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Crítica | Doctor Who: O Terror Rastejante, de Mike Tucker

Não leia, se tiver medo de aranhas...

por Luiz Santiago
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Equipe: 12º Doutor, Clara
Espaço: Inglaterra
Tempo: 21 de Março de 2014 e 1944

Mesmo que se passe antes do livro A Cela de Sangue e esteja entre os arcos Robot of Sherwood e Listen, esta aventura do Doutor e Clara contra aracnídeos gigantes (um vilão chamado Wyrrester) e um cientista maluco chamado Jason Clearfield, nos dá a impressão de que estamos lendo algo em um momento mais avançado na linha do tempo desse Doutor. O comportamento mais solto do Time Lord, a forma um pouco menos birrenta de se colocar diante de pessoas e problemas (especialmente se compararmos com o que vimos no já citado A Cela de Sangue e em Silhueta), o engajamento imediato na aventura… tudo isso nos mostra o Doutor nesse início de timeline vivendo o que eu penso ser válido classificar como um rompante de simpatia.

Das três histórias com o 12º Doutor publicadas em setembro de 2014 pelo selo BBC New Series Adventures (as outras duas já foram citadas no parágrafo anterior), esta é a que melhor se destaca, a única realmente boa, embora não seja exatamente a fronteira dos grandes romances de Doctor Who.

A trama se passa em Ringstone, condado inglês de Wiltshire, em dois momentos diferentes, um em 2014 e outro durante a Segunda Guerra Mundial, em 1944, e desde o título fica claro para o leitor que o que temos aqui é uma história de terror. Uma das melhores coisas da escrita de Mike Tucker está na introdução dos aracnídeos inteligentes e gigantes (engraçado que alguns personagens e depois o próprio Doutor descrevem esses Wyrrester como sendo “parecidos com escorpiões”, mas na verdade são aranhas mutantes) e na forma como personagens randômicos vão encontrando essas criaturas no prólogo e no primeiro capítulo da obra, para mim, as melhores partes do livro.

Construir um ambiente de terror em Doctor Who exige um cuidado maior. Por se tratar de uma série de ficção científica e com um protagonista de caráter forte e dominador, quase sempre os textos (ou roteiros) que trazem o horror à tona tendem ao barateamento ou jogo com o impossível dentro da história. Não que isso seja exatamente ruim, mas se o contexto do medo não for muito bem estruturado ANTES da entrada do Doutor e a (o) companion da vez, uma das certezas que temos é que a história irá exigir muito abandono da verossimilhança por parte do leitor, algo que nem sempre é um exercício divertido de se fazer. Aqui em O Terror Rastejante isso é quase totalmente remediado, mas ainda assim acontece.

Talvez os maiores impasses desse livro estejam em duas escolhas do autor durante o desenvolvimento (a partir do capítulo seis ou sete) e, como consequência, no final. A primeira delas é a forma como Clara surge na história e depois tem sua abordagem melhorada, mas ao final, volta a ser mais uma bobinha que não necessariamente faz as coisas certo. Isso incomoda um pouco, porque durante o contato de Clara com os Wyrrester, a companion tem ótimas falas e encara o problema de frente, assumindo para si a responsabilidade daquela situação e fazendo de tudo para poder se livrar dela. É claro que uma colocação oposta a isso, quase como se estivéssemos falando de uma outra personagem, estranha o leitor e denota um erro de tratamento do autor para com ela. Mesmo que isso não seja algo para nos “afastar” do volume, acaba influenciando negativamente.

O segundo maior impasse vindo de uma escolha do autor é o uso de um “intermediário”, o odioso Jason Clearfield, que serve como catalisador para as “meio-aranha-meio-escorpião” da trama. É a partir dele que temos a interessante motivação para a viagem ao passado que o Doutor faz e todo o esquema conspiratório entre a Guerra e os dias atuais (guardadas as devidas proporções e mudado o conflito, parece bastante um episódio da 2ª Temporada de 12 Monkeys). Isso é válido. Mas na outra ponta, temos um gasto muito grande de tempo para apresentar, desenvolver e finalizar esse personagem cujas ações poderiam facilmente ter outros catalisadores, o que tornaria o desenvolvimento do livro menos megalomaníaco e atrapalhado, aquela estranha sensação que temos toda vez que nos deparamos com uma história de “cientista maluco”, salvo poucas exceções.

Mas vejam, estamos falando de um drama que se desenvolve em dois tempos, apresenta teorias da conspiração sobre a Segunda Guerra Mundial e mistura ciência, aliens e terror no mesmo cenário. É difícil não gostar de uma história com esses elementos. E mesmo que o autor falhe aqui e ali, suas referências a ícones da cultura pop (Godzilla e filmes de terror e suspense), a eventos da própria série, como o fato de o Doutor ter pilotado uma moto em The Bells of Saint John (referência indireta) ou  incursões de humor muito bem vindas e muito funcionais, acabam nos fazendo gostar da obra como um todo. Mas fica o aviso: se você já tem medo de aracnídeos, depois de ler O Terror Rastejante, a coisa pode se tornar ainda muito pior.

Doctor Who: O Terror Rastejante (The Crawling Terror) — Reino Unido, 2014
Autor: Mike Tucker
Editora original: BBC Books
256 páginas 

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