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Crítica | Educação

por Guilherme Coral
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estrelas 4,5

A tentação de se jogar tudo para o alto, abandonar quaisquer planos e simplesmente trilhar o caminho mais fácil. Qualquer pessoa com o mínimo de experiência já passou por tal situação, tal escolha em determinado momento da vida. Educação no traz justamente essa problemática, utilizando uma menina inglesa dos anos 1960 como retrato de onde a impulsividade e a tentação pode nos levar.

Jenny (Carey Mulligan) é a típica garota dos olhos dos professores: boas notas, educada, faz parte da orquestra do colégio e sonha entrar em Oxford. Seu único empecilho é o latim, cuja falta de proficiência é constantemente lembrada pelo seu pai, Jack (Alfred Molina). Sua vida é uma constante, uma reta com destino à universidade. Tudo isso muda quando a menina conhece   David Goldman (Peter Sarsgaard), um homem com quase o dobro de sua idade que claramente se interessa por Jenny e ela por ele. Através dos muitos encontros entre os dois – concertos, visita a Oxford, Paris, fica clara a sensação de que há algo errado, embora não saibamos o que.

O roteiro de Nick Hornby aliado à atuação de Peter Sarsgaard consegue passar claramente um desconforto ao espectador. David é o típico bom demais para ser verdade e a narrativa ocasionalmente dá pinceladas para manter tal pensamento em nossa mente. Tal percepção por parte do espectador é ainda ampliada pelo jeito de Jenny, que, claramente, tenta se portar como a adulta que ela não é – algo que podemos ver pela simples maneira que segura o cigarro. A personagem nos passa um tom de Alice no País das Maravilhas em todo o seu deslumbramento com aquela vida ausente de preocupações. O que ela encontra em Goldman é a sua válvula de escape para toda a pressão gerada pelos seus pais e sua escola.

O desconforto cresce ainda mais com a clara manipulação que David exerce sobre os pais da menina. Alfred Molina nos traz um pai que tem todo o seu foco no futuro da filha, seja ele um a esposa ou estudante universitária. Seus momentos de raiva que caem rapidamente na passividade perante o novo homem e poderia soar artificial, não fosse as nuances dadas ao personagem por Molina. Seja por sua aparência ou personalidade acabamos o comparando ao pai de Wendy em Peter Pan (1953) uma história que claramente também pode ser comparada àquela em questão.

O título da obra não poderia ser melhor, unindo tanto os estudos da garota com o aprendizado nada convencional que ganha através do convívio com David. É a teoria de um lado e a prática de outro, transformando Jenny em uma verdadeira adulta, tenha idade para tal ou não. Essa progressão da personagem é tornada ainda mais perturbadora conforme chegamos próximos ao clímax e as situações vividas pelos amantes se tornam mais sérias.

Assegurando a sensação de que algo está fora do lugar a fotografia trabalha através de movimentos sutis e diversos closes nos rostos dos personagens, que trazem à tona a amplitude das emoções abordadas no longa. A trilha sonora de Paul Englishby sedimenta cada temor e receio do espectador, através de suas músicas simples e bem encaixadas.

Educação é um filme sobre escolhas, sobre uma menina se tornando uma mulher. A direção de Lone Scherfig, aliada ao roteiro de Hornby consegue prender o espectador em uma espiral de tensão, deixando muito espaço para suspeitas. Possui uma progressão narrativa fluida e orgânica que somente peca nos minutos finais, através de um final que poderia ter sido mais ousado. Isso, contudo, nem de longe, atrapalha a grande experiência da obra que nos faz lembrar de cada momento em que quisemos simplesmente jogar tudo para o alto.

Educação (An Education – EUA, 2009)
Direção: Lone Scherfig
Roteiro: Nick Hornby
Elenco: Carey Mulligan, Olivia Williams, Alfred Molina, Cara Seymour, Matthew Beard, Peter Sarsgaard, Amanda Fairbank-Hynes, Ellie Kendrick, Dominic Cooper, Rosamund Pike, Kate Duchene
Duração: 100 min.

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