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Crítica | Dois Caras Legais

por Lucas Nascimento
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estrelas 4

O cinema do século XXI não é necessariamente um período fascinante para os filmes de policial. Graças aos tempos mais sombrios, em sua maioria caucados em um realismo visceral, o gênero rende aqui e ali alguns frutos (como o ótimo Marcados para Morrer), mas parece ter se esquecido da glória e da diversão do buddy cop movie, o que justifica o fato de Shane Black ter precisado voltar aos anos 70 com Dois Caras Legais para nos entregar um trabalho digno do criador de Máquina Mortífera.

A trama parte de uma ideia original de Black e o novato Anthony Bagarozzi, nos apresentando ao investigador particular Holland March (Ryan Gosling) e ao detetive Jackson Healy (Russell Crowe), que acabam precisando unir suas forças para resolver um caso bizarro que envolve o aparente suicídio da estrela pornô Misty Mountains (Murielle Telio) e um complô que eventualmente vai se desdobrando em porporções maiores.

É uma história cabeluda que se desenvolve com impressionante precisão e elegância, na medida dos bons thrillers noir da época: acaba em um espaço onde não mergulha de cabeça nas complexidades como Chinatown e a segunda temporada de True Detective, mas também não adota o surreal doper de Vício Inerente, gerando um eficiente quebra-cabeças que vai perfeitamente se construindo no decorrer de seu ótimo ritmo. O enfoque na indústria pornô rende não apenas um amontoado de ótimas piadas (incluindo a resolução geral da história, que remete bastante a Boogie Nights), mas também pelo contexto artístico. Logo nos segundos iniciais, a câmera de Black aparece por de trás do letreiro quebrado de Hollywood, nos situando não apenas na década em questão, mas no lado mais “torto” da indústria, em um incrivelmente eficiente recurso.

E falando em piadas, a prosa de Black e Bagarozzi é sublime, com frases de efeito que acabam repetidas em momentos-chave e situações absurdas que jamais esperaríamos em um longa protagonizado por policiais. Mas nada disso daria certo não fosse o talento monumental de Russell Crowe e Ryan Gosling, que formam uma dupla cômica divertida e original, com o mesmo espírito de Mel Gibson e Danny Glover na quadrilogia que é a base para todo buddy cop. Crowe faz o estilo mais sóbrio, racional e eficiente, enquanto Gosling é um sujeito totalmente desequilibrado e sacana; mas são justamente os momentos em que os papéis se invertem que temos algo realmente especial, com March revelando um instinto inteligente e Healy mostrando que almeja por uma satisfação emocional complexa – algo que funciona de forma muito sutil também com uma certa tatuagem que March carrega ao longo da projeção.

Mas por mais eficientes e divertidos que sejam os detetives, quem toma para si os holofotes é a jovem Angourie Rice, que interpreta a filha de March, Holly. Rice se sobressai como uma criança de 13 anos que é inteligente e sarcástica, a personagem mirim mais marcante desde a Hit-Girl de Chloe Grace Moretz no primeiro Kick-Ass, sendo perfeitamente capaz de obter pistas e informações de formas mais maduras do que os protagonistas; mas sem nunca transformar-se em uma espécie de robô caricata, jamais deixando de lado o fato de que é uma criança.

Dois Caras Legais é um ótimo retorno à forma para Shane Black, que entrega um dos melhores e mais divertidos filmes de 2016 até o momento, contando com o incrível charme cômico de Russell Crowe e Ryan Gosling, que devem conquistar qualquer um.

Dois Caras Legais (The Nice Guys, EUA – 2016)

Direção: Shane Black
Roteiro: Shane Black, Anthony Bagarozzi
Elenco: Russell Crowe, Ryan Gosling, Kim Basinger, Angourie Rice, Matt Bomer, Margaret Qualley, Yaya DaCosta, Keith David, Beau Knapp, Murielle Telio
Duração: 116 min.

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