente inocente, se revela o motivo central dessas perseguições — e, sem ele saber, o motivo de uma investigação de Benny –: a presença de um “idioma proibido” naquele planeta.

É até engraçado quando eles citam o idioma e as regras de proibição que o envolvem. A inconsequência política e um tipo de dominação cultural destinado a apagar a cultura alheia (tivemos muitos desses exemplos na História do mundo. Aqui na América do Sul, isso é visto em ampla escala durante a catequização dos indígenas) são tratados aqui como um caso de Estado, e todo o tom do episódio é de perseguição e fuga, notícias de TV e violência. Parece que estamos vendo um fato de nosso mundo, coberto de teoria da conspiração, mas plenamente plausível. Uma baita adição à linha do tempo de Benny e uma excelente interação dela com o 7º Doutor!

Ringpullworld (Reino Unido, janeiro de 2010)
Direção:
John Ainsworth
Roteiro: Eddie Robson
Elenco: Lisa Bowerman, Charlie Hayes
Duração: 60 min.
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Degrees of Truth está ligada a Freedom, e narra uma das consequência da última tentativa de escape do Mestre. Um dos soldados da UNIT que trabalhava na operação foi morto. A trama segue no funeral do jovem e imediatamente coloca o enlutado pai em cena, perguntando para o Brigadeiro por que não havia corpo no caixão, apenas uma foto. Aí começa a verdadeira linha de “graus de verdade” que o título nos diz. O 3º Doutor tenta ao mesmo tempo manter seguras as informações sobre a UNIT, mas tem um dever para com o pai. E então uma história que não é nem mentira nem verdade é contada. E lembrada. Até que, no fim, o pai consegue raciocinar melhor. E entender que algum grau de verdade, mesmo não sendo o bastante, já é um caminho para a cura. Ou para o total desespero. [Roteiro: David A. McIntee. 3,5/5]

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