Home TVEpisódio Crítica | Doctor Who – Série Clássica: Paradise Towers (Arco #145)

Crítica | Doctor Who – Série Clássica: Paradise Towers (Arco #145)

por Luiz Santiago
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Equipe: 7º Doutor, Mel
Espaço: Paradise Towers
Tempo: c. 2100 ou 2157

Mel convence o Doutor a levá-la para um complexo residencial que promete paz aos seus moradores. Alegando problemas na piscina da TARDIS, a companion também dá a entender que precisa dar uns mergulhos e relaxar um pouco, o que parece não motivar muito o Time Lord, mas ele aceita ir às Torres Paraíso, quase como se desejasse que algo estivesse errado com o lugar. Desde os primeiros minutos deste arco o espectador tem a sensação de que o 7º Doutor já “nasceu” maduro, sem a necessidade de um período de ajuste para consigo mesmo, como aconteceu com os outros Doutores antes dele, a partir da encarnação de Patrick Troughton.

Sylvester McCoy traz um personagem imediatamente completo e complexo, como se esta versão do Time Lord aproveitasse sem medo o mundo sob dois pontos de vista, o de uma criança cheia de maneirismos (as brincadeiras dele são encantadoras) e analítica e influenciadora, basta olharmos para a forma como ele tenta resolver os problemas e se safar das vezes em que é capturado. Cheio de ardis e coragem ao enfrentar as muitas facções presentes nas torres, o Doutor adota uma postura pragmática em relação ao que está acontecendo. O roteiro do novato Stephen Wyatt não deixa o Senhor do Tempo se espantar com amenidades e nem faz pequenos elementos de medo aparecer a cada dez minutos, tornando a narrativa mais fluída, o que ajudou o arco a sobreviver aos seus outros problemas de concepção.

A situação claustrofóbica fornecida pela locação nas torres traz um elemento bastante interessante da ficção científica, que é a representação da sociedade em todos os seus aspectos positivos e negativos num espaço onde as pessoas têm pouca mobilidade e pouco lugar para onde ir ou se esconder, premissa aqui claramente influenciada pelo ótimo romance Arranha-Céus (1975), de J. G. Ballard, obra que também tem um edifício de luxo em foco, um lugar onde o caos e a violência urbana podem ser vistos verticalmente e onde uma possibilidade de mudança da ordem social também é levantada. A temática não é nova na TV, mas ganha aqui em Doctor Who um sabor interessante de distopia oitentista.

A trilha sonora com grande peso eletrônico (confesso que acho bastante exagerado esse aspecto na série desde Trial of a Time Lord, mas não deixa de ter bons momentos, embora repetitivos) e os figurinos fortalecem a visão peculiar daqueles anos sombrios, que neste arco ganha as mais diversas alegorias nos vilões e heróis, nem que seja por brincadeira, como é o caso de Pex, o oposto dos “homens de guerra” famosos da década. Ele é um contraponto para Rambo ou similares, mas carrega em si uma história que, no roteiro, tem a função de explicar elementos externos à situação das torres, tentativa que não se sai bem, mas é possível apreciá-la por um breve momento.

As boas ideias da história infelizmente não fragmentadas pelo texto e este é um dos pontos que diminuem a qualidade da trama, frequentemente impedida de prosseguir em incursões mais corajosas. O enredo dá real espaço para as Kangs de diversas cores e para os zeladores sem graça quando as anciãs canibais (que por algum motivo me lembraram os Androguns de The Two Doctors), a história da própria distopia que tomou as torres com todo o teor político que envolve mandar crianças, adolescentes e jovens para a guerra e a presença de Kroagnon, o Grande Arquiteto poderiam destacar-se e trazer coisas muito mais interessantes para o Doutor e Mel investigarem. Desses personagens apresentados, Kroagnon é ao mesmo tempo o mais interessante e ridículo, precisando dos lentíssimos “catadores de lixo” para recolher corpos (cuja dinâmica é explicada de maneira questionável no roteiro) e a versão zumbi do Chefe dos Zeladores, que embora seja perfeitamente compreensível a composição do ator Richard Briers para o personagem é inegável que o elemento teatral e a maquiagem prateada sejam coisas bobas demais no desfecho da história.

Paradise Towers é um arco que nos faz pensar sobre como uma sociedade se acostuma com as coisas mais absurdas de seu cotidiano e em vez de fazerem algo que realmente sirva para mudar o lugar, perdem tempo e vidas lutando entre si. A história não traz ações realmente inteligentes ou épicas do Doutor e coloca Mel em perigo simplista mais do que deveria, mas termina como uma trama que diverte. O espectador que conseguir lutar contra a estranheza dos vilões e o mal uso do tempo interno (de frases e tomada de ações) em todo o episódio 4 pode ter uma visão até bastante positiva em relação à obra. Mais uma sociedade que ganha um restart pelas mãos do Doutor, sua companheira e a união de forças locais.

Paradise Towers (Arco #145) — 24ª Temporada
Direção: Nicholas Mallett
Roteiro: Stephen Wyatt
Elenco: Sylvester McCoy, Bonnie Langford, Richard Briers, Clive Merrison, Elizabeth Spriggs, Brenda Bruce, Judy Cornwell, Howard Cooke, Julie Brennon, Annabel Yuresha, Catherine Cusack, Astra Sheridan, Joseph Young, Simon Coady
Audiência média: 4,92 milhões
4 episódios (exibidos entre 5 e 26 de outubro de 1987)

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