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Crítica | Doctor Who: Demências Relativas, de Mark Michalowski

Um Doutor manipulativo tentando não manipular ninguém.

por Luiz Santiago
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Equipe: 7º Doutor, Ace
Espaço: Londres / Muirbridge e Kelsay Island, Escócia
Tempo: 2012 / Abril de 1982

Parte da série BBC Past Doctor AdventuresDemências Relativas (2002) é uma aventura do 7º Doutor e Ace entre Ghost LightThe Curse of Fenric, e apresenta um novo capítulo na relação entre os dois amigos, destacando mais elementos do lado manipulativo do Time Lord (que ainda não estava em seu ápice), mesmo que, nesse caso, a pessoa que faz algo “errado” é Ace. O Senhor do Tempo está tentando manter o máximo possível de respeito ao tempo e às pessoas nessa aventura.

A trama se passa em dois lugares, primeiro, em Londres, no ano de 2012, depois, em uma vila e uma ilha da Escócia, em 1982. O Doutor e Ace estão ali porque foram guiados até o local. Ace ainda não sabe todos os detalhes, mas ela viu o Doutor fazer uma parada com a TARDIS, conversar com alguém do lado de fora, entrar e programar as coordenadas para um lugar específico. Mais adiante, na história, tanto Ace quando o leitor conhecerão a origem dessa conversa. E todos terão informações sobre a misteriosa figura que parece seguir o Doutor e sua companion por todos os lugares.

O cenário principal é um pouco tenebroso, tem uma atmosfera instigante, sempre com pessoas aparecendo, coisas acontecendo, tramas paralelas e afins. Isso tem um peso levemente negativo para o enredo, porque poderíamos ter mais detalhes de alguns personagens (e do Doutor e Ace, por sinal!), mas o texto, que põe em cena uma clínica de pesquisa para cura do Alzheimer, perde constantemente o foco. Esta reclamação, e mais algumas que devo fazer até o final da crítica, podem passar a impressão errada sobre a obra… isto é, de que se trata de um livro ruim ou algo do tipo, mas não é isso. Demências Relativas é um livro realmente interessante de se ler, com coisas muito boas em seu interior; mas quando terminamos e vamos analisar e conectar o todo, notamos problemas antes não percebidos e a qualidade inicialmente bem alta começa a cair.

A minha primeira (e grande) decepção com o volume, veio quando eu percebi que o diálogo entre o Doutor e Ace sobre os Time Lords terem algo “muito pior” do que a doença de Alzheimer, era apenas uma coisa solta na história, sem relação alguma com algo que aponte um “esquecimento progressivo” dos Senhores do Tempo. Dessa forma, o próprio título do livro parece uma propaganda falsa e confesso que isso me irritou bastante. Me lembrou até A Invasão dos Homens-Gato, que faz tudo, MENOS explorar as criaturas que estão no título da obra! Parece que alguns autores de livros no Universo de Doctor Who sofrem dessa mesma doença de colocar títulos no melhor estilo “readbait“.

Superado o fato de que estamos lidando com uma invasão alienígena bastante incompetente e uma espécie de réplica de Liz Shaw — por algum motivo, o autor criou Joyce Brunner, uma cientista da UNIT que conhecera o 3º Doutor… me pergunto por quê ele não colocou Liz nessa história –, o leitor pode mergulhar de forma mais intensa nas questões temporais, estas sim, uma parte que vai dar algum nó na cabeça e instigar a leitura. Ace passa agir de forma “pouco aconselhável”, replicando esta e aquela situação para combinar com o que ela já sabia que havia acontecido. Em nenhum momento eu vejo o Doutor agindo de forma sacana com nenhum personagem. Aliás, suas atitudes aqui são relativamente mais bem pensadas, talvez com medo de ferir uma das duas figuras de Ace que estavam rondando o local.

A presença dos velhinhos da clínica e do soldado Michael Ashworth, da UNIT, podem parecer um pouco forçados, mas eu entendi a intenção do autor em criar focos de identificação e rompimento desses personagens com o público. Em relação ao último citado, tenho quase certeza que as entrelinhas sugerem que ele é gay e que seu parceiro Andy, também da UNIT, foi morto devido a um aconselhamento de batalha do 3º Doutor, isso há cerca de seis anos, do ponto de vista de Michael. Não me pareceu necessário criar toda uma fúria e fazer com que o soldado batesse no Doutor (impossível não se compadecer), mas a atitude é humanamente compreensível, então entendemos sua função no livro.

O final da obra coloca o Doutor criando situações que consertariam o paradoxo temporal gerado, sem querer, por Ace, e os elementos que os levaram até ali em primeiro lugar. A Condessa Gallowglass, que cuida das correspondências do Doutor (e outros viajantes temporais) parece que continuará tendo bastante trabalho.

Tudo é bastante pragmático no desfecho do livro, que termina bem, apensar de constantemente desviar-se de sua linha principal e perder a oportunidade de ouro de fazer uma trama onde um Senhor do Tempo contrai o equivalente a algo “muito pior” que Alzheimer. Uma ausência lamentável.

Doctor Who: Demências Relativas (Relative Dementias) — Reino Unido, 7 de Janeiro de 2002
Autor: Mark Michalowski
BBC Past Doctor Adventures
277 páginas

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