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Crítica | Doctor Who: The Winter Series

por Luiz Santiago
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SPOILERS DA 9ª TEMPORADA!

As produções aqui criticadas são áudio-livros especiais produzidos pela BBC Physical Audio (que substitui uma antiga parceira da BBC, a Audio GO). Os contos desta série (originalmente chamados de The Tales of Winter ou The Winter Series) são protagonizadas pelo 12º Doutor ao lado de Clara Oswald, e tiveram lançamento entre agosto de 2015 e abril de 2016.

É importante lembrar que a BBC utiliza o mesmo “selo” (BBC New Series Adventures) para os livros impressos publicados sob sua encomenda desde a era do 9º Doutor e que desde a era do 10º Doutor são gravados, pela empresa, alguns áudio-livros com aventuras mais curtas, inéditas e especiais para o público whovian.
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The Gods of Winter

estrelas 4
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Equipe: 12º Doutor, Clara
Espaço: Planeta sob um domo (não nomeado)
Tempo: Indeterminado

Um planeta cuja colônia humana é coberta por um domo de vidro. O Doutor e Clara chegam a este lugar levados por um chamado de emergência, atendido pela TARDIS, e lá está uma garota chamada Diana Winter segurando um cartão que pertence à sua mãe, uma espécie de “relíquia de família” que coloca aquele que o possuir em contato direto com o Doutor.

Este princípio de saga é nada menos que genial, porque mostra o Time Lord totalmente na defensiva ao ver que alguém tem um cartão que pode fazer com que ele chegue até esta pessoa, algo do qual ele não tem controle algum. Nessa abertura do andamento da série de TV (estamos entre The Caretaker e Kill the Moon) o Doutor ainda estava em “transformação de sociabilidade” e o espectador ri com muito gosto da interação feita aqui entre todos os personagens e, a tomar unicamente pelo início, jamais imaginaria que a trama seguiria para algo tão sombrio e tão perigoso no futuro.

A segunda parte da história se passa entre In the Forest of the Night e Dark Water e recebe um tratamento bastante diferente em relação ao primeiro ato. Se haviam certas desconfianças e “coisas fora do lugar” na primeira passagem do Doutor pelo planeta — ele se recusa a interferir de maneira mais firme nesse primeiro contato –, a segunda vinda mostra o resultado catastrófico que certas ações corporativas pode ter para uma civilização inteira que, com o passar das gerações, se relacionará com aquilo de forma completamente diferente. A crítica às mega-empresas poluidoras e sua política de lucro a qualquer custo é realizada de maneira orgânica e recebe toda excelência possível na leitura de Clare Higgins (a Ohila de The Night Of The Doctor).

É na segunda parte do enredo que James Goss esbarra em alguns obstáculos ao trazer os motivos da guerra, os meios de combate, os inimigos, suas motivações e a ação do Doutor e Clara em separado. Mesmo sendo o tempo inteiro uma aventura interessante, no tema, na mistura de gêneros ou na crítica ambiental das entrelinhas, The Gods of Winter faz ver com dificuldade o seu elemento vilanesco, bem como sua forma de resolvê-lo. O final é uma consequência desse aspecto, mas se mostra bem mais interessante e caloroso, o bastante para garantir o sorriso de “ótima aventura” nos lábios do espectador.

Doctor Who: The Gods of Winter (Reino Unido, agosto de 2015)
Roteiro: James Goss
Leitura: Clare Higgins
Duração: 77 min.

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The House of Winter

estrelas 4,5
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Equipe: 12º Doutor, Clara
Espaço: Asurmian Reach
Tempo: Século XXV

Bom, ao que parece, existe uma ligação mais que imediata entre a família Winter, o Doutor em um tal cartão que dá à pessoa a possibilidade de chamá-lo no que considerar ser o pior dia de sua vida. Desta vez, desviada novamente de curso na retomada de viagens entre Clara e o Doutor (essa história se passa entre Last Christmas e The Magician’s Apprentice), a TARDIS vai parar em uma mansão de onde ninguém consegue sair e onde todos são atormentados por “um monstro”, uma espécie de O Anjo Exterminador da ficção científica. Nessa estadia, Harrison Winter parece ter recebido de seu avô o misterioso cartão. E lá está o Doutor e Clara tentando salvar o dia.

A história, escrita por George Mann e muito bem interpretada por David Schofield é, acima de tudo, uma história de terror. Mas não do jeito fácil. Ela manipula a percepção do espectador sobre os acontecimentos dentro da casa, aproveitando-se muito bem de situações relativamente simples para criar um resultado impactante. É curioso que para uma saga começada de forma cômica, com o Doutor reclamando do incessante celular da companion, jamais esperaríamos um desenvolvimento tão intenso.

O único ponto negativo do texto é a forma como a brincadeira do celular volta a ser tema do diálogo entre o Doutor e Clara no final da história. A recepção que temos aí é bem distinta daquela do início, definitivamente menos interessante. Claro que o fato cômico e a excelente relação entre o Doutor e Clara estão em pauta, mas a “mesma piada” ou situação parece ter um efeito repelente da segunda vez, uma piada que vem mais à guisa de resolução (desnecessária) do que qualquer outra coisa.

Talvez nas mãos da Big Finish, o resultado para esta ótima The House of Winter fosse ainda melhor. De qualquer forma, salvo o já abordado problema do celular ao final da história, temos aqui uma fantástica aventura de terror, um misto de drama de vampiro com reminiscências do arco The Web Planet, mistura que à primeira vista parece a coisa mais improvável do mundo (e é!) mas o resultado final é simplesmente espetacular. O que não podemos deixar de nos perguntar é: qual a relação do Doutor com as muitas gerações da família Winter? Como essas pessoas, em lugares e tempos diferentes, acabaram com o mesmo “cartão de família” em mãos?

Doctor Who: The House of Winter (Reino Unido,outubro de 2015)
Roteiro: George Mann
Leitura: David Schofield
Duração: 81 min.

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The Sins of Winter

estrelas 3,5
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Equipe: 12º Doutor, Clara
Espaço: Catedral Espacial localizada em um asteroide
Tempo: Indeterminado

The Sins of Winter é mais uma história de terror, porém, fortemente apoiada no caráter físico-emotivo do gênero e não muito na sugestão que marcou The House of Winter. Localizada entre The Girl Who Died e The Woman Who Lived, essa história pega um estágio em que o Doutor estava começando a ficar mais dócil, período que não duraria muito tempo, pois um grande acontecimento (Face the Raven), viria modificar as coisas para o Time Lord e para Clara, para sempre.

A TARDIS é desviada de sua rota até uma Catedral Espacial, depois de receber o pedido do cartão de Shadrak Winter, o Alto Cardel do “Cult of the Prime Self” (no momento, a 4ª maior religião deste setor do Universo). Tendo sucumbido a um tipo de lesma que sugava todos o pecados das pessoas, após fazê-las confessar um a um e se sentirem dominadas e ao mesmo tempo arrependidas deles (uma espécie de infecção cujo resultado final é a “lesma”, ou Sinful, se alimentando da vítima), o Cardeal faz de seu chamado ao Doutor uma última tentativa de agarrar-se à vida. Acontece que, mais uma vez, as coisas não são exatamente o que parecem ser.

A melhor coisa dessa história é o seu tom meio “era do 4º Doutor“. Há muita bizarrice em jogo, mas muita mesmo, com direito ao Doutor prestes a dar à luz (sim, o Doutor vai ser mamãe!), algumas outras coisas bem nojentas e comportamentos bem estranhos por parte da tríade principal de personagens. Ao mesmo tempo em que essa relação enlouquecida da lesma que come pessoas livres de pecados é divertida em certas partes do roteiro, seu exagero atrapalha um pouco a imersão total do público. Todo o jogo de fuga, captura e vitória sobre o vilão demora bastante, para, ao fim, trazer uma quebra narrativa que já não tinha mais tanto impacto depois de sairmos de The House of Winter.

Clara é a grande personagem de destaque nessa história e devo dizer que a trilha sonora, com um macabro coro que tenta imitar os corais sacros medievais torna todo o espaço bastante medonho. Não aconselharia ninguém a ouvir esse conto sozinho, à noite. A despeito de suas longas sequências bizarras, The House of Winter é uma baita adição à saga da família Winter.

Doctor Who: The Sins of Winter (Reino Unido,dezembro de 2015)
Roteiro: James Goss
Leitura: Robin Soans
Duração: 70 min.

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The Memory of Winter

estrelas 3,5The_Memory_of_Winter

Equipe: 12º Doutor, Clara
Espaço: França
Tempo: Fevereiro de 1429

Eis onde tudo começou! Ou terminou? Com roteiro de George Mann (o mesmo da excelente The House of Winter), esta aventura leva o Doutor e Clara para a França, em 1429, durante a Guerra dos 100 Anos. A trama não tem o mesmo brilhantismo que a anterior escrita por Mann, mas é uma saga medieval com toda pompa e circunstância, chegando a haver um encontro com o (quase) rei da França; soldados fanáticos; intrigas; Joana D’Arc; e, como complemento, criaturas estranhas e todo um aparato tecnológico fora de época que faz o Doutor tremer de raiva.

Localizada entre Sleep No More e Face the Raven (há quase um prenúncio do futuro de Clara aqui), The Memory of Winter explica não só a questão do cartão que chamava a TARDIS, como cria a justificativa para a lenda familiar, além de tentar dar explicações para as tais “vozes divinas” que Joana D’Arc dizia ouvir desde criança e que a levaram a liderar o Exército francês rumo a uma importante vitória na famosa Guera dos 100 anos.

Talvez pelo impacto histórico ou pela força dos personagens ou pela responsabilidade de dar conta de uma linha do tempo acontecida de forma alinear, mas o fato é que o texto de Mann não avança muito em criatividade aqui, apenas cria um drama correto, bem estruturado a maior parte do tempo, mas nada além do comum. Em comparação aos atores que leram os contos anteriores, Jemma Redgrave faz na presente história um trabalho genérico, embora bom. Da saga, a melhor exposição foi a de Clare Higgins (realmente incrível) em The Gods of Winter.

Terminando com um pouco de humor e gerando um ciclo paradoxal que é sempre interessante ver em produções de ficção científica, a saga dos contos da família Winter gira o motor da História com um pequeno “acidente de esquecimento”, uma coisa que ainda vai dar (embora, a esta altura, já tenha dado) muita dor de cabeça para o Doutor.

Doctor Who: The Memory of Winter (Reino Unido, abril de 2016)
Roteiro: George Mann
Leitura: Jemma Redgrave
Duração: 80 min.

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