Home TVEpisódio Crítica | Doctor Who – Série Clássica: The Leisure Hive (Arco #109)

Crítica | Doctor Who – Série Clássica: The Leisure Hive (Arco #109)

por Luiz Santiago
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estrelas 3

Equipe: 4º Doutor, Romana II, K-9 Mark II (brevemente)
Espaço: Brighton, Reino Unido / Planeta Argolis
Tempo: 1980 / 2294

The Leisure Hive marca o início da 18ª Temporada de Doctor Who, com um novo clima em cena a partir da entrada de John Nathan-Turner como produtor da série, que ficaria no cargo até o cancelamento do programa, em 1989. Essa estreia foi bastante polêmica, porque trouxe muitas mudanças, às quais Tom Baker e Lalla Ward protestaram veementemente, não escondendo o desagrado ou as duras críticas ao produtor por orientar um novo arranjo para o tema de abertura (com sintetizadores e pequenos adendos em tom menor); uma nova estética para os letreiros de abertura, com brilhantes focos de luz na tela e grande destaque para luz neon, bastante popular nos anos 80; e os pontos de interrogação no colarinho da camisa do Doutor, o que deixou Baker furioso, sentimento coroado pela nova cor do figurino e do cachecol.

Como já falei e defendi aqui antes, Doctor Who é uma série de mudanças e nós, espectadores, precisamos estar preparados para elas, não há para onde fugir. Agora imaginem trabalhar na série a tantos anos e, de repente, ter tantas novas coisas a serem consideradas… novas orientações para os roteiros (Nathan-Turner achava a série muito boba, se comparada a programas do mesmo gênero nos EUA) e nova forma de produzir e conduzir os episódios, tanto em orçamento quanto em tecnologia. Claro que isso trouxe bastante descontentamento nos bastidores, gerou algumas demissões e de fato proporcionou uma experiência diferente para o espectador.

The Leisure Hive começa com o Doutor, Romana II e K-9 II em uma praia, em Brighton. O produtor pediu para que o início do primeiro episódio fosse apresentado como a sequência da praia no filme Morte em Veneza (1971), de Luchino Visconti, demonstrando um estilo que nos confunde um pouco em relação ao tempo. De imediato, a aparência diferente do Doutor, a roupa “um pouco mais séria” de Romana e o fato de K-9 ser tirado de circulação servem como pontos de alerta para o que poderia vir a seguir. Realmente, algumas mudanças visuais estavam acontecendo (vale dizer que o exterior da TARDIS também mudou!), mas naquilo que realmente importava, a meu ver, a coisa simplesmente permaneceu dentro de uma escala que já atribuímos à era do 4º Doutor, o que nos faz questionar todo o circo de mudanças estéticas e formais empreendidas por Nathan-Turner em um primeiro momento.

O roteiro, escrito por David Fisher, leva o Doutor e Romana de Brighton nos anos 80 para o planeta Argolis, em 2294, onde vemos uma crise financeira causada pela diminuição progressiva dos turistas (óbvio que o arco é uma sátira à queda do turismo no Reino Unido), abalar a organização do famoso resort. Mas como era de se esperar, este é o menor dos problemas em pauta aqui.

Talvez o grande abismo seja a profusão de tramas dentro de tramas que fazem o enredo perder uma maior ligação com o espectador, que não sabe exatamente para onde direcionar a atenção, se para a recuperação do turismo através dos testes no gerador de táquions direcionados à recreação, que os argolins testavam; se a prisão dos infiltrados foamasis (quase-anagrama de “mafioso”, pois o arco também visita temáticas de O Poderoso Chefão e faz alusões à máfia); se para a descoberta de uma forma para evitar a morte precoce e/ou esterilidade dos argolins, que estavam nesta situação devido a radiação à qual foram expostos na guerra de 20 minutos contra os foamasis; ou se para as linhas dramáticas com o Doutor e Romana, ou com cientista da Terra ou com a megalomania bélica e imperialista de Pagol.

A aventura tem um andamento bom, apesar de tudo. Mesmo com todas as dificuldades e estresse durante as filmagens (Tom Baker não era um ator muito fácil de lidar e as novas regras e interferências de John Nathan-Turner não melhoravam nada as coisas), o diretor Lovett Bickford conseguiu manter o interesse do público pelo menos nos dois primeiros episódios, fraquejando nos outros dois, mas, como a curiosidade já havia sido plantada, o espectador segue automaticamente até o final. Há alguns momentos que nos prendem a isso, como a dúvida sobre o retorno ou não de K-9 — ou melhor, se o Doutor iria remontá-lo novamente –, o super-envelhecimento do Doutor ao entrar no gerador adulterado por Pagol e como as coisas se resolveriam para argolins e foamasis, que como qualquer raça, possui seus bons e maus cidadãos. Essa dualidade é uma das melhores coisas do roteiro, assim como a óbvia, e mesmo assim, muda, diferença de tratamento dado às duas espécies que viviam em Argolis.

Há uma certa confusão em relação aos interesses econômicos aqui, mas como já comentei, são tantas coisas a serem consideradas que logo a ideia de compra do famoso resort de Argolis (Leisure Hive) é escanteada e outras tramas bem mais intricada toma o lugar.

Tom Baker e Lalla Ward não estão em suas melhores formas, talvez pelas brigas com o produtor e entre eles dois, mas não são de fato atuações ruins. Elas apenas não são boas o tempo todo, e a essa altura, nós sabemos o quão excelente Tom Baker e Lalla Ward podiam ser em cena.

Independente desses tropeços, o arco se segura pelos pequenos momentos de glória e temáticas fortes da década de 1980 que não envelheceram (corrupção, clonagem, crise econômica, xenofobia, biotecnologia, bioética) e que nos fazem arregalar os olhos e ansiarmos pelo novo rumo da série. Foi um bom teste. Assim começava a longa — e quase mitológica — era de John Nathan-Turner em Doctor Who. A última temporada do 4º Doutor.

The Leisure Hive (Arco #109) — 18ª Temporada
Direção: Lovett Bickford
Roteiro: David Fisher
Elenco: Tom Baker, Lalla Ward, Adrienne Corri, Laurence Payne, David Haig, Nigel Lambert, John Leeson
Audiência média: 5,10 milhões
4 episódios (exibidos entre 30 de agosto a 20 de setembro de 1980)

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