Home TVEpisódio Crítica | Doctor Who – Série Clássica: Destiny of the Daleks (Arco #104)

Crítica | Doctor Who – Série Clássica: Destiny of the Daleks (Arco #104)

por Luiz Santiago
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estrelas 3,5

Equipe: 4º Doutor, Romana II, K9 II
Espaço: Planeta Skaro (chamado D5 Gamma Z Alpha pelos Movellans).
Tempo: cerca de 4500

Extremamente popular — principalmente entre as crianças –, o arco Destiny of the Daleks marcou o início da 17ª Temporada clássica de Doctor Who e trouxe consigo alguns marcos interessantes, como o início do trabalho de Douglas Adams no posto de editor de roteiros; o início da “Era Davros” na Série Clássica, cuja sequência foi Resurrection of the Daleks (#133), Revelation of the Daleks (#142) e Remembrance of the Daleks (#148); e o fato deste ter sido o último roteiro de Terry Nation para Doctor Who, apesar do diretor Ken Grieve ter afirmado em entrevista que na verdade Douglas Adams escreveu 98% do texto, a começar da abertura do arco, já que Nation não queria colocar K9 II em nenhuma cena. Também é perceptível a mão de Adams na citação de um personagem de O Guia do Mochileiro das Galáxias, o autor Oolon Colluphid, cujo livro The Origins of the Universe o Doutor lê, zombando, em um dos episódios.

Aqui também temos o início de Lalla Ward – futura esposa de Tom Baker – no papel de Romana (II), um convite feito pela produção da série após Mary Tamm ter decidido que não continuaria no show depois de The Armageddon Factor. Lalla Ward, que tinha interpretado a Princesa Astra no finale da 16ª Temporada, volta aqui com uma brincadeira para as 5 regenerações que Romana gasta só para encontrar “o corpo certo”. No final, ela acaba adotando a forma da Princesa Astra sem maiores problemas e sai com o Doutor para explorar o planeta que não sabiam ser… Skaro.

[Nota: em Deep Breath e posteriormente em The Girl Who Died, veríamos esta questão do “rosto familiar” voltar como elemento possível no processo de regeneração de um Time Lord, nesse caso, do 12º Doutor, que inconscientemente escolheu o rosto de Lobus Caecilius, de The Fires of Pompeii, para se lembrar de quem ele é: um Doutor; aquele que salva e cura; temática que alcança o seu ápice em Hell Bent].

A trama de Destiny of the Daleks é interessante, apesar das bobagens humorísticas executadas pela produção, como se estivesse reafirmando as piadas do roteiro; e principalmente dos erros de continuação ou incômodos espaços narrativos, como a cena em que Davros enfim sai de seu estado de animação suspensa ou o repentino desaparecimento das teias de aranha de seu entorno, algo que não é possível justificar nem como ação elíptica.

A despeito disso, a história avança satisfatoriamente. Mesmo que o espectador tenha algum problema com a justificativa dos Daleks para procurar Davros a fim de serem reprogramados e se livrarem da “prisão lógica” que fazia com que empatassem eternamente em uma guerra com os Movellans, androides que segundo o livro War of the Daleks foram criados pelos próprios Daleks para juntamente com eles, lutarem em uma guerra falsa a fim de ganhar experiência para vencer uma possível invasão e destruição de Skaro. Essa afirmação é bastante discutível, até porque o livro reconta e muda muitas coisas estabelecidas neste arco, sendo, portanto, mais um daqueles casos de linha do tempo alternativa. Já no livro O Dispositivo da Morte, há uma versão perfeitamente aceitável para a criação dos Movellans, e que se encaixa tranquilamente como parte da linha do tempo do 4º Doutor.

Todo o bloco e a surpresa em relação aos Movellans funcionam bem, tanto em texto quanto em imagem e é onde o diretor Ken Grieve consegue melhor resultado em seu trabalho. O figurino desses androides, a atitude falsamente pacífica e a forma como lidam com o Doutor chamam a atenção e deixam um enigma no ar, formando uma segunda camada de amaça além dos Daleks, que na verdade não são tão medonhos ou metem tanto medo assim. O fato de estarem em Skaro (as teorias de Davros e Davros Mission também encaixam-se perfeitamente aqui) e fazendo aquilo que sabemos que eles normalmente fazem, que é escravizar outras espécies para conseguirem seus objetivos, simplesmente os tornam o “empecilho da vez” mas não necessariamente uma medonha e temível ameaça.

As sombras do cenário subterrâneo na direção de arte e a construção psicológica de Davros vindos de Genesis of the Daleks dão o fio de continuidade necessário para o espectador sentir-se cúmplice da história. Mesmo que esses detalhes e as relações não sejam executadas com perfeição e as perseguições e sequências no exterior de Skaro (ainda radioativo) sejam dispensáveis, ocupando o espaço de mais diálogos entre o Doutor e Davros ou melhor contexto para a história, por exemplo, a marca de unidade canônica da série se faz presente e é impossível o espectador não gostar do andamento das coisas.

Douglas Adams faz uma boa estreia como editor de roteiros de Doctor Who e Terry Nation finaliza sua participação na série com uma aventura acima da média. Um problema de lógica e a busca pelo “pai dos Daleks” para resolver o problema é sim uma premissa interessante e, se não fosse pelo descuido de muitas partes da produção e mais rigor da direção e da montagem, o resultado seria muito, muito melhor do que já é.

Em tempo: das espécies escravizadas pelos Daleks e mostradas aqui, eu consegui identificar um Morestran (Planet of Evil), um Draconian (Frontier in Space), um humanoide vestindo o mesmo uniforme que Zila (The Robots of Death) e um com uma cabeça humanoide de Axon (The Claws of Axos). Como eu disse, a sensação de sequência canônica desse arco é enorme, o que faz com que o espectador perdoe boa parte dos erros em sua construção.

Destiny of the Daleks (Arco #104) — 17ª Temporada
Direção: Ken Grieve
Roteiro: Terry Nation
Elenco: Tom Baker, Lalla Ward, Tim Barlow, David Gooderson, Suzanne Danielle, Peter Straker, Tony Osoba, Mike Mungarvan, Roy Skelton, Penny Casdagli
Audiência média: 13,47 milhões
4 episódios (exibidos entre 1ª a 22 de setembro de 1979)

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