Home TVEpisódio Crítica | Doctor Who – Série Clássica: Kinda (Arco #118)

Crítica | Doctor Who – Série Clássica: Kinda (Arco #118)

por Luiz Santiago
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estrelas 3

Equipe: 5º Doutor, Adric, Nyssa, Tegan
Espaço: Planeta Deva Loka (ou S14)
Tempo: 3026 (?)

Parece ser a identidade desta 19ª Temporada de Doctor Who apresentar textos inicialmente muito criativos e propostas encantadoras para os arcos, começar executando bem essas propostas e terminar de maneira bastante questionável a história, principalmente com a introdução tenebrosa dos companions em alguns episódios, problema que mais afeta Nyssa em Kinda, já que ela é esquecida durante praticamente toda a duração da aventura (e ainda fica apressando o Doutor para ir embora no final, algo simplesmente patético), que deveria ser a continuação direta de Four to Doomsday, com o desmaio estranho de Nyssa, mas nem isso se concretiza de fato.

Quando o arco começa, o Doutor e seus companheiros já estão no planeta Deva Loka, para dar a Nyssa a oportunidade de descansar. Como este foi o motivo de finalização da aventura anterior, imaginamos que Kinda traria uma explicação para o que estava acontecendo com a trakeniana, talvez alguma intromissão de um vilão poderoso ou algo do tipo. Mas não é isso que acontece. O roteiro de Christopher Bailey traz um cenário cheio de referências bíblicas (Paraíso, maçã, serpente), religião celta (sistema de tribos matriarcais com a reencarnação da sacerdotisa), mitologia grega (Caixa de Pandora), psicologia dos anos 1930 (“não-eu”, “não-nós”) e, principalmente, conceitos, simbolismos e textos budistas mais antigos.

A história transcorre em bases diferentes, inicialmente muito interessantes, sendo um dos melhores momentos protagonizados por Tegan (vejam só!), que infelizmente volta a ter uma postura insuportável no final, juntamente com Adric, o grande manhoso dissimulado. Na sequência do sonho, a atriz Janet Fielding tem algumas das melhores cenas dessa fase de Doctor Who encabeçada por JNT. Mostrando que dentro da mente humana é possível encontrar porções de coisas boas e ruins, as quais podem ou não ser alimentadas e gerar ou não um monstro (conceitos do budismo), o roteiro realça o paradoxo da “escolha sugerida” e as consequências que isso pode ter para o que escolhe e para as pessoas que serão afetadas por esta escolha. A ideia é que o mal, em si, não existe, mas se algo ruim do homem escapar, um rastro de coisas ruins será deixado por onde passar.

A divisão de qualidade do roteiro e mesmo da direção pode ser observada também como padrão desta fase. Os dois primeiros episódios de Kinda são muito bons (embora o segundo seja inferior ao primeiro) e os dois finais transitam entre o “ok” e o “medíocre”, talvez porque desmembram demais as veias narrativas e não completam de maneira interessante, como no começo, os impasses de poder, com indícios de Dr. Fantástico, e o que pode o Doutor e seus companions fazem para salvar a si mesmos e o planeta de uma destruição cíclica iminente e outra causada por um colono louco.

Sem dúvidas, a melhor fase do arco está no mundo onírico e nos encontros de Tegan com os demônios de sua mente, ou da mente coletiva dos habitantes locais. O ambiente natural também tem um papel interessante na criação de uma atmosfera de ameaça em meio ao Paraíso. Isso funciona bem até certo ponto, mas o espectador logo se cansa da premissa que não avança e tende a revirar os olhos a cada cobrança estranha da aeromoça ou reclamação impaciente rebelde sem causa do E-Space. A ideia central e parte de sua execução são muito boas. Uma pena que isso não siga por todo o arco.

Kinda (Arco #118) — 19ª Temporada
Direção: Peter Grimwade
Roteiro: Christopher Bailey
Elenco: Peter Davison, Matthew Waterhouse, Sarah Sutton, Janet Fielding, Nerys Hughes, Richard Todd, Simon Rouse, Mary Morris, Sarah Prince, Adrian Mills, Anna Wing, Roger Milner, Jeff Stewart, Lee Cornes
Audiência média: 8,80 milhões
4 episódios (exibidos entre 1º e 9 de fevereiro de 1982)

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