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Crítica | Doctor Who: O Homem do Tique-Taque, de Justin Richards

por Luiz Santiago
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Equipe: 9º Doutor, Rose
Espaço: Londres
Tempo: 1924

Justin Richards é um autor prolífico e bastante conhecido no Universo Expandido de Doctor Who. Suas obras carregam uma forte construção dramática — o autor é especialista em escrever sobre cenários vitorianos ou do início do século XX — e seus textos conseguem mostrar com bastante acuidade a violência e algumas questões morais em humanos ou Time Lords e sua relação com outras espécies, como vemos em aventuras tão diferentes como O Beijo do Anjo (2012) e The Rani Elite (2014). Para quem já teve contato o suficiente com a obra do autor, sabe que ele tem grande capacidade de representar a personalidade do Doutor e de seus companheiros, mas tende a fraquejar em uma das vertentes e focar a atenção em um lado só, o que acaba comprometendo a história, como vemos em Assunto Grave (2000) e neste O Homem do Tique-Taque (2005) — valeu pela harmonização da tradução, Ritter Fan! — livro que estreia o selo BBC New Series Adventures.

O Doutor e Rose tinham acabado de sair de uma batalha contra os Slitheen em Aliens of London / World War Three e tinham em mente algo mais… relaxante para fazer, o que os levou para a British Empire Exhibition, em 1924. Ocorre que eles não conseguem ir diretamente para a exibição, porque assim que saem da TARDIS, encontram um ataque que inicialmente é colocado no livro como um mistério à la Agatha Christie, mas depois se revela um plot que o leitor conhece de outras aparições em Doctor Who, os chamados “homens-relógio” (ou mecânicos) que vimos em diferentes versões nos arcos The Mind Robber (2º Doutor), The Girl in the Fireplace (10º Doutor) e Deep Breath (12º Doutor).

No começo da obra, as coisas parecem muito animadas e o público se engaja nos meandros políticos e nos mistérios que o autor coloca. Temos a impressão de que algo muito sério está para acontecer e nos surgem inúmeras perguntas a partir do encontro de Rose com o garoto Freddie, que depois saberemos ser o herdeiro da coroa russa (aparentemente ainda temos dois Romanov vivos após a Revolução de 1917). Essa animação inicial, no entanto, começa a se dissipar à medida que o encontro do Doutor com os nobres russos em exílio se torna mais longo e algumas intenções se revelam e “sequestram” a linha principal do texto, notadamente após a Painted Lady (Melissa Heart) ganhar espaço na narrativa.

Então o livro vai por um rumo… estranho, para dizer o mínimo. Não que a escrita tenha deixado de impressionar em um capítulo ou outro. É impossível ficar indiferente com a trama dos gatos (o susto é tanto de Rose quanto nosso, naquele acontecimento do Tâmisa) ou às ótimas cenas de violência, com cabeças esmagadas e gatos sendo jogados na parede — não me entendam mal: é violência contra seres mecânicos! Também não dá para deixar de sentir angústia ao ver o hemofílico Freddie ser ferido e a beleza com que o autor constrói todo o ideal heroico para o personagem. Mas à parte esses bons momentos, a caçada por Shade Vassily, o ditador de Katuria, que agora sabemos ser o planeta de humanoides que construíram os robôs-relógios sencientes, além de dominarem a viagem espacial, simplesmente não emplaca.

Eu também me incomodei com o retorno quase copiado de elementos que vemos na 1ª Temporada da Nova Série, uma reclamação que um sem-número de leitores apontaram e foram unânimes em destacar os mesmos problemas, com os quais farei coro e ressaltarei, principalmente, o London Eye (Rose); Rose falando para o Doutor trocar de roupa e ele dizendo que havia trocado a camiseta (The Unquiet Dead); naves espaciais escondidas no rio Tâmisa (Aliens of London); e o Doutor e Rose afastados da história por um bocado de tempo (Father’s Day), cenas que vão minando a paciência do leitor (pelo menos a minha) pela enorme sensação de já ter visto aquilo antes. Às vezes essa sensação vem de maneira interessante, como fechamento ou parte de um ciclo, mas aqui, toda a perseguição e desdobramentos junto ao Doutor, Rose, Melissa e aliados acabaram se mostrando bastante medíocres, para mim.

O Homem do Tique-Taque tem bons momentos e algumas ideias bem executadas. Os homens-relógio são sempre interessantes e garantem ótimas cenas ao longo dos capítulos. Lamentável, porém, que o miolo e praticamente todo o desfecho do volume seja essencialmente de troca de farpas, enganações que não convencem muito e uma perseguição que já nas primeiras páginas enjoam o leitor. É… a nova série de livros ambientados em Doctor Who não começou exatamente bem.

O Homem do Tique-Taque (The Clockwise Man) — Reino Unido, 19 de maio de 2005
Autor: Justin Richards
BBC Books
BBC New Series Adventures #1
255 páginas

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