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Crítica | Esquadrão Suicida: Versão Estendida

por Kevin Rick
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Parece ser uma característica negativa dos filmes do Universo Cinematográfico da DC quererem fazer coisas demais, e terminar não fazendo nada direito – um problema provavelmente causado por diretores que não entendem seu material e a mão horrorosa da Warner aniquilando o autoral para se ter o “filme-estúdio”. Em Batman vs Superman, por exemplo, temos um filme que quer apresentar a rivalidade entre os dois heróis icônicos, enquanto insere Mulher Maravilha na narrativa, tenta estabelecer toda uma gênese para este Universo e, ainda por cima, tem dois vilões mal resolvidos. Esquadrão Suicida sofre do mesmo problema da falta de economia narrativa, mas em um sentido um pouquinho diferente. Se no filme de Zack Snyder a dificuldade reside na organização de vários elementos, a fita de David Ayer tem como maior obstáculo a superficialidade de tudo que é proposto.

Tudo é conversado e exposto, nada é construído. Precisa-se que Waller (Viola Davis) faça uma apresentação da equipe um por um para conhecê-los, diálogos expositivos para apresentar conflitos jogados na cara do espectador sem o respaldo do visual ou de um enredo coeso mesmo, e a inserção de flashbacks porcamente editados para criar algum tipo de vínculo que é inexistente na falta de dinâmica e aventura orgânica dos personagens. Assim, muito rebuliço foi feito em torno da versão estendida que prometia mais interação e cenas do grupo subaproveitado na missão sonífera.

Dessa forma, esta crítica abordará apenas os trechos adicionais, composto por meros treze minutos, e como se altera a obra como um todo. E a palavra da vez é: entrosamento. A versão estendida ganha várias cenas que tentam criar um relacionamento mais interesse entre seus personagens, intentando algum tipo de vínculo dramático mais aprofundado entre o esquadrão, os vilões e, bem, o próprio público que não foi conquistado pela equipe, a força motriz do filme.

Vemos a busca da afinidade do grupo nas sequências esticadas que o Pistoleiro (Will Smith) pede para Harley (Margot Robbie) “espalhar a palavra”, no sentido de um plano entre o grupo para matar Flag (Joel Kinnaman), ou então da cena do bar mais próximo do final da obra. A inserção de mais diálogos nesses blocos visa gerar um quadro mais familiar entre os personagens, mas são acréscimos que realmente não mudam a superficialidade da dinâmica entre eles, ou sequer colocam algo mais íntimo ou contextual para seus conflitos. São, na verdade, pequenos momentos de comédia que falham no tom irônico anti-heróico nunca transparente – são instantes mais próximos de um humor pastelão, do que necessariamente uma comédia de personalidade outcast como o roteiro desesperadamente quer criar.

Além disso, as poucas adições de momentos dramáticos, como Katana (Karen Fukuhara) tirando a máscara ou a ampliação do arco do Pistoleiro, não provocam qualquer tipo de impacto, pois carregam o mesmo caráter súbito dos conflitos do filme. A espadachim, sem um dedo de construção dramática o filme todo, tira a máscara e profere alguns diálogos de trauma, ou então El Diablo (Jay Hernandez) explicando sua angústia com o passado, não causam efeito, pois não existe um alicerce dramatúrgico que dê base anterior para o espectador se importar com esses momentos. Infelizmente, a versão estendida não dá mais contexto dramático para o personagens, mas apenas reforça o problema de superexposição pobre.

Ademais, ganhamos mais alguns momentos com Coringa (Jared Leto), pedidos pelos fãs e pelo próprio Leto, enraivecido com os vários cortes da sua presença na obra. Contudo, da mesma forma que acontece nas adições de interação do grupo, o acréscimo mínimo do palhaço reafirma como sua presença paralela é completamente gratuita no longa. Novamente representado em flashbacks de muleta para o arco de Harley, ganhamos mais um pouquinho de contexto para suas ações – porque a torturou em Arkham e também suas motivações para se jogarem no tanque químico -, mas que nada acrescentam para seu já pré-estabelecido relacionamento abusivo completamente deslocado dentro da narrativa. Aliás, a inserção de uma nova cena em flashback bem no meio da missão principal, pioram uma montagem que já era problemática em termo de ritmo.

Por fim, a versão estendida de Esquadrão Suicida basicamente preserva o mesmo status quo da versão original, apenas com alguns adendos que não modificam ou impactam nossa experiência de qualquer forma. Chega a ser curioso como os novos trechos não acrescentam qualquer tipo de contexto, seja para a missão ou o conflito dos personagens, sobrepondo a narrativa rasa e deslocada com mais momentos superficiais. Como tudo em torno da produção deste filme, a extensão da obra é um alongamento fútil do que já havia sido feito anteriormente, sem grandes diferenças no resultado final.

Esquadrão Suicida (Suicide Squad – EUA, 2016)
Direção: David Ayer
Roteiro: David Ayer
Elenco: Will Smith, Jared Leto, Margot Robbie, Viola Davis, Jay Hernandez, Adewale Akinnuoye-Agbaje, Cara Delevingne, Joel Kinnaman, Adam Beach, Jai Courtney, Scott Eastwood, Ike Barinholtz, David Harbour, Common, Ezra Miller, Ben Affleck, Karen Fukuhara, Kenneth Choi
Duração: 134 min.

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