Home TVEpisódio Crítica | Doctor Who – Série Clássica: Terror of the Autons (Arco #55)

Crítica | Doctor Who – Série Clássica: Terror of the Autons (Arco #55)

por Guilherme Coral
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estrelas 3,5

__ Who the heck are you? Well?

__ I am usually referred to as The Master

__ Oh! Is that so?

__ Universally

Equipe: 3º Doutor, Jo (+ UNIT, Brigadeiro Lethbridge-Stewart e Capitão Yates)
Era: UNIT — Ano 3
Espaço: Tarminster – Reino Unido
Tempo: Anos 1970

Com essas palavras Robert Holmes introduz no cânone de Doctor Who um de seus mais icônicos vilões, o Mestre, vivido pela primeira vez por Roger Delgado. Abrindo a oitava temporada da série clássica, Terror of the Autons, contudo, não trabalha somente com esse antagonista, ele marca o retorno dos Nestene, vistos por último em Spearhead from Space e que somente dariam as caras novamente já no episódio de abertura da série nova, Rose.

Similarmente ao que temos no arco The Invasion (#46), a história procede com o Time Lord renegado tentando trazer uma força invasora para o planeta Terra, a fim de destruir não só a humanidade como, especialmente, o Doutor, antigo rival do Mestre. Holmes elabora um roteiro bastante conciso, que dispensa grandes apresentações do vilão e o insere na trama sem grandes floreios. Delgado, com sua atuação digna de vilão de James Bond rouba todas as cenas em que aparece com expressões maquiavélicas e uma aparência que faz dele um bandido de imediato. Tais características e tom sempre calmo de sua voz garantem o funcionamento dos poder de controle mental do personagem, que assume uma natural credibilidade.

O antagonismo criado entre ele e o Doutor chega a ser palpável, por mais que ambos apareçam lado a lado raríssimas vezes. A oposição entre as personalidades é evidente, mas conseguem, ao mesmo tempo, nos passar a nítida impressão que ambos possuem diversos pontos em comum – Holmes trabalha com certos diálogos espelhados para trazer isso a tona -, algo que estaria presente em nosso imaginário mesmo se não soubéssemos que ambos são time lords. É curioso que, embora os Autons sejam a ameaça em primeiro plano, é verdadeiramente o Mestre que transmite a real sensação de perigo do arco, certamente um manipulador de primeira categoria.

A construção de sua personalidade, feita através de uma montagem paralela que divide a duração dos episódios com o foco no Doutor, é realizada organicamente. A cena de abertura – com diálogo transcrito acima – nos dá as informações necessárias para compreendermos a natureza da ameaça em questão e dá início ao plano do vilão sendo executado passo a passo. Com isso o espectador logo se vê engajado, tentando descobrir exatamente o que o Mestre irá realizar. Nesse meio temos um deslize, logo no primeiro capítulo: a aparição do mensageiro dos time lords, que acaba caindo em um didatismo desnecessário, ainda que curto. Naturalmente o personagem desempenha um papel maior, contribuindo para a sensação de perigo do arco, mas nada que já seja deixado claro anterior e posteriormente.

Infelizmente o tom de urgência almejado por Robert Holmes acaba sendo prejudicado pelo uso do conceito dos Nestene, o controle do plástico. Especificamente me refiro ao boneco assassino e ao fio de telefone, ambos utilizados como armas dentro do arco e que conseguem apenas causar boas risadas no espectador. A diversão, por outro lado, é garantida, ao passo que não podemos deixar de sermos cativados pelos inúmeros planos do Mestre para acabar com o Doutor, algo como o Coiote atrás do Papaléguas. Esse divertimento, porém, foge do objetivo do arco que é causar a tensão.

Outro aspecto que atua contra a qualidade de Terror of the Autons é o seu ritmo acelerado, fruto da montagem que encadeia acontecimentos de forma súbita, trazendo constantes elipses sem, ao menos, alternar o foco da narrativa entre eles. De uma hora para a outra personagens vão de um lugar para o outro, o que cria a sensação de que o arco fora reduzido em diversos pontos de sua duração total. Esse fator culmina na resolução, que conta com uma mudança de opinião praticamente instantânea, tirando grande parte da força do clímax da história.

Por último, mas não menos importante, temos a introdução de uma nova companion para o terceiro Doutor, Jo Grant (Katy Manning), que é recebida com notável relutância pelo time lord. A relação entre os dois, ainda que em seus primeiros passos traz alguns momentos de confiança, mas que, em geral, se resumem ao Doutor pedindo para que Jo faça alguma coisa, fazendo jus ao cargo de assistente que a personagem assume. Neste primeiro arco ela tem poucas ocasiões de destaque e não realiza ações muito significativas, deixando-nos na vontade de ver a companheira do Doutor crescer em termos narrativos.

Apesar de inúmeros deslizes, Terror of the Autons é um arco que dificilmente não irá divertir o espectador, além disso é simplesmente obrigatório para qualquer fã da série por trazer a notável primeira aparição do Mestre. Uma história curta e engajante que consegue sobressair aos defeitos, fruto, certamente, das atuações de Jon Pertwee e Roger Delgado.

Terror of the Autons (Arco #55) — 8ª Temporada
Direção: Barry Letts
Roteiro: Robert Holmes
Elenco: Jon Pertwee, Katy Manning, Nicholas Courtney, John Levene, Richard Franklin, Roger Delgado

Audiência média: 8 milhões

4 episódios (exibidos entre 02 e 23 de Janeiro de 1971)

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