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Crítica | Dr. Who e a Guerra dos Daleks (1965)

por Luiz Santiago
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Clássico ator britânico com carreira iniciada em 1939, no filme O Máscara de Ferro, de James Whale, Peter Cushing viveu uma das versões mais curiosas de um querido personagem da ficção científica, o Time Lord conhecido como “The Doctor”, ou, com menos frequência, “Doctor Who“. O filme surgiu Dr. Who e a Guerra dos Daleks (1965) com o intuito de aproveitar a “Dalekmania” que tomou conta do público infantil e adolescente no Reino Unido, por conta da série Doctor Who, destacando aí o mais frequente vilão do 1º Doutor, os Daleks. Como o acordo da BBC com Terry Nation, o criador dos “saleiros de Skaro”, permitia esse tipo de licenciamento, as produtoras britânicas AARU e Amicus conseguiram fechar negócio para um longa-metragem, já de olho no mercado americano, o que trouxe o primeiro impasse, a contratação de Peter Cushing e não de William Hartnell (que realmente ficou desgostoso como isso) para interpretar o papel principal.

A justificativa foi que Cushing era melhor conhecido nos Estados Unidos, e por isso tinha mais apelo diante do público americano, o que poderia aumentar as vendas de ingressos. Aqui, o roteiro de Milton Subotsky procura de todas as maneiras possíveis fazer de uma aventura com os Daleks algo que se possa chamar de “saga familiar”, mesmo adaptando um cenário bastante aterrador, de uma guerra que arrasou um planeta inteiro, de um povo que entrou em um acelerado e imenso processo de mutação e de um lado desse povo que odeia tudo o que é diferente e pretende destruir esses “outros” na primeira oportunidade.

Para todos os efeitos, estamos falando de uma adaptação do arco The Daleks, especialmente do primeiro episódio, The Dead Planet. Para tornar a obra mais familiar, Barbara, que na série é professora de Susan, aqui também é neta de Dr. Who, que nesta versão é um cientista humano com um tino para se meter em problemas com suas invenções, algo não muito diferente do famoso Senhor do Tempo. Considerando a intenção da produção, a perspectiva de um grande inventor viajar ao lado de duas netas mais um pretendente de uma delas, realmente parece atrativo para exibições familiares, e não é à toa que os estúdios ainda conseguiriam fazer outro filme neste Universo, a saber, Ano 2150 – A Invasão da Terra (1966), com o mesmo roteirista e diretor.

Em um primeiro momento, o filme nos faz rir pelas modificações, mas nos ganha de cara através de sua excelente direção de arte e fotografia, que se mantém aplaudível durante todo o filme, assim como a trilha sonora, com uma tendência épica, não exagerada e sem destoar daquilo que a obra precisa. O problema é que o texto de Subotsky não entende os limites da bobagem que um personagem pode ter, como comprovamos no desenvolvimento de Roy Castle, que interpreta Ian. O ator recebe alguns momento hilários e genuinamente muito bem pensados, com cenas fofas, inclusive; mas em compensação, tem do outro lado uma posição simplesmente ridícula — e não de uma maneira positiva — com a repetição de gags e bizarrices comportamentais como aquela que temos na cena de encerramento. A isso, somamos as pobres justificativas para a relação Daleks-Thals e a inconcebível decisão dos Thals irem buscar comida na cidade dos Daleks; as bipolares decisões dos vilões — que aqui lançam CO2 e não raios, como na TV –; e algumas idas e voltas do roteiro, apenas para estender a trama com “perigos de ocasião”, algo que não funciona sequer no plano mais simples, nos primeiros minutos do filme.

No Universo da série, é muito interessante como Peter Cushing e seu “Dr. Who” são colocados. Seu “Dr.” tanto aparece como um personagem fictício no Universo da série — vide a novelização de The Day of the Doctor; o conto A Visit to the Cinema, do 3º Doutor, e o livro Salvação, do 1º Doutor –; quanto como um personagem “real” desse Universo, isso ainda sendo bastante enigmático dentro do mundo expandido, com pelo menos duas indicações que nos fazem pensar bastante a respeito, uma no conto The Five O’Clock Shadow, e outra em um curioso quadro que Gabby vê em Os Quatro Doutores.

Dr. Who e a Guerra dos Daleks acaba tendo o mesmo valor final, de qualidade e importância histórico-linear de Doctor Who – O Senhor do Tempo (1996). Claro que, no segundo caso, o Doutor (Oitavo) acabou sendo canonizado, mas fora isso, temos nas duas histórias, resoluções terríveis do texto, mescladas com alguns bons momentos num produto final estranho, apesar de necessário para que nossa lista de variações e versões do Doutor seja completa. Mesmo decepcionante, este é um filme que deve constar na planilha de “vistos” de qualquer whovian.

Doctor Who e a Guerra dos Daleks (Dr. Who and the Daleks) — Reino Unido, 1965
Direção: Gordon Flemyng
Roteiro: Milton Subotsky (baseado em enredo de Terry Nation para Doctor Who)
Elenco: Peter Cushing, Roy Castle, Jennie Linden, Roberta Tovey, Barrie Ingham, Geoffrey Toone, Michael Coles, John Bown, Yvonne Antrobus, Mark Petersen, Ken Garady, Nicholas Head, Mike Lennox, Jack Waters, Virginia Tyler
Duração: 82 min.

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