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Crítica | Dois Amantes e um Urso

por Guilherme Coral
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estrelas 4

Não há como fugir de seu passado, seus fantasmas deixados para trás eventualmente irão encontra-lo e força-lo a lembrar de tudo que procurou esquecer, restando como única alternativa enfrenta-los a fim de se obter uma paz de espírito, ainda que relativa. Dois Amantes e um Urso lida exatamente com essa questão, nos mostrando os impactos que acontecimentos há muito ocorridos podem ter em uma vida, os estragos que se transformam em traumas, definindo o caminho que uma pessoa pode seguir e a forma como ela pode ser impedida de viver sua vida plenamente.

A trama gira em torno de Lucy (Tatiana Maslany, de Orphan Black) e Roman (Dane DeHaan, o Harry Osborn de O Espetacular Homem-Aranha), um casal que vive em uma pequena cidade no Polo Norte. Ambos são assombrados pelas memórias de seus pais e encontraram um no outro um pilar de sustentação. Eles são desestabilizados, contudo, quando Lucy é aceita em uma faculdade de biologia e a iminente separação dos dois leva Roman a um breakdown. A solução que encontram é fazerem a longa viagem ao sul juntos, cruzando as planícies gélidas sozinhos, enfrentando tudo aquilo que deixaram para trás.

Há uma grande solidão nas imagens mostradas pelo diretor Kim Nguyen, o gelo e a neve ocupam praticamente todo o quadro, com uma cidadezinha perdida nesse vasto ambiente desolado. Encontramos em Lucy e Roman o único conforto, uma relação cuja química sentimos desde os minutos iniciais da projeção – sabemos desde já que um precisa do outro e o roteiro espertamente oculta os traumas de cada um até o momento certo. É criado um suspense – não sabemos exatamente quem persegue a mulher, quem ela tanto teme e somente descobrimos o total escopo de suas dores nos momentos finais, enquanto essa relação é construída para nós, espectadores.

Dois Amantes e um Urso insere em sua trama a dose certa entre drama e comédia através das atuações de DeHaan e Maslany. Cada um deles cumprindo seu papel de criar essa mistura homogênea no tom da obra. Há uma sinceridade no trabalho dos dois e a forma como suas mentes fora abalada pelo passado chega a ser palpável, chegando ao ponto que sentimos um alívio quando os vemos juntos em tela. É um filme que consegue imergir o espectador nesse sentimento, nesse relacionamento que nos tira do vazio do Polo Norte e nos coloca no calor desse sincero amor.

A presença do urso polar, com quem Roman dialoga (para nossa grande surpresa) atua como uma voz da consciência do personagem, ao mesmo tempo que evidencia sua solidão até encontrar a amada. Infelizmente o papel desempenhado por ele acaba não cumprindo um objetivo muito claro – com poucas aparições ele soa perdido dentro do texto, esticando a projeção sem, verdadeiramente, nos entregar nada. A revelação final acerca de sua identidade soa vazia e sem um propósito maior, fazendo com a presença do animal no filme pareça apenas uma justificativa para uma piada contada por Lucy no meio da projeção.

Mesmo com esse deslize, Dois Amantes e um Urso consegue nos puxar para o centro de sua narrativa, nos mergulhando nessa relação que soa como a última esperança para esses dois personagens, uma salvação das dores que os acompanharam por todas as suas vidas. Kim Nguyen nos entrega um belo retrato sobre a solidão e como pode ser fácil se entregar ao trauma, evidenciando que o melhor caminho, embora mais difícil, é sempre enfrentar o passado e não apenas fugir dele, afinal, como já dito anteriormente, ele irá te seguir e encontrar em um momento ou outro.

Dois Amantes e um Urso (Two Lovers and a Bear) — Canadá, 2016
Direção:
 Kim Nguyen
Roteiro: Kim Nguyen
Elenco: Tatiana Maslany, Dane DeHaan, Gordon Pinsent, John Ralston, Joel Gagne, Jeffrey R. Smith
Duração: 96 min.

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