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Crítica | Fábulas – Vols. 1 a 11

por Ritter Fan
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estrelas 5

Fábulas, para quem não sabe, talvez seja uma das melhores histórias em quadrinhos em continuidade de hoje em dia. Seu primeiro número saiu em 2002, pela Vertigo, selo menos “super-heroístico” da DC Comics e, hoje, na data de publicação dessa crítica, ela está no número 139, com seu autor, Bill Willingham, já tendo anunciado que a série será encerrada em breve, exatamente no número 150.

Mas tamanho foi o sucesso de Fábulas que há duas graphic novels separadas, quatro séries spin-off e um livro em prosa, isso sem contar com The Wolf Among Us, game da Telltale Games de enorme sucesso. Com o anúncio de seu final iminente e como Fábulas está sendo republicada pela Panini em volumões de 135 páginas, decidi chamar a atenção de nossos leitores que possam talvez não conhecer essa obra-prima. Fiquem tranquilos, pois, apesar de tratar dos 11 primeiros volumes da obra (# 1 a 75, para ser exato), não revelarei nenhum segredo da trama.

Fábulas, como salientei, foi criada por Bill Willingham e conta a história dos personagens de famosos contos de fada que tiveram que fugir de suas respectivas terras por causa do avanço do terrível e misterioso Império, regido pelo Adversário. Quem é o Adversário? Bom, isso não posso contar, mas adianto que é um personagem de fábula muito famoso e querido e alguém que vocês jamais desconfiariam. Hoje, essa premissa pode parecer batida, com séries de televisão como Once Upon a Time e Grimm na televisão e quadrinhos que partem da mesma ideia, mas Fábulas foi quase uma precursora, mas ela mesmo muito claramente bebe de uma digníssima fonte, A Liga Extraordinária, de Alan Moore.

Pois bem, os personagens de Fábulas que sobreviveram ao inexorável avanço do Adversário, fugiram para Nova Iorque (claro, onde mais?) e lá se estabeleceram há séculos, vivendo muito bem, na chamada Cidade das Fábulas. Há, também, uma fazenda no interior do estado onde vivem os personagens que são animais e que não conseguem reverter para a forma humana (os ursos da história de Cachinhos de Ouro, os porquinhos de Os Três Porquinhos e diversos outros).

O primeiro número começa com o assassinato de Rosa Vermelha, a irmã de Branca de Neve (sim, irmã; continuem lendo e entenderão) e a trama conta a investigação que se segue, capitaneada por ninguém menos do que o próprio Lobo Mau, chamado de Bigby (uma bacana contração de Big Bad Wolf). Mas o assassinato de Rosa Vermelha é, literalmente, a ponta do iceberg de um grande (enorme mesmo) arco de histórias criada por Willingam (que escreveu tudo) e que, na verdade, nos conta sobre a vida dos exilados e, também, daqueles que ficaram nos mundos dominados pelo Adversário.

São 11 volumes para Willingham chegar ao final desse grande arco narrativo inicial e, finalmente, começar outro de verdade. O que se vê, ao longo dos volumes, é a criatividade do autor completamente solta, com o uso dos mais diversos e sensacionais personagens cujas histórias ouvimos nossos pais contar ao pé de nossas camas.

No entanto, as aparências enganam, e muito. Aqueles que esperam algo leve e de fácil digestão não encontrarão isso em Fábulas. A construção da trama por Willingham é complexa, com dezenas de personagens e todos eles tratados de maneira bem diferente do que estamos acostumados, às vezes até de maneira mais próxima aos contos originais do que queremos crer, outras vezes com a criação de histórias pregressas que, se não traem o original, o perverte deliciosamente para fins narrativos.

Para se ter um ideia sobre o que Fábulas nos oferece, vejam a descrição de apenas um punhado dos personagens principais:

– Branca de Neve – Uma subprefeita separada de seu príncipe, fria e mandona;

– Rosa Vermelha – Irmã rebelde de Branca de Neve (irmã, como assim irmã, vocês perguntarão. Pois bem, os irmãos Grimm criaram duas fábulas com o mesmo personagem, sendo que, numa delas, Rosa Vermelha era a irmã mesmo de Branca de Neve, em uma história sem os anões);

– Bigby Wolf – Sim, o lobo mau, agora transformado em humano, mas podendo reverter à forma animal na hora que quiser. É uma espécie de Wolverine de Fábulas;

– João das Fábulas – Um malandro que encarna todos os personagens com nome de “João”, tais como João e o Pé de Feijão e Jack (João) Frost;

– Cinderella – Uma pacata dona de loja de sapatos que, na verdade, é uma super espiã e assassina treinada por Bigby;

– Príncipe Encantado – Um príncipe extremamente mulherengo que já foi casado com Branca de Neve, Cinderella e Briar Rose (a Bela Adormecida).

A lista de personagens, na verdade, é interminável, pois tem a Bela, a Fera, a bruxa que capturou João e Maria (Frau Totenkinder – o nome em alemão é ótimo: Senhora Mata Crianças), Ali Babá, Simbad, Mowgli, Hensel (João) e Gretel (Maria), Chapeuzinho Vermelho, o sapo que virou príncipe quando foi beijado, os já mencionados Três Porquinhos, Baghera, Shere Khan e por aí vai.

A interação entre eles é sensacional e as histórias são brilhantes, com roteiros que se entrelaçam, mantêm a atenção e são pontilhados por um cuidadoso trabalho de pesquisa por parte de seu autor. Cada nome, cada situação, cada menção a fato pregressos é relacionado com algum conto de fada famoso ou extremamente obscuro. Não chega ao nível literário de A Liga Extraordinária, mas é um trabalho excepcional, de se tirar o chapéu.

O grande arco, que acaba no volume 11, trata da batalha entre os personagens de fábula bons e os maus, sendo que todos os bons são ao mesmo tempo maus e vice-versa. Não têm preto e branco nessa história. Só tons de cinza (e mais de 50). Ah, esqueci-me de salientar: cabeças e sexo rolam, o que torna as histórias impróprias para os pequenos.

Dentro desse conjunto de arcos, que formam um épico arco único, conhecemos várias histórias de origem e de fuga do Império (a de Chapeuzinho Vermelho é especialmente interessante e surpreendente). Nada é sem propósito e tudo chega a um final muito satisfatório e bem amarrado com tudo que veio antes.

Os desenhos de Mark Buckingham (que faz a grande maioria deles ao longo desse 11 volumes) são lindos e conseguem, de maneira muito eficiente, atualizar todos os grandes personagens de contos de fada. Ele trabalha com traços muito distintivos, que conseguem capturar a essência dos personagens e, ao mesmo tempo, atualizando-os, deixando-os com características próprias e inconfundíveis. Como se isso não bastasse, ele trabalha de maneira a levemente alterar o estilo de desenho ao tratar dos personagens em Nova Iorque e na sua terra original, emprestando um ar mais exótico e, bem, de conto de fadas, a esse último. Apesar de Buckingham não ser particularmente ousado na organização de seus quadros, ele faz um trabalho correto que não dispersa a atenção do leitor.

E as capas de James Jean, que as desenhou até o número 81, são todas absolutamente magníficas (e sim, a hipérbole é plenamente justificável, nesse caso) ao ponto de um volume só com elas ter sido publicado nos EUA. Pintadas e não só desenhadas, todas elas tem uma qualidade de “sonho”, ao mesmo tempo que muito claramente representam o conteúdo de cada número.

Quem ainda não mergulhou no universo de Fábulas tem essa oportunidade agora, com os encadernados da Panini. São histórias que não devem ser perdidas!

Fábulas – Vols. 1 a 11 (Fables – Vols. 1 to 11, EUA – 2002 a 2005)
Edições #1 a 75

Roteiro: Bill Willingham
Arte: Mark Buckingham e outros; James Jean (capas)
Editora nos EUA: Vertigo Comics
Editora no Brasil: Panini Comics
Arcos contidos nestes volumes: Lendas no Exílio, Revolução dos Bichos/Fazenda Selvagem, O Livro do Amor, A Marcha dos Soldados de Madeira + O Último Castelo, Os Ventos da Mudança, Terras Natais, Dias e Noites das Arábias, Lobos, Filhos do Império, O Bom Príncipe, Guerra!.

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