Home TVEpisódio Crítica | Fear the Walking Dead – 2X08: Grotesque

Crítica | Fear the Walking Dead – 2X08: Grotesque

por Ritter Fan
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estrelas 3,5

Obs: Há spoilers. Leia  a crítica de todos os episódios da série, aqui.

Shiva separou Nick (Frank Dillane) do resto de sua família e agregados, colocando-o em caminho próprio, pelo menos por enquanto. Com isso, apesar de não ser surpreendente, vejo como corajosa a decisão do showrunner Dave Erickson de começar a segunda parte da 2ª temporada com um episódio solo de Nick em uma jornada suicida até Tijuana. Não existe uma razão muito objetiva (além da premissa suicida em si) para essa decisão do personagem, mas se os sete episódios anteriores deixaram algo muito claro é que o rapaz não consegue se achar no seio familiar e se sente talvez mais à vontade entre os mortos-vivos do que em qualquer outro lugar.

Essa metáfora foi trabalhada de maneira razoável anteriormente e fico pensando o quão mais será possível esticá-la. Se Grotesque configurar-se com o encerramento desta busca existencial de Nick, o episódio terá seu valor. Caso contrário, será apenas mais um entre tantos de uma série com enorme potencial desperdiçado. Mas creio que cada episódio deve ser avaliado primordialmente por seus méritos próprios e, aqui, o trabalho de direção de Daniel Sackheim e o roteiro de Kate Barnow (do fraco episódio We All Fall Down), além da atuação de Dillane formam um conjunto coeso e eficiente, ainda que não particularmente memorável, algo que vem perigosamente tornando-se um padrão no spin-off.

Tentar racionalizar as decisões tomadas por Nick é perder tempo. Sua espiral é de loucura; um suicida procurando a morte (isso é até irritantemente dito com todas as letras pelo médico que o trata ao final, em um momento for dummies do roteiro); um jovem que não vê mais saída para sua vida e está pouco se importando com o que acontecerá com ele. Quando o episódio começa, algum tempo – mas em tese não muito – se passou desde o final de Shiva, em que o vemos saindo da fazenda de Celia como um zumbi. Ele está em uma casa na mesma região e logo parte para sua viagem sem volta até Tijuana que já era extremamente perigosa sem monstros comedores de carne humana, imagina agora.

A forma como ele encara a jornada deixa claro que ele faz apenas o mínimo para não morrer, talvez por não ter coragem de tirar sua própria vida ou, mais provavelmente, por conseguir enxergar uma pálida luz ao final do longo túnel sombrio que ele considera que sua vida é. Flashbacks são novamente utilizados para dar estofo ao passado de um personagem, como fora feito com Strand, ainda que o que é revelado sobre Nick seja muito menos interessante do que o que vimos em relação a Strand. Pelo menos o episódio só volta ao passado três curtas vezes e a informação sobre seu depressivo e potencialmente suicida pai ganha eco e de certa forma explica – mas não justifica – sua forma de encarar a vida.

Sempre apreciei episódios dessa natureza, que saem do lugar-comum para aprofundarem-se em determinada situação bem específica ou, melhor ainda, em algum personagem. E Nick, ao lado de Strand, por mais que a série tenha se perdido, consistentemente mostraram-se como os dois mais interessantes personagens em meio a vários completamente genéricos. Com isso, o passo vagaroso de Grostesque é perfeitamente aceitável, já que o estamos testemunhando é a transformação de Nick em um morto-vivo ou, talvez mais apropriadamente, o encontro de Nick com o que ele é na verdade.

Claro que Barnow não poderia ir às vias de fato e eliminar Nick da narrativa. Por isso, o roteiro acaba se valendo de artifícios mais do que batidos para contornar a questão: um grupo de good guys segue e salva Nick, levando-o para um pequeno “paraíso na Terra”. Confesso que bocejei com a preguiça do texto de Barnow nesse ponto. Novamente uma idílica cidade cercada, com crianças brincando e adultos vivendo uma vida próxima da normal? E aquela expressão de felicidade no rosto de Nick com direito a uma bola de futebol rolando até seus pés? E isso depois de uma sequência em que ele, moribundo, tem seus pecados lavados pela chuva… Clichês, clichês e mais clichês.

Mas Sackheim compensa muita coisa de capenga no roteiro com uma direção competente, fazendo uso eficiente de planos gerais opressivos opostos à planos médios e close-ups perturbadores, notadamente na sequência em que o “grupo de zumbis” de Nick começa a ser fuzilado pela gangue local de valentões. A tensão criada é palpável e Dillane realmente mostra a que veio nesse momento, com uma decupagem que dá a impressão de estarmos vendo um líder entre os zumbis, quase um “messias” do grotesco.

Resta saber se Erickson conseguirá agregar valor às aventuras do restante do grupo. Se Strand, Madison e Travis conseguirão voltar ao iate e o que farão no mar, já que o que fizeram até agora ficou muito aquém do potencial dessa linha narrativa. Apenas espero que as duas histórias sejam mantidas separadas por um bom tempo ainda, o que permitiria que a série apostasse em fórmulas diferentes e finalmente, assim como Nick, se encontrasse.

Afinal, Fear the Walking Dead ainda está longe de poder ser considerada realmente interessante. Por enquanto, o que vejo são lampejos criativos em meio a um mar de mesmice e desgoverno. Mas há mais oito episódios pela frente para que o rumo seja corrigido. Se Erickson não conseguir até lá, melhor então ficar só com a série original

Fear the Walking Dead – 2X08: Grotesque (EUA, 21 de agosto de 2016)
Criação: Robert Kirkman, Dave Erickson
Showrunner: Dave Erickson
Direção: Daniel Sackheim
Roteiro: Kate Barnow
Elenco: Kim Dickens, Cliff Curtis, Frank Dillane, Alycia Debnam-Carey, Mercedes Mason, Lorenzo James Henrie, Paul Calderon,  Lexi Johnson, Moisses Arath Leyva, Jorge Bustamante,  Heidi García,  Lyn Alica Henderson,  Alfredo Herrera
Produtora: AMC
Disponibilização da série no Brasil (na data de publicação da presente crítica: Canal AMC
Duração: 44 min.


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