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Crítica | Fabulosos Vingadores: Vingar a Terra e Prelúdio para EIXO

por Luiz Santiago
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estrelas 4

Spoilers!

A presente crítica analisa o desfecho deste Volume 1 de Fabulosos Vingadores, juntando os eventos dos arcos Vingar a Terra (#18 a 22), o isolado Annual #1 e o arco final do volume, Prelúdio para EIXO / AXIS Prelude (#22 a 25). Você pode conferir as críticas para os arcos anteriores deste volume, disponibilizadas abaixo:

A proposta de Rick Remender para os Fabulosos Vingadores termina de maneira épica, preocupante e dentro de uma perspectiva de ciclo histórico que raramente se vê mostrado com tanta seriedade nos quadrinhos mainstream. A iniciativa dos Gêmeos do Apocalipse gera uma revanche esperada mas não termina de forma clichê ou sem consequências sérias para os que ficam. Claro que nem todas as perguntas são respondidas — afinal, é preciso sobrar mistérios para alimentar a continuidade — mas as principais reflexões levantadas desde a edição #1 deste volume se encerram em Avenge the Earth.

Escrito por Remender e desenhado por Daniel Acuña, Vingar a Terra é um arco que demonstra franco desespero por parte dos heróis e nos coloca no utópico Planeta X da Terra-13133, onde o encerramento paradisíaco dos mutantes, após a destruição da Terra é um contentamento que deixa memórias, fantasmas e uma grande culpa nos que permanecem vivos. O leitor descobre aqui a narração em off do Destruidor nas edições anteriores e ao fim do arco praticamente chora juntamente com Janet o desaparecimento da filha deles após ser raptada por Kang, que planejara absolutamente todos os passos dos Gêmeos, a quebra dos 7 futuros possíveis e a tentativa de assegurar que a única linha do tempo que permanecesse ativa fosse, enfim, a da Dinastia Kang.

Se por um lado toda essa linha de narração é bastante inteligente — inclusive a mudança de perspetiva dos heróis da nossa Terra para os do Universo do Planeta X e a reintegração dos nossos heróis antes de contra-atacarem –, lamentamos e reclamamos um pouco o fato de tudo isso parecer levemente conveniente, um pouco batido, até. O plano dentro do plano funciona bem, mas a exposição final dele não deixa de ser confusa e ganhar, nas edições finais de Vingar a Terra, um andamento que não só requer muita atenção do leitor mas também muita boa vontade para aceitar determinadas explicações ou abruptas mudanças no andamento da história. Se estivesse avaliando em separado, este arco ganharia 3,5 ao final. A história recebe um bom término e não perde a composição épica, tanto no texto quanto na arte, mas há algumas falhas de abordagem e execução nessa reta final que simplesmente nos impedem de gostar dele por completo.

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E talvez por perceber justamente esse tipo de recepção por parte dos críticos ou dos próprios leitores é que Rick Remender aproveitou o Anual #1 (4 estrelas, a meu ver) da revista para, ao lado de Paul Renaud, criar uma história que é pura ironia metalinguística. Centrada no Mojoverse, a trama coloca a batalha de Mojo para criar um programa de TV de qualidade que agradasse ao público e aos críticos. Nada que não conheçamos muito bem, não é mesmo?

Os diálogos iniciais praticamente encobrem referências diretas a todo o núcleo de Fabulosos Vingadores Vol.1 até a edição #18, ou seja, o grosso da história e suas reviravoltas ironizadas com alfinetadas a analistas que não entendem o que leem mas são orgulhosos demais para admitir isso e um público acéfalo que vai na conversa desses “sábios” e repetem um discuso sem nexo sobre uma obra que não era para ter significado nenhum além de diversão. Um baita puxão de orelha do roteirista!

Inteligente, divertido, muitíssimo bem ilustrado, esse anual, mesmo não trazendo nenhum acréscimo à linha corrente de eventos em FV, certamente é uma leitura válida, crítica e que pode gerar discussões paralelas bem interessantes à indústria dos quadrinhos e ao próprio trabalho do autor na série principal dos Fabulosos.

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E com o excelente Prelúdio ou Marcha ou Caminho para EIXO (4,5 estrelas, na minha opinião) chegamos ao final deste primeiro volume de Uncanny Avengers. Já no início, o leitor fica impressionado com a arte de finalização mais rústica, luzes duras, sombras brancas e estilo de desenho de mão assinado por Sanford Greene na edição #23, a melhor arte deste arco final e que combina muito com essa perspetiva de “recomeço” após a intensa luta contra o Caveira Vermelha, os Gêmeos do Apocalipse, os anos no Planeta X, a volta no tempo para salvar a Terra e mais um montão de coisas que acontecem aqui.

Trabalhando com consequências e traumas, Remender coloca um cenário de suposta paz e descanso no início para em seguida trazer mais um problema, ou a continuação dos problemas enfrentados desde A Sombra Vermelha. A grande questão aqui é: e se depois de lutar muito por uma causa e parte dos que lutaram sair da batalha com sequelas e, aquilo pelo que se lutou simplesmente não der certo? E se a ameaça de segregação for uma semente inerente à vida inteligente e querer surgir de qualquer forma, independente do que se faça a respeito? Esta foi a impressão que eu tive da amarga recepção dos mutantes e humanos heróis que saíram da batalha contra Kang em Vingar a Terra.

Com Solaris em forma quase etérea, o Destruidor com um lado do rosto desfigurado, Wolverine sem o fator de cura (tema trabalhado em Três Meses Para Morrer), o Capitão América velho (por algo que não tem a ver com Kang e sim com O Prego de Ferro) e Vampira sem o controle de seus poderes, estando com Simon, o Magnum, preso em sua mente, o grupo agora é jogado quase que de imediato — e novamente! — nas mãos do Caveira Vermelha. É quase impossível não sentir pena dos heróis ver praticamente tudo o que não queriam acontecer de novo, e a coisa só piora quando percebe-se que o Caveira está aos poucos tentando domar todas as habilidades de Xavier, de quem ele roubou o cérebro lá na edição #1.

A edição #24 traz uma ótima arte de Salvador Larroca (de quem eu reclamei muito no arco anterior e que me fez pagar a língua aqui, com um trabalho que supera bastante o de Daniel Acuña na edição #25) e serve como um reinício de ciclo. Já no bloco seguinte, o leitor está diante de uma das mais impiedosas e fortes lutas e diálogos internos desses últimos anos envolvendo Vingadores e X-Men. A Feiticeira Escarlate muda completamente de comportamento quando encontra Magneto e o mutante-pai simplesmente dá um show, como sempre, terminando por esmagar a cabeça do Caveira Vermelha para ver, na última página da edição, surgir o Massacre Vermelho em meio a um “campo de reeducação para mutantes” em Genosha. Está lançada a semente para a saga EIXO, que virá logo em seguida.

O Volume Um de Fabulosos Vingadores lançou um olhar válido e sempre necessário para a constante ocorrência de grupos que desejam a separação de pessoas que julgam “inferiores, sujas, indignas, condenadas” daquelas ditas “normais”. Com batalhas épicas, viagens no tempo, realidades alternativas e intensas brigas entre duas das mais notáveis equipes de super-heróis da Marvel, o arco serviu como principal tapete para a saga EIXO e é como consequência de seus eventos que a linha desses heróis seguirá daqui para frente.

  • Arco seguinte: este é o fim do Volume 1 de Fabulosos Vingadores, que contou com 25 edições. O Volume 2 (2015) já está localizado nos eventos pós-EIXO e conta com apenas 5 edições, em um arco denominado Counter-Evolutionary.

Fabulosos Vingadores #18 a 25: Avenge the Earth (Uncanny Avengers Vol 1 #18.NOW – 25: Avenge the Earth / AXIS Prelude + Annual #1) — EUA, 2014
Roteiro: Rick Remender
Arte: Daniel Acuña (#18 a 22 e 25), Paul Renaud (Anual), Sanford Greene (#23), Salvador Larroca (#24)
Arte-final: Daniel Acuña (#18 a 22 e 25), Paul Renaud (Anual), Sanford Greene (#23), Salvador Larroca (#24)
Cores: Daniel Acuña (#18 a 22 e 25), Dean White (#21, 23, 24), Paul Renaud (Anual)
Letras: Clayton Cowles
Capas: Daniel Acuña, Arthur Adams, Paul Renaud
24 páginas (cada edição).

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