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Crítica | Fear the Walking Dead – 2X09: Los Muertos

por Ritter Fan
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estrelas 2,5

Obs: Há spoilers. Leia  a crítica de todos os episódios da série, aqui.

Grotesque foi um interessante episódio de volta de temporada focado exclusivamente em Nick e seu “desejo de morte” que acaba com o rapaz encontrando mais uma comunidade murada e um pouco de paz de espírito. Era de esperar, porém, que logo a série procurasse abordar os demais grupos resultantes do incêndio na fazenda de Celia e é exatamente isso que acontece em Los Muertos, porém não da maneira mais óbvia.

Para começar, Travis e Chris ainda estão desaparecidos. Além disso Nick continua sendo o grande foco do episódio, o que foi uma grata surpresa. Mas Strand, Madison, Alicia e Ofelia aparecem como mais ou menos esperado e, portanto, começarei a análise por eles.

Fear the Walking Dead, desde o momento que mostrou, ainda na temporada passada, que o grande plano de Daniel para libertar Nick e sua esposa do hospital-prisão militar era soltar centenas de zumbis presos em um estádio e, como o flautista de Hamelin, usá-los como “distração”, perdeu completamente sua credibilidade comigo. E, a partir da 2ª temporada, a sucessão de burradas por parte de todos do elenco começou gradativamente a transformar a série em um pastiche. Digo isso, pois a situação do grupo de Strand enquadra-se perfeitamente neste conceito.

Afinal, depois de passarem dois dias procurando Nick, Travis e Chris, o quarteto finalmente decide voltar para a Abigail que, para surpresa de absolutamente ninguém (só deles), não está mais lá onde deveria estar. Frustrados, as inteligências raras decidem abrigar-se em um hotel enorme, pois hotéis, especialmente os que são tipo resort como o que eles acham, têm pouca gente e, portanto, baixo potencial de se encontrar mortos-vivos… E, dito e feito, o hotel está vazio (ha, ha, ha…), como comprova a campainha do balcão de check-in que Strand insistentemente toca. Findo esse momento meigo, o já pequeno grupo se divide em dois, com as jovens Alicia e Ofelia decidindo fazer uma varredura completa nos quartos (porque elas são experientes nesse tipo de tarefa e separar o grupo é algo prático e inteligente de se fazer em uma hora dessas) e os adultos(???) Strand e Madison resolvem se embebedar no bar, prática usual em apocalipses zumbis quando é pouco necessário manter-se alerta o tempo todo.

Mas calma, pois, assim como no caso das meias Vivarina e das facas Ginsu, TEM MAIS! Enquanto Alicia decide tomar banho calmamente (porque ficar fedida em meio aos mortos é impensável, não é mesmo?), Ofelia some, Madison começa a arremessar copos na parede e Strand, o suprassumo da genialidade, decide tocar piano…

Quando eu já estava passando mal de tanto rir, os zumbis começaram a se jogar pelas sacadas, criando, então, o único momento realmente interessante desta parte do episódio. Como antes Alicia e Ofelia haviam visto um homem que se matara no chuveiro sem saber que se transformaria em desmorto e Ofelia demonstrou-se completamente sem esperanças, ver os corpos caindo logo me fizeram parar de gargalhar e entrar no clima pesado que o roteiro de Alan Page tentou criar, mas falhou fragorosamente até aquele momento (e não consegui deixar de conectar essa sequência com as imagens das pessoas se jogando do World Trade Center, depois do ataque terrorista de 2001). Mesmo com um CGI capenga, o objetivo foi alcançado, deixando um cliffhanger desnecessário (por ser muito cedo), mas interessante, com a bancada quadrada do bar servindo de mureta protetora entre os bêbados e os mortos, em uma bem coreografada e bem fotografada sequência. Aposto que, se os dois saírem vivos dessa confusão (duvido que não saiam), comemorarão tomando um porre…

Gente, sei que meu “modo sarcasmo” estava ligado em nível 11 durante a redação dos parágrafos anteriores, mas é que não resisti. A sucessão de decisões ilógicas que essa turma toma episódio atrás de episódio realmente me tira do sério. Mas o mais chato é que é perfeitamente possível ver o que Chris Erickson, o showrunner, está tentando fazer: criar empatia do público em relação aos seus personagens. Creio que ele já tenha conseguido a duras penas no caso de Nick, mas falta muito em relação aos demais, talvez com exceção de Strand. Aliás, a conversa pré-piano entre ele e Madison é eficiente em quebrar o gelo dela, deixando em destaque um lado mais humano da personagem e abrindo espaço para Kim Dickens mostrar que sabe fazer mais do que ficar de cara amarrada gritando “Nick” para cá, “Alicia” para lá e “Travis” acolá. Teria sido muito melhor, porém, que este grupo tivesse recebido o tratamento que Nick recebeu em Grotesque, com um episódio só para eles de modo que a calmaria pudesse ser estendida e os acontecimentos tensos ao final fossem mais bem construídos. Do jeito que ficou, até mesmo Strand começa a apagar-se, o que pode ser a morte da temporada.

No lado de Nick, a revelação de que, aparentemente, o farmacêutico Alejandro é imune à praga e que, por isso, ele tornou-se uma espécie de messias para o grupo de desesperados que vive na comunidade, é no mínimo estranha se for verdadeira. Pode ser mentira (falso profeta!), pode haver uma explicação médica (um corte preciso logo após a mordida) ou pode não ser nada (repararam como ele esconde a cicatriz?). Mas se isso realmente tiver acontecido, será a primeira vez dentro da mitologia de The Walking Dead e, portanto, não saberia exatamente como equalizar essa situação com todo o resto. É esperar para ver.

Mas aqui, como no grupo de Strand, as decisões imbecis também prosperam. A primeira delas é o jogo que Nick faz com os bandoleiros locais em troca de mais água e de um bolinho para a menina que perdera o pai. Tudo pode ser explicado pelo ânimo suicida do rapaz, mas confesso que cada vez mais me desagrada esse enfoque, por ser simplista demais. Por outro lado, não consigo ainda ver em Nick alguém esperto o suficiente para conseguir fazer o que ele faz sem maiores consequências (e aquela historinha de que a gangue nunca seguiu Luciana está muito mal contada…). E isso me leva ao segundo problema. Mesmo considerando que a série agora se passa no México, país profundamente católico, esta é a segunda vez que uma espécie de culto aos muertos aparece. Tivemos Celia e sua adega-prisão e, agora, temos Alejandro e seu “muro”. Haja estereótipos.

Em ambos os casos, os mortos são “protegidos” e, mais estranho ainda, em ambos os casos Nick parece enamorar-se com a lenga-lenga vomitada pelos pregadores. Ou seja, o rapaz que se mostra tão esperto em determinados momentos é, ainda, em seu âmago, um dependente de drogas, pouco importando a forma que ela se apresente: pílulas, injeções ou palavras. Mas deixe-me qualificar a crítica. A questão não é exatamente Nick cair nas conversas, mas sim a velocidade com que isso acontece, o que novamente poderia ser evitado com outro episódio dedicado só a ele que se protraísse no tempo.

A 2ª temporada de Fear the Walking Dead que, conforme prometeram, se passaria na água, está bem fixa em terra firme, o que apenas a coloca em posição mais frágil em comparação com a série mãe. E, mesmo se assim não fosse, a repetição temática nos poucos episódios que ela teve até agora chega a ser desconcertante, ainda que, entre uma bobagem e outra, haja momentos realmente bem pensados. O grande problema é que isso não basta. Nem de longe, na verdade…

Fear the Walking Dead – 2X09: Los Muertos (EUA, 28 de agosto de 2016)
Criação: Robert Kirkman, Dave Erickson
Showrunner: Dave Erickson
Direção: Deborah Chow
Roteiro: Alan Page
Elenco: Kim Dickens, Cliff Curtis, Frank Dillane, Alycia Debnam-Carey, Mercedes Mason, Lorenzo James Henrie, Paul Calderon,  Lexi Johnson, Moisses Arath Leyva, Jorge Bustamante,  Heidi García,  Lyn Alica Henderson,  Alfredo Herrera
Produtora: AMC
Disponibilização da série no Brasil (na data de publicação da presente crítica: Canal AMC
Duração: 44 min.

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