Home TVEpisódio Crítica | Doctor Who – Série Clássica: Battlefield (Arco #152)

Crítica | Doctor Who – Série Clássica: Battlefield (Arco #152)

por Luiz Santiago
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Equipe: 7º Doutor, Ace
Espaço: Carbury, Inglaterra (nosso Universo e Dimensão Paralela)
Tempo: 1997

E assim começa o fim.

Primeiro arco da última temporada Clássica de Doctor WhoBattlefield está cheio de grandes surpresas embrulhadas em um enredo capaz de fazer a Era do 6º Doutor corar de vergonha. Dentre as coisas boas do serial, temos Nicholas Courtney retornando pela última vez como Brigadeiro Lethbridge-Stewart, assim como Bessie, ambos tendo aparecido pela última vez no Especial The Five Doctors.

Aqui também temos o retorno e final aparição clássica da UNIT, que nos fazia falta desde The Seeds of Doom — bom, seria meio vergonhoso contar a participação da Organização em The Five Doctors –; uma mudança curiosa no figurino do Doutor (combinando com o tom macabro da trama) e… Jean Marsh, em seu terceiro papel diferente em Doctor Who, tendo já vivido a Princesa Joanna em The Crusade; a absolutamente odiável Sara Kingdom de The Daleks’ Master Plan (personagem que infelizmente teve muito destaque no Universo Expandido da série nos anos seguintes, encabeçando, dentre outras coisas, o primeiro projeto de spin-off de Doctor Who: The Daleks / The Destroyers) e aqui, Morgana.

A impressão geral que temos deste roteiro de Ben Aaronovitch é a de que várias propostas anteriores, com eventos bem diferentes, escritos para Eras de distintos Doutores, foram justapostas em um único enredo, com o mais criterioso método de escolha na passagem entre um bloco e outro, ou seja, o famoso uni-duni-tê. A grande pergunta é: onde está o roteirista que escreveu o excelente Remembrance of the Daleks? E percebam que a pergunta é válida não apenas no componente geral da história, mas principalmente pela falta de harmonia entre qualquer coisa que apareça na tela antes dos minutos finais do episódio 4, no jardim do Brigadeiro. Ali, em uma maravilhosa brincadeira de teor feminista, temos os homens e as mulheres da história em uma deliciosa interação. Na minha mente, a única coisa boa que será guardada com carinho de toda essa jornada, são esses minutos finais.

Duas realidades, duas dimensões se encontram neste arco, com o Doutor recebendo o nome bastante curioso. Esta indicação provavelmente seria trabalhada em temporadas seguintes, mas com o cancelamento da série, apenas a sugestão de que outras encarnações do Doutor construíram o mito de Merlin é que ficou. É muito bom imaginar esse tipo de coisa. Assim como também é interessante ver o Brigadeiro e ter uma história na seara dos mitos arturianos. Como já dito, falta decupagem do roteiro na apresentação das histórias — e não se enganem, ela não é confusa, só é muitíssimo mal estruturada — e falta critério da montagem para tudo na tela. Pensem, por exemplo, nos incansáveis takes que a câmera faz da Excalibur. Para quê aquilo? Como é possível justificar a colocação do cabo de uma espada apenas para mostrar o pomo rubi brilhando em uma série de vezes na tela? Com que objetivo? E na esteira dessas perguntas, vale citar o insólito “Exército” de Morgana na nossa dimensão (sério, que vergonha…); o Destroyer (pelo menos a máscara é maravilhosa!) e a inócua relação com a outra Dimensão, que, ao ser destruída sem maiores implicações, só serve para alguma coisa: trazer gente de lá para virar prisioneira aqui.

A formação da UNIT é outro ponto que chama a atenção. Embora eu não goste da Brigadeiro Bambera (que parece ter substituído o Coronel Charles Crichton), tenho em alta conta a mudança de cara da Organização, o que me parece muito interessante se fizermos uma breve comparação com opiniões mais engessadas em pleno século XXI a respeito de uma UNIT diversa e “cheia de mulheres”, como reclamam alguns “whovians” hoje. Além disso, a colocação de militares poloneses, húngaros e franceses em cena dá a amplitude que era difícil perceber na Era do 3º Doutor, de que era uma Organização internacional, com contingente em todos os lugares.

Os gritos de desespero de Sylvester McCoy me fizeram rir de nervoso nesse arco e, pela primeira vez, eu não sei o que achar da interpretação dele. Para não colocar isso de maneira generalizada, consigo selecionar os poucos minutos que ele tem com Jean Marsh, quando a explosão nuclear é interrompida. Ali sim ele está excelente, profundo, convincente; assim como Marsh, talvez pela primeira vez em todo o arco. Sobre Ace, não tenho certeza. O roteiro é bagunçado demais para encontrarmos um ponto sólido e válido para a personagem, ainda mais porque temos Ling Tai interpretando alguém com a maior cara de próxima companion, mas este é mais um mal tratamento do roteiro, o que torna tudo ainda pior.

É extremamente doloroso chegar a esse ponto da série e ver as coisas indo de mal a pior. Embora eu ainda mantenha os chefões da BBC na minha lista de “inimigos para a vida”, por terem começado o inferno da série desde o Doutor anterior, percebo que, sob o ponto de vista mais básico — que é o de entretenimento do público –, Doctor Who realmente não estava em seus melhores dias. Que tristeza.

Battlefield (Arco #152) — 26ª Temporada
Direção: Michael Kerrigan
Roteiro: Ben Aaronovitch
Elenco: Sylvester McCoy, Sophie Aldred, Jean Marsh, Nicholas Courtney, James Ellis, Angela Bruce, Angela Douglas, Christopher Bowen, Marcus Gilbert, Noel Collins, June Bland, Ling Tai, Robert Jezek, Dorota Rae, Stefan Schwartz, Paul Tomany, Marek Anton
Audiência média: 3,65 milhões
4 episódios (exibidos entre 6 e 27 de setembro de 1989)

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