Home FilmesCríticas Crítica | Esquadrão Suicida (Sem Spoilers)

Crítica | Esquadrão Suicida (Sem Spoilers)

por Davi Lima
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O diretor do filme Esquadrão Suicida chamado David Ayer é acostumado a trabalhar com o underground e com o urbano, como mostra a sua filmografia respectivamente nos filmes Corações de Ferro e Marcados Para Morrer. Seu estilo, ou quase fórmula, que ele encaixa em seus roteiros para determinada narrativa, normalmente coloca personagens realmente reprováveis, ou ao menos que tem menos espaço visual em tela como protagonistas, e os coloca no fronte sem muita vergonha dentro de uma aventura espacialmente pouco movimentada. Em Marcados Para Morrer há toda uma preferência visual e narrativo por conversas dentro de um carro de polícia para criar tramas a partir dos diálogos, enquanto Corações de Ferro promovia a claustrofobia da guerra dentro de um grupo de soldados no espaço fechado de um tanque móvel. E tudo isso é importante para compreender que, apesar da questão envolvendo mudanças do estúdio Warner Bros na produção de Esquadrão Suicida, que quis tornar a estética mais cool de apresentação dos personagens vilanescos do universo DC, o miolo da narrativa é muito estilo do diretor David Ayer, que infelizmente é esse centro de massa que tanto problematiza o filme.

Algo que o diretor prioriza muito em seus filmes são os diálogos, que nesse novo longa podem até ser bem roteirizados por Ayer para demonstrar esses vilões humanizados na cena do bar na virada para o terceiro ato, ou caminhando por uma cidade vazia sem muito rumo, sem muito propósito, como espaço do carro de polícia em Marcados para Morrer, ou o tanque em Corações de Ferro. Porém, o grande problema é a justificativa dramática para incitar os conflitos que são fugazes. O espaço urbano que tudo se desenrola nunca parece palpável para se sentir as pausas de histórias individuais, ou como os vilões parecem o encontro narrativo verdadeiro de um esquadrão em operação sem propósito. Não é à toa que uma certa virada de trama, que tem lá seu propósito, em suma não vira nada, pois toda a trama se pontua nos diálogos, algo que esvazia qualquer apelo estético ou dramas frontais com a vilã dos vilões, que se relaciona com a virada de mesa na história.

Mesmo com uma premissa pouco lógica, mas bem encaixada na fórmula Ayer de representar o mundo underground com os vilões dos grandes super-heróis da Liga da Justiça, a história engrandece um desespero insatisfatório de experiência quando o anseio final, quase como uma outra ponta de virada narrativa, é  sobrepor o heroísmo emulativo sobre uma ironia. Dentro do estilo Ayer existe uma busca por redenção dos personagens underground que ele escreve, não um maniqueísmo, em vista que não há tal conceito no universo do caráter reprovável. 

Embora pareça mudança do estúdio Warner, a história do Pistoleiro (Will Smith), da Arlequina (Margot Robbie) e do Rick Flag (Joel Kinnaman) em seus sonhos alternativos de serem heróis nas suas maneiras fora da lei é algo típico de um filme dirigido e escrito por David Ayer. No entanto, acrescentando o fator emulativo heroico em quesitos visuais como câmera lenta e sonoros da trilha sonora de ação em meio a poses, junto com a dramaticidade implementada na construção familiar do esquadrão como finalização e os conflitos com relação a vilã e a Amanda Waller (Viola Davis), a cisão com o estúdio parta do princípio de variar essa emulação como artifício irônico, ou sobrepor na ironia já constatada nos personagens e a premissa de usar vilões num esquadrão suicida.

Ou seja, independente do que Ayer tinha de interesse quando tenta tornar os dramas dos personagens em heroísmo puro, isso esvazia completamente a fórmula do diretor. A graça, desde do início do filme, que por vezes se torna redundante, é a reafirmação dos bad guys. Isso mostra claramente que é um filme indeciso em enfrentar os paradigmas de não ter heróis em tela como foco e propor uma ironia de como vilões podem fazer o mesmo que os heróis sejam motivados. A ironia está lá, mas parece sempre ser colocada como implícita por algum motivo. Os personagens em si tem suas falas irônicas e debochadas, porém quando se verbaliza escracha a obviedade da vilania dos personagens e quebra a dimensão tênue que põe o underground como fronte. Se ele é constantemente repetido o fronte é sempre recolocado, perdendo a representação diferenciada, fragilizando a ironia e expondo a premissa lúdica do Esquadrão Suicida, quando ela está constantemente sendo adaptada.

Pode-se questionar isso, até que ponto a tentativa de encaixar os vilões na fórmula de Ayer também não entrega a narrativa do diretor de tornar o underground livre em seus conceitos de heroísmo, quando a lógica do Esquadrão é o percurso intrigante em si com um final não modificável e sim despretensioso, pensando na noção suicida. Retomando Marcados Para Morrer e Corações de Ferro, não há essa noção de dispensa de personagens, mas há a associação do percurso como fundamento de entretenimento. Pondo, assim, o fator estúdio e extra filme na discussão, como já foi citado, a escolha do diretor e o que se vê em tela parecem conversar, mas a execução básica de montagem da narrativa, ou desenvolvimento espacial para se trabalhar o estilo, junto com o heroísmo emulativo de fato se tornando um anseio concreto, especialmente do personagem do Pistoleiro, entrega uma indecisão na mesma proporção da incompreensão que o espectador teve ao entender o mapa da cidade e saídas conflituosas deus ex-machina que buscam aumentar o perigo.

Desse jeito, entre o bicho de pelúcia do Capitão Bumerangue (Jai Courtney) e a dança da Magia (Cara Delavigne), surge um filme que torna as elipses temporais um escape para viradas de atos na narrativa e planos de resgate que se portam inúteis de maneira arbitrária em meio a um Coringa (Jared Leto) com uma trama paralela que só o público mais atento poderá conectar os pontos. Ainda assim, tudo parece estilosamente David Ayer em seu modo de trabalhar diálogos, histórias passadas com justificativas acinzentadas de personagens reprováveis, e a redenção no próprio jeito underground. Mantém-se o infelizmente do primeiro parágrafo, porque, afinal, só parecem vilões sem espaço e sem propósito tentando ser heróis, apenas com uma película visual e característica dizendo alguma maldadezinha implícita que não torna nenhum Esquadrão Suicida

Esquadrão Suicida (Suicide Squad) – EUA, 2016
Direção: David Ayer
Roteiro: David Ayer
Elenco: Will Smith, Margot Robbie, Jared Leto, Viola Davis, Joel Kinnaman, Jai Courtney, Jay Hernandez, Adewale Akinnuoye-Agbaje, Cara Delevingne, Karen Fukuhara, Adam Beach, Ben Affleck, Ezra Miller
Duração: 130 minutos

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