Home TVEpisódio Crítica | Doctor Who – Série Clássica: Silver Nemesis (Arco #150)

Crítica | Doctor Who – Série Clássica: Silver Nemesis (Arco #150)

por Luiz Santiago
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Equipe: 7º Doutor, Ace
Espaço: América do Sul, Londres e Windsor
Tempo: 22 e 23 de novembro de 1988 e 1638

Primeiro é preciso deixar claro — embora eu tenha quase certeza que se você chegou para ler esta crítica você já saiba disso — que a foto de destaque aqui utilizada não é de uma cena do arco (oooooh!) mas uma das muitas promos realizadas por Sylvester McCoy e Sophie Aldred na ocasião do lançamento de Silver Nemesis, a história de comemoração dos 25 anos de Doctor Who que trazia no roteiro os temas “prata” e “realeza”, solicitados por John Nathan-Turner. Em torno da história (alimentada por Turner para a imprensa, claro) surgiram os boatos de que o convite recusado pelo Príncipe Edward para fazer uma aparição só aconteceu porque a Rainha Elizabeth II solicitou que ele recusasse. Mistérios de produção à parte, um tema principal — e interessantíssimo! — pairava sobre todo o enredo: quem é o Doutor?

A história começa em um lugar clichê qualquer da “América do Sul”, em 22 de novembro de 1988. Conhecemos o escritório de De Flores, um líder neonazista que nesta ocasião recebe, com grande felicidade, um objeto que será motivo de perseguição ao longo da história. Um corte nos leva para Windsor, na Inglaterra, em 1638, e somos apresentados a Lady Peinforte, seu servo Richard Maynarde e a um velho matemático que está sendo mantido em um lugar macabro, provavelmente após ser sequestrado, onde ele calcula a data de chegada de um asteroide que trará Nemesis (uma estátua de Validium) para a Terra.

O enredo ainda mostra cenas de ambientação simples + um inicial andamento da trama nestes dois lugares, passando por uma cômica e bela sequência do Doutor e Ace ouvindo uma performance de Courtney Pine em 23 de novembro de 1988 (no dia e mês de aniversário da série!), terminando com a chegada dos Cybermen, que embolam a história por completo.

Minha primeira reação foi tentar entender como o roteirista Kevin Clarke achou que certas coisas funcionariam bem no enredo, como a “explicação” de que Lady Peinforte viajou de 1638 para 1988 usando magia negra (é para revirar os olhos!) ou como o drama da realeza junto com os neonazistas e junto com os Cybermen poderia resultar em uma história com todos os seus aspectos bem trabalhados e finalizados. Porque não são. E aí é que está o maior tropeço, a meu ver. Apesar de termos propostas isoladamente muito interessantes e ideias que, lançadas apenas por alguns segundos já fazem o coração bater mais forte (Lady Peinforte falar que conhece o Doutor “de um tempo antigo, do tempo do caos” é uma delas), a trama é completamente presa pela presença dos Cybermen, cujo plano de dominação até pode, com boa vontade, ser atrelado ao desejo de um 4º Reich pelos neonazistas, mas pensando rigorosamente, o espectador não tem nada de muito sólido para juntar estes dois blocos não.

Das partes mais simpáticas da história — e as melhores, na minha opinião — estão os momentos solo do Doutor e Ace, ouvindo jazz ou deitando na grama e falando amenidades… fazendo gracinhas ou agindo à distância em relação à transmissão dos invasores. A tremenda capacidade estratégica e de desfaçatez do 7º Doutor é mostrada e o cenário dividido em pontos bem distintos de interesse, apenas sugeridamente relacionados, colaborando para destacar essa mentalidade e mão forte do Doutor como se estivesse perdendo o jogo, mas sempre pensando alguns movimentos à frente. As indicação do roteiro e do desenho de produção para colocá-lo jogando xadrez no século XVII é uma piscadela metafórica impagável aqui.

O tom de ópera espacial que o texto adota a partir da metade do segundo episódio traz uma grandeza que torna Silver Nemesis um arco em que a gente não tem muita certeza sobre o que sentir a respeito: uma grande emoção por uma invasão pensada a longo prazo? Algo mais místico ou paradoxal diante de uma Nova Era? Algum elemento de suspense ligado ao passado do Doutor? Ou espanto diante da crítica (?) político-ideológica em relação ao Fascismo e Nazismo, que pulsam em todo o ponto de dominação, inclusive com indicações racistas bastante coerentes com a proposta? As locações e a direção de arte tornam a história visualmente chamativa e principalmente no último episódio o diretor Chris Clough aposta na linguagem cinematográfica de cenas de ação para concluir a estadia dos Cybermen na Terra, para mim, o único momento em que os vilões fazem algum sentido no arco.

Ainda assim, esta é uma história de encantos estranhos. Não é ruim, mas está pouco confortavelmente acima da linha mediana, status que sempre nos deixa um gosto amargo. Em contrapartida — e esta é uma das contradições que alguns arcos de Doctor Who parece trazer — temos em Silver Nemesis um dos melhores e mais variados usos de trilha sonora e uma concepção profunda para o Doutor em um único enredo — Sylvester McCoy parece estar se divertindo muito com o mistério, adotando um olhar quase cínico ao responder determinadas perguntas, mais uma ótima interpretação do ator. Entre momentos de grande potencial para uma boa história e posição confusa dos Cybermen é que se estabelece este estranho e prateado aniversário de 25 anos de Doctor Who.

Silver Nemesis (Arco #150) — 25ª Temporada
Direção: Chris Clough
Roteiro: Kevin Clarke
Elenco: Sylvester McCoy, Sophie Aldred, Anton Diffring, Metin Yenal, Fiona Walker, Gerard Murphy, Leslie French, Martyn Read, Dolores Gray, Courtney Pine, David Banks, Mark Hardy, Brian Orrell, Chris Chering, Symond Lawes, Adrian Read, Ernest Mothle, Frank Tontoh
Audiência média: 5,50 milhões
3 episódios (exibidos entre 23 de novembro a 7 de dezembro de 1988)

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