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Crítica | Fabulosos Vingadores: Ragnarok Now

por Luiz Santiago
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estrelas 4,5

Spoilers!

Rick Remender está de parabéns. O que ele tem construído aqui em Fabulosos Vingadores é, ao mesmo tempo, uma saga com uma mensagem digna de nota sobre vingança, eugenia, segregação e ideologias de extermínio com uma instigante história de equipes, posto que ao final deste arco, quanto enfim chega o Ragnarok e a Terra é destruída (até agora, a edição #17 está ao lado da edição #9 como as melhores deste volume um de FV), os heróis mais relevantes — e vivos — envolvidos direta ou indiretamente com os grupos aqui mostrados se posicionam para salvar o planeta e impedir que o Celestial Exitar, o Executor pisoteie o planeta azul. Mas acontece. E é grandioso, fantástico. Incrível.

Independente de como a saga caminhará para o desfecho a partir da edição seguinte, com início do arco Vingar a Terra, é necessário darmos todos os créditos à capacidade de Rick Remender e seu time de artistas (exceto Salvador Larroca, na edição #12) em compor um cenário tão grandioso, com tantos times paralelos às vezes com objetivos/intenções bem distintas, de forma orgânica e sem nos dar a incômoda impressão de que parte daquela gente toda estava ali apenas para figuração.

O plano dos Gêmeos do Apocalipse agora é um misto de missão de salvamento (preconceituosa e psicótica) e vingança contra os horrores que eles sofreram nos campos do Caveira Vermelha, mas sob imposição de Kang, seu pai adotivo. Muito mais do que a discussão sobre aceitação de diferenças e tratamento das pessoas pelo que elas são e não pelo estereótipo ou pensamento superficial que se pode fazer delas, este arco discute o uso das pessoas (e de toda a máquina social/civilizacional/política) para alcançar objetivos pessoais, muitas vezes sem escrúpulos e que eventualmente acabará em uma espécie de dominação.

Ao passo que mutantes e humanos caem, um por um (e é importante dizer que até a edição #12 estávamos lidando com os conhecidos personagens da Terra 616, mas da edição #13 em diante, os heróis em cena são da nova Terra-13133, inclusive os que morrem… Nota interessante é que a Terra destruída pelo Celestial é mesmo a 616), vemos que o roteiro questiona as motivações e vai lançando diversas sementes que podem servir como respostas ou outras perguntas, dando um contexto filosófico cada vez maior à obra. Afinal, fazer inocentes ou um povo “do futuro” pagar uma “dívida histórica” é válido? Existe mesmo “dívida histórica”? Erros de ancestrais devem fazer descendentes pagarem pelo que não fizeram? Ordens estabelecidas no passado só podem mudar através da quebra e separação completa entre as forças envolvidas ou no holocausto de uma delas? É possível a coexistência pacífica?

As perguntas se estendem e ganham maior valor sentimental à medida que vamos os heróis tombarem, muitas vezes dentro de uma linha de eventos em que um não sabe o que o outro pretende fazer (caso que envolve Magnum, Feiticeira Escarlate e Vampira). Falta de confiança, diálogo e diplomacia são as grandes feridas e os principais fantasmas que assombram os heróis e até mesmo os vilões da série, afinal, o grande evento aqui foi construído através o tempo e tem implicações em diversos anos, realidades e lugares. O mal, a vingança e a intolerância parecem ultrapassar barreiras cósmicas e deixar um rastro de morte e rancor. E no final das contas… para quê, se no julgamento do Tempo e da Natureza (o Celestial aqui é uma metáfora perfeita para ambos) todos serão considerados indignos e vão morrer (e igualmente matar a Terra)?

Dentro de todo esse tesouro de ideias e em meio a muita pancadaria e sangue, temos a partir da edição #13 artes sensacionais ilustrado o que acontece. Podemos excluir aqui o fraquíssimo trabalho de Salvador Larroca na edição #12 e ficarmos com os desenhos de Daniel Acuña (#13) e Steve McNiven #14 a 17), elogiáveis desde o desenho para as expressões de dor, sofrimento e ira dos personagens até a grandiosidade necessária para desenhar veículos, aparatos e cenas cósmicas. Além de tudo, Ragnarok Now é um espetáculo para os olhos.

A conclusão de Odin, em um diálogo com Thor que mais parece a leitura de uma tábua do destino é a problematização do próprio tema da saga, ou pelo menos do tema principal deste arco. Afinal, depois de fazer tão mal a si mesmo e ao mundo onde vive, uma espécie inteira deve ou não ser destruída?

Fabulosos Vingadores #12 a 17: Ragnarok Now (Uncanny Avengers Vol.1 #12 – 17) — EUA, 2013 – 2014
Roteiro: Rick Remender
Arte: Salvador Larroca (#12), Daniel Acuña (#13), Steve McNiven (#14 a 17)
Arte-final: Salvador Larroca (#12), Daniel Acuña (#13), John Dell (#14 a 16), Dexter Vines (#15), Jay Leisten (#15 a 17)
Cores: Frank Martin (#12), Daniel Acuña (#13), Laura Martin(#14, 15, 16), Justin Ponsor (#17), Matt Milla (#17), Lare Molinar (#17).
Letras: Clayton Cowles
Capas: John Cassaday, Laura Martin, Steve McNiven, Justin Ponsor, Dave McCaig
6 edições de 24 páginas cada uma.

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