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Crítica | Fábulas: Vol. 7 – Noites (e Dias) da Arábia

por Ritter Fan
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estrelas 4

Obs: Há spoilers dos volumes anteriores, cujas críticas você pode ler aqui.

noites e dias da arabia fabulas capa plano criticoO sétimo volume de Fábulas começa logo com o arco que dá nome a ele e que é resultado de pistas deixadas aqui e ali anteriormente e, também, da entrada de Mogli na história conforme vimos no interlúdio do fantástico arco Terras Natais, parte do volume anterior. Em seguida, em história vista sob o ponto de vista do inimigo, Bill Willingham aborda um romance inusitado com o singelo título A Balada de Rodney e June. Esse mini-arco de dois números não se relaciona diretamente com o anterior, ainda que faça algumas referências aqui e ali à campanha do Adversário contra os fábulas árabes nas Terras Natais.

Como tem sido o padrão de minhas críticas, a nota acima é a geral, para o volume como um todo (não necessariamente uma média) e, abaixo, as notas são para cada arco, de maneira que o leitor possa ter uma impressão mais precisa de cada história de Willingham.

Noites (e Dias) da Arábia

estrelas 3,5

O primeiro grande fruto da introdução de Mogli no interlúdio de Terras Natais é a chegada de Simbad e sua entourage à Cidade das Fábulas em Nova York. A ação desenfreada que vimos no volume anterior abre espaço para uma abordagem de conflito de ideias e políticas com muita intriga e diplomacia.

A questão é que os fábulas árabes têm um status bem diferente dos demais que procuraram refúgio entre os mundanos. E a primeira diferença é que só mais recentemente eles foram atacados pelo Adversário (por mais recentemente, leia “mais de uma década”), algo que o próprio Adversário já havia mencionado em Terras Natais. Portanto, seus hábitos originais ainda não se adaptaram à vida no mundo normal e eles mantém a estrutura monárquica e radical. São extremamente ricos (a casta superior, claro), ainda têm escravos, harém e tratam todos os demais da maneira mais pedante possível, como se todos ao redor fossem inferiores. Essa empáfia é tratada de maneira jocosa por Willingham, gerando ótimos momentos na história, uma deles logo na abertura com a limusine mágica de Simbad parada em frente ao prédio do governo da Cidade das Fábulas aguardando que eles sejam recebidos com toda a pompa e circunstância, somente para Papa-Moscas – que é o servente! – servir de cicerone.

Além disso, Willingham se diverte nas reverências aos árabes, sempre tratados com diversos títulos antecedendo cada frase. O autor até consegue arrumar uma função para o Rei Cole, não mais prefeito da Cidade, pois ele é o único que fala fluentemente o árabe e sabe como tratar os convidados que o Príncipe Encantando nem mesmo se lembrava que chegariam.

O choque cultural toma a maioria das páginas desse arco que funciona bem dentro de um jogo maior e de longo prazo que culminaria no contra-ataque dos fábulas nas Terras Natais que aconteceria em volume posterior. Mas a abordagem dos fábulas árabes também é importante para ampliar sobremaneira o universo criado por Willingham, já que as 1001 Noites contém material quase infinito de contos-de-fada para ele usar.

O grande inimigo é, claro, o vizir de Simbad, que usa a oportunidade para tentar um golpe de estado por intermédio do uso de um poderosíssimo gênio da garrafa. É assim que também temos a oportunidade de realmente entender o grau de poder do Senhor Norte, pai de Bigby que está ensinando os netos a controlar seus poderes lá na Fazenda e também da excelente Frau Totenkinder (nome fantástico, que pode ser traduzido do alemão como “assassina de crianças”), uma bruxa que é a amálgama de diversas bruxas fabulescas, especialmente a que tenta jantar João e Maria. O mundo efetivamente mágico de Fábulas começa a ganhar corpo aqui, elemento esse que será essencial para o plano de ataque contra o Adversário.

No final das contas, Noites (e Dias) da Arábia é uma história enganosamente simples. Em sua superfície, é uma narrativa de traição, mas, se olharmos além disso, veremos as críticas de Willingham aos radicais religiosos, à intolerância e também uma pitada de ironia em relação aos hábitos preconceituosos contra muçulmanos em geral. Não há, porém, uma evolução tão grande na história maior que o autor está contando desde o primeiro volume.

A arte de Mark Buckingham continua firme e forte, com a vantagem que, neste arco, ele tem todo um grupo novo de fábulas para desenhar. Ele consegue dar identidade própria aos fábulas árabes, puxando um pouco para o estereótipo – mas que reflete muito da realidade e ele nunca é desrespeitoso – e estabelecendo um mini-universo bem particular dentro do mega-universo criado por Willingham. É particularmente criativo como Buckingham desenha o gênio da lâmpada e a Bagdá dos contos-de-dada.

A Balada de Rodney e June

estrelas 4,5

Em sua simplicidade, A Balada de Rodney e June é simplesmente genial. Esqueçam os fábulas. Agora o foco é nos dois personagem que batizam o arco. Eles são, respectivamente, um soldado de madeira e uma carpinteira também de madeira que, inusitada e inesperadamente, se apaixonam. O primeiro número é sob o enfoque de Rodney e, o segundo, de June.

Rodney é um leal soldado das forças do Adversário na terra das fábulas que, depois de uma feroz luta no começo da invasão das terras árabes, tem sua perna mastigada por uma manticora (metade leão, metade escorpião, da mitologia persa). Ao ser levado para a carpintaria de June para ser consertado, o estranho e hesitante caso de amor começa e é relatado em forma de cartas por Rodney diretamente ao Adversário, já que Rodney deseja tornar-se humano para consumar seu amor.

Mas a grande jogada de Willingham é usar essa bela história para nos permitir acesso à forma de pensar dos homens e mulheres feitos da madeira sagrada do Adversário. Eles são considerados como o ponto alto da hierarquia e, por isso, são respeitados e temidos por todos. E, ao entrarmos na mente de Rodney – e, por tabela, de seus colegas soldados – entendemos como eles se sentem superiores a todas as criaturas “de carne”. É uma versão detalhada dos diálogos que vimos em A Marcha dos Soldados de Madeira e do que aprendemos em Terras Natais.

Mesmo sendo uma história “separada”, Willingham não perde a oportunidade de integrá-la completamente ao universo que criou, com um ótimo final que pode surpreender alguns. A atmosfera de “amor no ar” é mantida o tempo todo, apesar de todas as barbaridades que lemos do começo ao fim, bem no melhor estilo do autor.

Jim Fern é o desenhista e ele empresta um ar leve à história, quase que como um conto-de-fadas (algo por si só irônico). Minha única reclamação – e isso não tem relação com Fern e sim com o letrista Todd Klein – é em relação ao uso de letra cursiva para a narração de todo o arco. Faz todo sentido, claro, já que lemos primeiro uma carta de Rodney e, depois, o diário de June, mas o fato é que a letra usada é de difícil leitura e exige atenção. Mas, esse é um pequeno preço para o deleite que é ver o amor desses seres de madeira florescer.

Fábulas: Vol. 7 – Noites (e Dias) da Arábia (Fables: Vol. 7 – Arabian Nights (and Days), EUA – 2005/6)
Contendo: Fábulas #42 a #47, publicados originalmente entre dezembro de 2005 e maio de 2006
Roteiro: Bill Willingham
Arte: Mark Buckingham (#42 a #45), Jim Fern (#46 e #47)
Arte-final: Steve Leialoha (#42 a #45), Jimmy Palmiotti (#46 e #47)
Cores: Daniel Vozzo
Letras: Todd Klein
Capas: James Jean
Editora (nos EUA): Vertigo Comics
Editora (no Brasil): Panini Comics
Data de publicação no Brasil: janeiro de 2011 (encadernado)
Páginas: 148

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