Home TVEpisódio Crítica | Fargo – 3X06: The Lord of No Mercy

Crítica | Fargo – 3X06: The Lord of No Mercy

por Guilherme Coral
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estrelas 5,0

  • Contém spoilers. Leiam, aqui, a crítica do filme original e, aqui, as críticas das temporadas anteriores.

Um dos aspectos que diferencia Fargo das outras séries de televisão, garantindo sua identidade é a quase total imprevisibilidade de seu roteiro. Noah Hawley constrói sua narrativa de forma linear, inserindo gigantescas doses de coincidências, com as peças do tabuleiro se movimentando basicamente à base da sorte. Embora enxerguemos claramente o plano do realizador da temporada, não há como prever qual será o próximo passo, visto que, a cada episódio, alguma loucura pode acontecer, mudando completamente o cenário que acompanhamos até então. The Lord of No Mercy é um desses capítulos que vira tudo de cabeça para baixo, ainda que seja, por excelência, um episódio funcional.

Depois do dramático desfecho de The House of Special Purposeera de se esperar que o sexto capítulo da série começasse a partir de tal ponto e é justamente o que ocorre. Ray se vê sentado na escada, pensando sobre os homens que espancaram sua amada. Desde já Noah Hawley brinca conosco, dando a  impressão de que a raiva está continuamente crescendo dentro do personagem. Ele pega a arma dentro da geladeira e descobrimos que a vingança já fora discutida entre ele e Nikki. Enquanto isso, Emmit se encontra à total mercê de V.M. Varga, que, rapidamente, encontra uma maneira de se livrar do representante da Receita. Tudo se complica ainda mais quando as policiais Gloria e Winnie vão para a empresa de Emmit e revelam que Ray pode ter intencionado assassinar seu irmão.

A narrativa de Fargo já se acelerou consideravelmente no episódio anterior e, aqui, ela continua a todo o vapor, seguindo por caminhos inesperados após Emmit descobrir sobre a suposta tentativa de Ray roubá-lo ou matá-lo. Um confronto entre os dois irmãos estava, sim, dentro de nossas expectativas, mas o resultado dramático, puramente acidental, claramente não era algo que esperávamos. Hawley demonstra, aqui, grande coragem em matar um de seus personagens principais e, novamente, brinca com nossas expectativas, já que tudo indicava que Nikki iria morrer e Ray sobreviveria de alguma forma. Mas, como dito, tudo parece ser pautado na sorte e azar dos personagens.

Dito isso, um dos que é mais atingido pelo azar é o próprio Varga, que tem na sua cola uma policial que simplesmente não existe no “mundo digital”. Sendo totalmente old school, Gloria é tão invisível quanto ele. Evidente que, aqui, uma dose de suspensão de descrença é necessária – o fato do Google não ter encontrado nada sobre nenhuma Gloria Burgle é intencional a fim de se criar um choque e, claro, evitar uma sequência mais longa de V.M. indo de resultado em resultado, sem conseguir exatamente o que quer. Hawley opta pela saída mais simples e, dentro do que fora estabelecido dentro da série, ela funciona. Dessa forma, como os indivíduos nas histórias que ele contara no início do episódio, ele se torna vítima da coincidência, uma das grandes forças motrizes por trás da série.

Nesse ato final de Ewan McGregor interpretando dois personagens não há como sequer tecermos breves comentários sobre sua atuação. Semelhantes e muito diferentes ao mesmo tempo, o ator realmente consegue nos passar a ideia de que Emmit e Ray são irmãos. Em seu discurso, independente de qual lado estamos falando, existe peso, o drama de anos de brigas e reconciliações, que explode em uma curta e sanguinária catarse. São duas pessoas hesitantes que perderam o rumo de suas vidas e, mesmo no silêncio e imobilidade de Emmit, enxergamos o que um irmão sente pelo outro como algo sutil e não escancarado. Evidente que a direção de Dearbhla Walsh e a edição de Henk Van Eeghen estão de parabéns, visto que se atentam para os mais perigosos detalhes, como o reflexo do rosto de um deles no vidro, cautelosamente alternando entre o plano, contra-plano e planos médios, para mascarar que, na realidade, é a mesma pessoa em dois papéis diferentes.

The Lord of No Mercy é um episódio funcional, que movimenta a trama dessa terceira temporada consideravelmente, ao mesmo tempo que se preocupa com a forma como tudo é retratado. Com fortes doses de tensão, que proporcionam constantes quebras de expectativa, o roteiro de Noah Hawley não cansa de nos impressionar, nos fazendo rir, nos emocionando e paralisando, provando como essa série mantém seu alto padrão de qualidade. A locomotiva está a todo o vapor e realmente não sabemos qual é o seu destino final.

Fargo – 3X06: The Lord of No Mercy — EUA, 24 de maio de 2017
Showrunner:
Noah Hawley
Direção: Dearbhla Walsh
Roteiro: Noah Hawley
Elenco: Ewan McGregor,  Carrie Coon,  Mary Elizabeth Winstead, Goran Bogdan,  David Thewlis,  Michael Stuhlbarg,  Shea Whigham, Scoot McNairy,  Olivia Sandoval, Linda Kash
Duração: 46 min.

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